Projeto ganhou robustez e alcance global graças ao apoio institucional da Delegação Brasileira junto à Unesco e do Ministério das Relações Exteriores

O lançamento do Atlas do Patrimônio Latino-Americano, produzido por 38 pesquisadores de 13 países, marca um momento histórico para o campo da preservação cultural no Sul Global. Publicado inicialmente em espanhol e apresentado na Unesco, em Paris, o material reúne 29 verbetes que propõem uma leitura crítica, diversa e georreferenciada dos patrimônios da América Latina. O projeto contou com coordenação do professor do Departamento de História da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), Rodrigo Christofoletti, e de Yoselin Rodríguez.

Para Christofoletti, trata-se da primeira iniciativa de fôlego internacional, construída essencialmente a partir da perspectiva latino-americana, “de exprimir concepções de patrimônio que não sejam estereotipadas ou europeizadas”. Ainda segundo o professor, o Atlas funciona como um instrumento valioso para compreender como os pesquisadores da área enxergam a região no cenário mundial.

Ainda que estabeleça uma crítica à preservação historicamente marcada por referências europeias, o material dialoga com boas práticas consolidadas em outras partes do mundo. “Os 29 verbetes dão uma boa amostragem da diversidade e amplitude dos temas e são faróis para novas pesquisas em termos regionais, colocando a América Latina no centro das decisões de salvaguarda e da autopercepção do próprio patrimônio.”

Cinco eixos para uma cartografia crítica

A publicação se estrutura em cinco entradas temáticas: memórias e monumentos; identidades em movimento; espaços e paisagens; desafios contemporâneos; e redes de cooperação patrimonial. Para Christofoletti, essas categorias “cartografam mais que uma percepção crítica praticada regionalmente, estabelecem a compreensão de que a América Latina não é mais a franja do mundo capitalista que apenas recebe de fora as demandas e soluções”. Ao valorizarem perspectivas locais e alinhadas a debates decoloniais, os eixos permitem também uso novas metodologias e conceitos.

Além das reflexões, a obra disponibiliza centenas de patrimônios inventariados e georreferenciados, agora acessíveis ao público.“A premissa básica do Atlas — ‘o Sul é nosso Norte’ — potencializa a ideia de que ainda há muito por fazer, mas a região está ciente de seu compromisso histórico com o Sul Global”, explica o professor. 

Apoio da Delegação Brasileira junto à Unesco

O projeto ganhou robustez e alcance global graças ao apoio institucional da Delegação Brasileira junto à Unesco e do Ministério das Relações Exteriores. Segundo Christofoletti, “o convite da delegação brasileira foi significativo porque coroou uma parceria intelectual e institucional”. A coordenação do Atlas foi dividida com a pesquisadora peruana Yoselin Rodríguez, fortalecendo a articulação regional. “Hoje, símbolo dos países em desenvolvimento, a delegação brasileira lidera discussões fundamentais na Unesco e visibiliza boas práticas de preservação em nível local, regional e mundial.” 

Lançamento em Paris e perspectivas futuras

O lançamento do Atlas ocorreu no dia 3 de dezembro, no salão IX do edifício Fontenoy, sede central da Unesco em Paris, diante de um auditório lotado. Delegações de países latino-americanos e caribenhos acompanharam a apresentação, que foi percebida como um marco para o avanço das políticas regionais de preservação.

Christofoletti relata que o evento simbolizou um momento de grande visibilidade para a UFJF. “Fazer parte da Universidade e levar seu nome para uma das entidades multilaterais mais importantes do planeta é motivo de alegria e realização”, afirma.

Entre as expectativas futuras, destaca-se a publicação das versões em português e inglês no primeiro semestre de 2025. A equipe também planeja ampliar o escopo da obra. “O Atlas não é uma publicação fechada e datada, e sim um organismo vivo, que precisa ser revisado de tempos em tempos”, explica. Para ele, mais do que mapear e georreferenciar o patrimônio latino-americano, o projeto evidencia “o protagonismo do Brasil no certame internacional da preservação cultural”.

Acesse aqui o Atlas

Outras informações: rodrigo.christofoletti@ufjf.br