
“Fazemos o possível para acolhê-los e garantir que se sintam confortáveis, tranquilos e relaxados para realizarem a prova à noite”, diz a coordenadora do setor de aplicação das provas aos sabatistas, Daniele Macedo (Foto: Maria Julia Castro)
Em meio aos 46 mil candidatos do Programa de Ingresso Seletivo Misto (Pism), um grupo específico de 91 candidatos espera, pelo menos, até às 18h30 para começar as provas. Confinados desde às 13h, na Faculdade de Letras, no campus, eles só realizam as provas após o pôr do sol.
Por motivos religiosos, os sabatistas guardam o sábado como dia de descanso e também praticam seus cultos. Entre os grupos mais conhecidos estão os adventistas do sétimo dia, mas há outras tradições religiosas que seguem o mesmo rito. Com a aplicação da prova do Pism realizada sempre aos sábados e domingos, os estudantes precisam cumprir suas obrigações estudantis sem ferir suas convicções religiosas.
A possibilidade de realizar provas em datas e horários alternativos é garantida por lei. A legislação, que altera a Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB), prevê aos estudantes sabatistas o direito de realizar provas e atividades escolares em horários alternativos, desde que seja comprovada sua condição e a instituição de ensino ofereça a possibilidade, de forma a garantir a liberdade religiosa e igualdade de oportunidades.
O conteúdo e o nível de exigência das provas são os mesmos para todos os candidatos. Todo o processo obedece a normas específicas para assegurar a equidade entre os alunos, preservando tanto os direitos individuais quanto a integridade acadêmica. O tempo de prova também é o mesmo, de quatro horas. No domingo esses candidatos realizam as provas no mesmo horário de todos os inscritos no processo, entre 13h30 e 17h30.
Sonhos

Os irmãos Josué Araújo e Vitória Araújo, de 18 e 19 anos, respectivamente, vieram de Lima Duarte para o Pism (Foto: Maria Julia Castro)
Os irmãos Josué Araújo e Vitória Araújo, de 18 e 19 anos, respectivamente, vieram de Lima Duarte para realizar a prova do Pism. Ambos são de escola pública e contam sobre os desafios para o preparo do Pism ao longo do ano. Vitória relata que a UFJF proporciona muitas experiências e oportunidades e enxerga no Pism a chance de alcançar o sonho de estudar em umas das melhores universidades do país.
“Tenho a intenção de estudar Medicina e escolhi essa área porque me identifico com o ato de cuidar dos outros, demonstrando afeto e atenção. Vou prestar o Pism 3 e me dediquei muito aos estudos, buscando manter o foco ao máximo. Esse processo, de certa forma, nos prepara bem para enfrentar a vida acadêmica.”
A preparação para passar um dia inteiro na UFJF durante o processo seletivo, envolve boa alimentação, hidratação e descanso. Para Josué, que está realizando o módulo II e pretende cursar Ciências da Computação, a UFJF é uma instituição de qualidade e o Pism é um processo desafiador, porém, uma oportunidade de poder alcançar os seus objetivos.

Para a mãe de Daniel, inscrito no Pism I, os estudos sempre foram tratados de forma prioritária em casa (Foto: Maria Julia Castro)
O estudante Daniel Bertolino, de 16 anos, veio de Carandaí acompanhado da mãe Érica Bertolino. O jovem alega estar ansioso para a prova, já que é a primeira vez em que ele participa do processo seletivo. “Ainda não decidi qual curso quero fazer aqui na UFJF, mas pretendo seguir na área da saúde. Pelo fato de ser um processo seriado, isso nos dá mais uma oportunidade de entrar aqui na Federal. Acredito que o Pism é fundamental para todos nós, e todos têm o direito de ingressar e obter um ensino de qualidade para, em seguida, prosseguir na profissão que desejam.”
Para a mãe de Daniel, que é professora do ensino médio, os estudos sempre foram tratados de forma prioritária em casa. Para ela, o conhecimento abre portas e oportunidades para o futuro e a educação faz parte de um processo transformador que impulsiona a sociedade para um mundo melhor.
“Sempre incentivamos e priorizamos tudo o que podemos oferecer aos nossos filhos e isso vai além de bens materiais e, mesmo que não tenhamos nada, o que podemos oferecer de maior valor é o conhecimento. Nós os encorajamos e ensinamos e isso ninguém pode tirar da gente. Eu acredito que ele estando aqui, terá um ensino de alta qualidade.”
Política de acolhimento
Para a coordenadora do setor de aplicação das provas aos sabatistas, Daniele Macedo, a UFJF possui uma política de acolhimento e de valorização da diversidade. A oferta de uma prova específica para os sabatistas é o primeiro passo para mostrar ao aluno que a universidade possui o interesse nesse estudante, independentemente da crença religiosa.
“Buscamos criar um ambiente o mais acolhedor possível, permitindo que eles tragam alimentos, já que ficam conosco por muitas horas. Alguns até trazem itens para dormir, como travesseiro e cobertor, e respeitamos muito isso. Fazemos o possível para acolhê-los e garantir que se sintam confortáveis, tranquilos e relaxados para realizarem a prova à noite.”
