Victor se preparando para arremessar o disco e ver seu nome no segundo lugar do pódio. (Foto: divulgação/Jimip)

Um estudante do curso de Educação Física do campus da Universidade Federal de Juiz de Fora em Governador Valadares (UFJF-GV) subiu ao pódio duas vezes nos Jogos do Interior de Minas Paradesporto (Jimip), realizado de 31 de outubro a 2 de novembro em Uberlândia. Victor Coelho Barbosa conquistou o segundo lugar no arremesso de disco e a terceira posição nos 400 metros rasos.

Com Transtorno do Espectro Autista (TEA), o jovem de 21 anos sempre se dedicou aos esportes e, mesmo antes de ingressar na UFJF-GV, em novembro do ano passado, já colecionava bons resultados. No final de 2024, por exemplo, conquistou o quinto lugar na prova de 1500 metros do Jimip.

Famoso por um dia: Victor dá entrevista sobre as suas conquistas na competição. (Foto: divulgação)

Mas apesar dessa experiência esportiva ser anterior à entrada na universidade, Victor não tem dúvidas da importância da UFJF na sua trajetória. “A faculdade ajuda bastante, principalmente as professoras Silvana e Simara, que sempre me apoiaram e me ajudaram. Através das aulas eu pude aprender mais e colocar o que aprendo em prática, tanto na vida de atleta como na de futuro professor”, explica o estudante, que já tem auxiliado outras pessoas com deficiência nos esportes.

Para Simara Regina de Oliveira Ribeiro, professora de Victor no curso de Educação Física, as medalhas obtidas por ele nos jogos “representam muito mais do que resultados esportivos, simbolizam superação, inclusão e o poder transformador do esporte e da convivência acadêmica”. E complementa:

“Seu percurso evidencia que os processos inclusivos são benéficos para todos” – Simara Regina

“Seu percurso evidencia que os processos inclusivos são benéficos para todos: para ele, que encontra na universidade um espaço de pertencimento, aprendizado e autonomia; e para os colegas, que convivem com as diferenças, as naturalizam e aprendem com e através delas. A trajetória do Victor reforça o compromisso do curso com a valorização da diversidade humana e inspira uma formação mais empática, plural e comprometida com a inclusão”, enfatiza Simara.

“Essa vivência fortalece a formação acadêmica ao integrar teoria e prática em um contexto real, ampliando o olhar dos futuros profissionais sobre inclusão e acessibilidade no esporte” – Silvana Lahr

Outra incentivadora de Victor, a também docente do Departamento de Educação Física Silvana Nogueira Lahr enfatiza a relevância das experiências do aluno para a aproximação da universidade com o esporte paralímpico. “Para o curso, essa vivência fortalece a formação acadêmica ao integrar teoria e prática em um contexto real, ampliando o olhar dos futuros profissionais sobre inclusão e acessibilidade no esporte. Para a UFJF-GV, trata-se de uma oportunidade de reafirmar seu compromisso com a educação transformadora, com a valorização do esporte como instrumento de inclusão social e com a formação de cidadãos e profissionais com competência técnica e, ao mesmo tempo, humanizada. Mesmo com anos de prática e participação em outras competições, a experiência de viver esse momento como aluno do curso de Educação Física muda tudo, e sua forma de enxergar o esporte nunca mais será a mesma”, explica.

Maurício treina Victor há três anos e vê evolução no desempenho do atleta. (Foto: arquivo pessoal)

Quem também tem um papel importante na trajetória de Victor é o seu treinador, Maurício Soares de Souza. Há pelo menos três anos preparando o atleta, o servidor do município de Governador Valadares destaca o amadurecimento do jovem. “Evoluiu, amadureceu e está aprendendo a ter uma melhor percepção das coisas. As duas medalhas vieram premiar a disciplina, o esforço e os treinos árduos que ele participava, às vezes, querendo desistir, outras focadas em ganhar uma medalha. Para mim, cada conquista dos meus atletas é uma conquista minha, pois só quem está com eles no dia a dia vê a superação e a determinação de cada um”, detalha.

E não é só no campo profissional e na vida de atleta que a universidade tem sido decisiva. A autoestima de Victor também melhorou desde que se tornou aluno do campus. “Eu era muito ‘travado’, ficava só na minha, com a cabeça baixa. Hoje, sou mais descontraído, e a faculdade tem me ajudado muito nisso e a enxergar outras realidades. Antes, eu não brincava, e hoje brinco muito”, relembra.

“Depois que comecei a ser acompanhado pelo NAI, as coisas melhoraram bastante e me alavancou nos estudos e na vida de atleta” – Victor Coelho

Apesar de adaptado ao ambiente acadêmico, Victor conta que o início na UFJF-GV não foi fácil, e que o Núcleo de Apoio à Inclusão (NAI) foi importante para a sua permanência no curso. “No começo, eu queria desistir, mas depois que comecei a ser acompanhado pelo NAI, as coisas melhoraram bastante e me alavancou, tanto nos estudos quanto na vida de atleta”, afirma o estudante.

Victor também já foi goleiro no time de handebol da atlética de Educação Física, atuando ao lado de jogadores típicos. (Foto: arquivo pessoal)

Sobre o futuro profissional, Victor tem os planos muito bem delineados. “Ajudar as pessoas, sempre. Trabalhar com pessoas com PCD [sigla para pessoas com deficiência] é o que mais quero e transforma-las em atletas, e com atletas paralímpicos de elite e me tornar também um atleta de elite”. Com esse histórico de campeão, alguém têm dúvidas de que ele vai chegar lá?