
Patrícia Elaine de Almeida coordena na UFJF a pesquisa para desenvolvimento de tratamento para doenças inflamatórias. (Foto: Twin Alvarenga)
Pesquisadores da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) participam de estudo inovador no tratamento de doenças inflamatórias severas, como Covid-19 e sepse. Enquanto o grupo liderado pelo Prof. Jose Raimundo Correa e Breno Amaro Neto, ambos da UnB, tem destaque na síntese e no desenvolvimento de compostos bioativos, a UFJF é referência nos estudos de biologia celular. O estudo apresentou resultados considerados promissores pela comunidade científica.
Sob a coordenação na UFJF da pesquisadora do Laboratório de Biologia Celular (LBC/UFJF) Patrícia Elaine de Almeida, o estudo foca em duas moléculas sintéticas da classe das hexahidroimidazopiridinas, derivadas das imidazopiridinas – estruturas moleculares que dão nome a um grupo de fármacos de múltiplas aplicações que atuam no sistema nervoso central. As moléculas mostraram, em testes, a capacidade de controlar reações inflamatórias exageradas. Os experimentos foram feitos tanto em modelos celulares, quanto em modelos animais para simular uma inflamação extrema.
Nos resultados iniciais alguns camundongos tratados com essas moléculas sobreviveram em taxas muito maiores do que os grupos de controle que não receberam o composto. Por exemplo, uma das moléculas (classificadas como 4B e 4J) permitiu 100% de sobrevivência em um experimento específico, enquanto os animais sem tratamento não sobreviveram mais de seis dias. Além disso, as moléculas atuaram reduzindo danos em tecidos e modulando mediadores químicos da inflamação, as citocinas (TNF-α e IL-6), que são normalmente excessivas em infecções graves.
O funcionamento dessas moléculas envolve duas frentes. Em uma delas, acontece a inibição ou modulação de citocinas, que disparam a resposta inflamatória intensa. Na outra, existe a interferência no metabolismo lipídico das células hospedeiras, ou seja, atua na maneira como as células lidam com lipídios que ajudam microrganismos a se instalarem ou a desencadearem uma inflamação.
De acordo com Patrícia Elaine, o laboratório da UFJF teve um papel fundamental no desenvolvimento do estudo. “Realizamos avaliações biológicas e funcionais de compostos derivados de imidazopiridinas, analisando como eles interferem no funcionamento das células imunológicas durante situações de inflamação. A pesquisa observa em especial o impacto o metabolismo lipídico e resposta inflamatória durante a infecção por SARS-CoV-2. Essa fase foi essencial para validar o potencial terapêutico das moléculas e compreender os mecanismos de ação dos compostos. O projeto contou com apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais (Fapemig), que viabilizou o avanço dos experimentos, por meio do edital APQ-01795-22 e da Fundação de Apoio à Pesquisa do Distrito Federal (FAP/DF).

Aluna de Iniciação Científica – bolsista Pibic/Fapemig – Laiza Camila Mateus faz parte do grupo de pesquisa. (Foto: Twin Alvarenga)
A colaboração nasceu da convergência de interesses científicos entre os grupos de pesquisa. Enquanto a UnB tem destaque na síntese e no desenvolvimento de compostos bioativos, a UFJF é referência nos estudos de biologia celular, resposta inflamatória e imunometabolismo. A união dessas expertises permitiu que a pesquisa avançasse de forma complementar. De acordo com a professora Patrícia, a parceria foi construída de maneira integrada, favorecendo um trabalho interdisciplinar, completo, produtivo e enriquecedor.
Para a professora da UFJF, os resultados apontam para um futuro animador. “Para a comunidade em geral, essa pesquisa representa uma contribuição promissora no desenvolvimento de novas estratégias terapêuticas para o controle de doenças inflamatórias graves, como Covid-19 e sepse, que ainda representam grandes desafios clínicos e não apresentam terapias específicas para seu tratamento. Já para o meio acadêmico, o trabalho consolida uma rede colaborativa entre instituições brasileiras, fortalece a formação de novos pesquisadores e estimula a integração entre diferentes áreas de pesquisa. Além disso, reforça o papel da ciência nacional na geração de conhecimento e inovação voltados à saúde pública”, reforça.
A bolsista de Iniciação Científica Laiza Camila Oliveira, estudante da Faculdade de Farmácia na UFJF, participa diretamente da execução dos experimentos e do planejamento do estudo, atuando no desenvolvimento dos processos necessários para o andamento da pesquisa. “Participar do projeto é um privilégio imenso. Ver algo com tanto potencial acontecendo e poder contribuir diretamente no processo é muito significativo e enriquecedor” , afirma a estudante. Segundo a Laiza, pesquisas como essa são fundamentais para o avanço científico. “Além de abrir possibilidades para a criação de novas terapias, eles mostram o quanto podemos alcançar quando temos oportunidades e apoio à pesquisa”, conclui.
