Carlos Fico, professor da UFRJ, citou exemplos históricos de anistias concedidas a golpistas desde o início do século XX (Foto: Maria Thereza Lopes)

O Programa de Pós-Graduação em História da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) realizou, na terça-feira (7), a aula inaugural do segundo semestre de 2025. O encontro contou com a presença do historiador e professor titular da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Carlos Fico, que ministrou a palestra “Golpismo e impunidade no Brasil republicano”, no auditório I do Instituto de Ciências Humanas (ICH).

Reconhecido como um dos principais pesquisadores da história política brasileira, Fico é autor de vasta produção acadêmica sobre ditaduras militares, rebeliões populares e historiografia nacional. Durante o evento, ele destacou a relevância de compreender a permanência do golpismo como traço recorrente da vida republicana brasileira. “A história do golpismo e da impunidade não está resolvida ainda. É uma questão política que fica para as novas gerações enfrentarem, porque o Brasil ainda não tem a proeminência do poder civil, marca essencial das democracias”, afirmou.

Um dos principais pesquisadores da história política brasileira, Fico é autor de vasta produção acadêmica sobre ditaduras militares, rebeliões populares e historiografia nacional (Foto: Maria Thereza Lopes)

O professor também ressaltou a importância de manter viva a memória sobre as tentativas de ruptura institucional. “No Brasil, temos a mania de esquecer e abrandar os episódios de violência, intervencionismo e golpismo. Enquanto houver impunidade para esses crimes, os militares poderão voltar a ter ativismo político, sobretudo em contextos de governos de direita ou extrema direita.”

Em sua fala, Fico citou exemplos históricos de anistias concedidas a golpistas desde o início do século XX, como as de 1905, 1922 e 1924, além de episódios durante o governo de Juscelino Kubitschek. O pesquisador refletiu ainda sobre seu livro mais recente, “Utopia Autoritária Brasileira” (Editora Crítica, 2025), cuja análise sobre a relação entre militares e democracia no Brasil inspirou o voto da ministra Cármen Lúcia no julgamento da tentativa de golpe de 8 de janeiro de 2023. “Quando definimos um tema a partir de uma questão teórica, ele se torna muito mais impactante. Essa tese buscou justamente mesclar conceitos de ideologia e imaginário em um período de disputas entre a nova história e o marxismo”, explicou.

Para o professor Martinho Alves da Costa Junior, coordenador do Programa de Pós-Graduação em História da UFJF, a presença de Carlos Fico reforça o compromisso da Universidade em promover o debate público e científico. “O objetivo maior do convite foi trazer uma figura central nos estudos sobre ditaduras e revoltas populares. O livro mais recente dele ganhou destaque nacional, e esse diálogo é fundamental para refletirmos sobre a democracia e o papel das instituições.”

Martinho também ressaltou o caráter formativo da aula inaugural. “Em tempos de polarização e efervescência política, o único caminho saudável é o debate. A palestra do professor Fico cumpre esse papel de fomentar reflexões críticas dentro e fora da comunidade acadêmica.” O evento marcou também a comemoração dos 20 anos do PPG em História da UFJF.