Um estudo do campus Governador Valadares da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF-GV) buscou analisar os desafios e as possibilidades na inclusão educacional de pessoas com deficiência no município e no Brasil.

Desenvolvido pela professora Carolina Rodrigues Corrêa Ferreira, do Departamento de Ciências Econômicas da UFJF-GV, por Janaina de Carvalho Oliveira, bacharel em Fisioterapia pela UFJF-GV, e por Alcilene Gomes Pereira, graduanda do curso de Ciências Econômicas da mesma instituição, a pesquisa baseou-se nos dados mais recentes do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep).

Os resultados destacam que a falta de capacitação de professores, o baixo número de alunos com atendimento especializado e a insuficiência de profissionais de apoio são problemas críticos comuns tanto à realidade local quanto à nacional. “A inclusão efetiva não pode ser reduzida à simples presença do aluno com deficiência na escola. É necessário que haja adaptações para que o aprendizado seja concreto, e isso demanda capacitação dos profissionais envolvidos, infraestrutura adequada e uma mudança de atitude na sociedade. O capacitismo é uma grande barreira para o desenvolvimento e a independência das pessoas com deficiência”, afirmou a professora Carolina.

Os dados compilados pela pesquisa mostram que mais de 90% dos professores no Brasil e em Governador Valadares não possuem formação específica em educação inclusiva. Esse déficit de capacitação repete-se entre os profissionais de apoio especializado, entre os quais 63,6% dos entrevistados no município também não têm formação na área.

Outro ponto crítico é a alta média de alunos com deficiência por profissional. Enquanto a literatura especializada recomenda médias inferiores a cinco – e de um para um (1:1) em casos de múltiplas deficiências ou deficiência intelectual –, a realidade nacional apresenta uma média alarmante de 13 alunos por profissional. Governador Valadares apresenta um cenário ligeiramente melhor, com 5 alunos por profissional, porém insuficiente para um atendimento adequado.

A pesquisa também chama a atenção para a significativa proporção de escolas sem itens de acessibilidade – 24,9% nacionalmente. Em Valadares, esse percentual é menor (12,9%), mas ainda assim indica que uma parcela das instituições de ensino não possui a infraestrutura mínima para garantir o acesso e a mobilidade de todos os estudantes.

Outro dado que chamou a atenção das pesquisadoras é a concentração de matrículas de estudantes com deficiência nos anos iniciais (creche e ensino fundamental), padrão que, em tese, sinaliza uma dificuldade de continuidade dos estudos.

Diante desse panorama, a pesquisa compila recomendações consolidadas na literatura para promover uma educação inclusiva efetiva. “As principais recomendações passam pela formação continuada dos profissionais, a contratação de pessoal em número adequado, a adaptação curricular individualizada, a forte interação família-escola e campanhas de conscientização para eliminar o capacitismo”, destaca a professora Carolina Ferreira.

O estudo conclui que “somente com ações coordenadas e sustentáveis será possível garantir que a educação inclusiva no Brasil transcenda o discurso legal e se torne uma prática cotidiana, capaz de transformar vidas e reduzir as disparidades históricas enfrentadas por pessoas com deficiência”.

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