Um trabalho acadêmico desenvolvido no âmbito das disciplinas de Filosofia e Antropologia, do curso de Direito do campus Governador Valadares da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF-GV), resultou na produção de um podcast dividido em dois episódios que abordam temas urgentes: o epistemicídio e o apagamento de saberes tradicionais, com ênfase na resistência quilombola.
De acordo com o professor Helrison Costa, foi utilizada a metodologia de sala de aula invertida para incentivar a produção de conhecimento a partir de perspectivas históricas marginalizadas. “Os estudantes foram provocados a pensarem em contribuições para combater o negacionismo científico e tornar possível o reconhecimento de vozes e saberes de grupos historicamente marginalizados. A partir daí, este grupo de estudantes identificou como o epistemicídio se manifesta na perspectiva quilombola”.
O primeiro episódio do podcast se dedica a investigar o que os próprios estudantes universitários compreendem sobre conceitos como epistemicídio e negacionismo. Por meio de entrevistas, o episódio revela lacunas significativas na formação superior, especialmente no que diz respeito ao conhecimento sobre quilombos, ancestralidade negra e resistência.
De acordo com a estudante Amanda Souza Andrade, uma das autoras do trabalho, as falas dos estudantes entrevistados “evidenciam a persistência do apagamento epistêmico nas instituições de ensino e levantam reflexões sobre a hierarquização dos saberes”.
No segundo episódio o podcast “Raízes e Vozes Quilombolas” aprofunda a discussão a partir da escuta de Maria Alves, do Quilombo Santa Cruz, em Ouro Verde de Minas. Maria também é presidente do Conselho Estadual de Assistência Social e compartilha sua experiência sobre o apagamento histórico e institucional vivido pelas comunidades quilombolas.
O depoimento de Maria Alves evidencia a força da identidade quilombola como ato de resistência, ancestralidade e pertencimento, ultrapassando os limites do território físico. Ela cita exemplos de apagamento epistêmico, como profissionais de saúde que ignoram práticas medicinais tradicionais e professores que desconsideram saberes ancestrais e a história oral, priorizando apenas o conhecimento acadêmico formal.
Maria reforça que a superação desse apagamento passa pelo reconhecimento e valorização dos saberes quilombolas, preservação das tradições culturais, participação efetiva nas decisões que afetam a comunidade e garantia de direitos fundamentais, como o acesso à terra. “Para ela, ser quilombola é motivo de orgulho e essa identidade pode ser vivida em qualquer lugar do mundo”, concluiu Amanda que realizou o trabalho ao lado dos colegas estudantes do 1º período de Direito Ana Maria Martins Lombarde, David Vitor de Oliveira Carvalho, Gabriela Martins de Oliveira, Geraldo Borba de Ávila Neto e Kauã Xavier Franco.

