Professor Odilon Caldeira Neto coordena grupo de pesquisa Observatório da Extrema Direita e projeto de extensão Topografia do Extremismo (Foto: UFJF)

Professor de História Contemporânea e professor do Programa de Pós-Graduação em História da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), Odilon Caldeira Neto é o 14º convidado do IdPesquisa, programa já disponível em todas as plataformas digitais da UFJF.

 Neste episódio, Neto fala sobre o Observatório da Extrema Direita (OED), grupo de pesquisa que se dedica a analisar governos, partidos e manifestações da direita radical e da extrema direita atual e histórica no Brasil e no mundo. Além de Neto, que coordena o OED no âmbito do Laboratório de História Política e Social (LAHPS), da UFJF, o corpo de coordenadores do grupo é formado por Davi Magalhães (PUC/SP), Isabela Kalil (FESPSP) e Guilherme Casarões (FGV-EAESP).

 No vídeo, o pesquisador da UFJF explica as duas grandes linhas de investigação do Observatório. A primeira é destinada a pensar o processo de transnacionalização da extrema direita, ou seja, onde, como, por quê e com quais argumentos a extrema direita ibero-americana encontra espaço para propagação. Já a segunda se dedica a pensar as culturas da extrema direita no que se refere aos símbolos, simbologias e ideologias, aos elementos fundacionais e discursivos desse campo político no Brasil e no mundo.

 “Que a extrema direita é uma realidade, isso ninguém duvida. Que a extrema-direita também estabelece uma realidade transnacional, poucas pessoas vão afirmar o contrário. Mas a gente está interessado também em entender quais são os dispositivos simbólicos, ideológicos, intelectuais, filosóficos e discursivos para essa realidade de integração e de produção local, regional, subnacional, transnacional e também global”, enfatiza.

Neto ressalta que a cultura da extrema direita no Brasil e no mundo não se limita à realidade dos partidos políticos, dos governos eleitos ou dos ataques às instituições democráticas em tentativas de golpe  – como nos atos de 8 de janeiro, em Brasília. Como exemplo, cita o cenário de ataques às escolas, que tem particularidades e integrações com o universo da extrema direita: “a existência dos atentados às escolas é a ponta final de um fenômeno de radicalização”, alerta.

Para entender as nuances desse fenômeno, o projeto de extensão Topografia do Extremismo se volta à montagem de um banco de dados sobre as simbologias utilizadas por subculturas da extrema direita – o que pode ser uma suástica, uma data, um símbolo ou um simples gestual com as mãos.

O projeto de extensão tem por objetivo reconhecer símbolos de ódio da extrema direita (Foto: UFJF)

“Quando a gente observa esses eventos de ataques às escolas, entende também que esses indivíduos passaram por um certo processo de letramento sobre o discurso de ódio. Aprenderam simbologias diversificadas e se formaram em torno da misoginia, do masculinismo, do racismo, do antissemitismo, da islamofobia, da homofobia, da transfobia e assim por diante”, esclarece.

Neste momento, o Topografia do Extremismo se dedica à capacitação das pessoas para fazê-las reconhecer os símbolos que podem até não parecer discurso de ódio, mas que têm significado de discurso de ódio. “Justamente para que o reconhecimento do símbolo de ódio não esteja apenas no ato final do atentado, mas sim nos momentos em que esses símbolos aparecem no cotidiano escolar, no cotidiano educacional e também no cotidiano online das redes sociais”, reforça o pesquisador.

 João Vitor Perrout Gomes Silva é aluno do curso de História da UFJF e desde 2023 contribui com o mapeamento e catalogação dos símbolos que compõem o banco de dados da pesquisa (Foto: arquivo pessoal)

 João Vitor Perrout Gomes Silva é aluno do curso de História da UFJF e desde 2023 contribui com o mapeamento e catalogação dos símbolos que compõem o banco de dados da pesquisa. Segundo ele, um de grande desconhecimento das pessoas que vale ser mencionado é o Sol Negro, insígnia de origem pagã germânica utilizada pelo exército nazista e amplamente disseminada nos dias de hoje por movimentos neonazistas do Brasil, Estados Unidos, Ucrânia e outras partes da Europa.

 “Uma das fases do projeto foi analisar grupos brasileiros de Telegram e o Sol Negro sempre estava presente, de diversas formas. Seja sozinho ou no lugar de uma auréola, simbolizando alguém admirável, destacável dentro do radicalismo”, alerta.

 Além dos símbolos nazistas clássicos, com estética de ângulos duros e retos, o professor Neto destaca representações discretas advindas de meme e emojis, como o copo de leite, o raio, e o sapo verde Pepe, símbolos de ódios que remetem ao supremacismo branco; e o número 88, que remete à saudação “Heil Hitler”.

 Além de assistir ao Id Pesquisa pelo canal do YouTube, você também pode ouvir o episódio pelo Spotify.