A reitora da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), Girlene Alves, e o diretor de Relações Internacionais, Alexandre Cadilhe, realizaram, em abril, uma missão institucional em Istambul, na Turquia, com o objetivo de fortalecer parcerias acadêmicas e ampliar as estratégias de internacionalização da UFJF. A agenda incluiu participação na Eurasia Higher Education Summit (Eurie) – um dos maiores fóruns acadêmicos euro-asiáticos -, visitas a universidades turcas e encontros diplomáticos.

Reitores e diretores brasileiros no Consulado do Brasil em Istanbul (Foto: DRI/UFJF)
A participação da UFJF se deu por meio do Grupo de Cooperação Internacional de Universidades Brasileiras (GCub), uma associação da sociedade civil, sem fins lucrativos, de caráter acadêmico, científico e cultural. A Instituição integrou uma delegação com outras 16 universidades do país. Esta é a segunda vez que o grupo participa do Eurie. “Queríamos olhar para os continentes europeu e asiático fora daquele eixo tradicional: França, Alemanha e Itália. Buscamos diálogo com outros países, novas possibilidades de cooperação real. A UFJF foi a única universidade da América Latina a apresentar uma experiência exitosa no campo das relações internacionais. O continente asiático demonstra um desejo e uma motivação muito fortes em cooperar com o Brasil. Isso ficou evidente”, destaca a reitora”, explica Girlene.
Segundo Cadilhe, a viagem teve três eixos principais: ter uma maior aproximação com outras instituições de ensino para a realização de parcerias, presença acadêmica no evento internacional e visitas técnicas a instituições de ensino superior da Turquia. “Eu já tinha clareza de que encontraríamos universidades, visitaríamos instituições e nos reuniríamos com a Embaixada Brasileira. E tudo isso se concretizou de maneira muito promissora.”
Relações com a Embaixada Brasileira
Durante a visita institucional à Turquia, a comitiva da UFJF foi recebida pelo consul-geral Ruy Amaral e sua equipe, incluindo o cônsul-adjunto, Gersinio dos Anjos Neto. A reunião foi especialmente relevante devido à participação da UFJF no Programa de Estudantes-Convênio de Graduação (PEC-G) e no Programa de Português como Língua Estrangeira (PEC-PLE), iniciativas do Ministério das Relações Exteriores e do Ministério da Educação (MEC).
A Turquia passou recentemente a integrar o grupo de países participantes desses programas, o que permite que estudantes turcos concorram a vagas em instituições brasileiras por meio dos editais oficiais. Durante a visita, a UFJF apresentou sua oferta de vagas tanto nos cursos de graduação quanto no curso de português para estrangeiros, com o objetivo de atrair estudantes turcos para sua comunidade acadêmica. “Esse movimento foi muito significativo e esperamos que em breve a gente possa acolher estudantes do contexto turco para estarem conosco nos cursos de graduação de Língua Portuguesa”, ressalta Cadilhe.
A reunião também foi marcada por um momento de reconexão histórica: o embaixador relembrou sua contribuição para a repatriação de obras do poeta Murilo Mendes, que estavam sob a guarda de instituições estrangeiras após sua morte. Graças à sua colaboração diplomática, parte desse acervo foi trazida de volta ao Brasil e hoje integra o Museu de Arte Murilo Mendes (Mamm), mantido pela UFJF. Como gesto de agradecimento, Girlene presenteou o embaixador com o catálogo mais recente do museu. “Ele se mostrou muito feliz ao saber que as obras estão hoje sob nossa responsabilidade e bem cuidadas no Mamm”, relata o diretor.
Além disso, a Embaixada Brasileira teve papel fundamental na participação da UFJF na Eurie. O órgão diplomático financiou o estande institucional da Universidade e articulou a inclusão de um painel exclusivo sobre o Brasil no evento. “Esse apoio foi essencial para darmos visibilidade à instituição em um espaço tão estratégico, representando as universidades brasileiras diante de instituições de ensino superior de todo o mundo”, avalia Girlene.

Delegação de Universidades Brasileiras na Eurasia Higler Education Summit (Foto: DRI/UFJF)
Redes de internacionalização
A participação da UFJF na Eurie também se destacou pelo intenso diálogo com instituições de ensino superior de diferentes países. Representando a Universidade, a comitiva participou de encontros com universidades da Turquia, Romênia, Índia, Paquistão, Bangladesh, Polônia e Estados Unidos — todas sem convênios prévios com a UFJF. As reuniões abriram espaço para futuras parcerias focadas em mobilidade acadêmica e intercâmbio de pesquisadores.
Durante os encontros, foram discutidas possibilidades de participação no edital Programa Internacional de Intercâmbio da Graduação (Piigrad), com especial atenção a políticas de apoio a estudantes estrangeiros, como moradia, alimentação e bolsas. Também foram apresentados os principais temas e áreas de expertise da UFJF em ensino, pesquisa e pós-graduação, com o objetivo de aproximar docentes e pesquisadores de outras instituições.
Segundo a equipe da UFJF, esse movimento reflete uma nova fase da internacionalização universitária: mais dialógica, colaborativa e comprometida com a justiça social. “Durante muito tempo, o foco era enviar estudantes e professores para fora. Hoje buscamos relações horizontais, construídas em conjunto, que rompam com antigas hierarquias e reconheçam a produção científica de países do Sul Global, como o Brasil”, destaca Cadilhe. A Instituição também foi uma das representantes brasileiras no painel Brasil, ao lado da Universidade Federal de Uberlândia (UFU) e da diretora executiva do G-Club, Rossana Valéria de Souza e Silva, organizadora da missão. O diretor apresentou a abordagem da UFJF para uma internacionalização de caráter decolonial, pautada por equidade, cooperação e impacto social.
Outro destaque foi a participação da UFJF na sessão de boas práticas de internacionalização, com a apresentação de um pôster institucional — o único da América Latina selecionado entre os 17 participantes. A Universidade compartilhou experiências de três programas em andamento: a Cátedra Sérgio Vieira de Mello, o Programa PEC-G e o Idiomas sem Fronteiras, que oferece aulas de português como língua estrangeira, à distância, para estudantes de qualquer parte do mundo.
Os primeiros contatos com as universidades estrangeiras marcaram o início de tratativas para a formalização de novos convênios. “Nossos acordos passam por aprovação jurídica das duas instituições. Por isso, esse primeiro encontro é essencial: ele representa 90% do caminho, pois sinaliza o interesse mútuo e abre espaço para a negociação dos termos formais”, explica Cadilhe.

Delegação brasileira na Istanbul University, na Turquia (Foto: DRI/UFJF)
Visitas institucionais
A missão incluiu visitas in loco à Universidade de Mármara e à Universidade de Istambul, ambas universidades públicas localizadas em Istambul. Em Mármara, a comitiva conheceu de perto o ambiente acadêmico e a política multilíngue da instituição, que oferece cursos em inglês, francês e turco, visando à integração de estudantes internacionais.
Na Universidade de Istambul, os representantes da UFJF foram recebidos pelo reitor, Osman Zülfikar, que expressou interesse em estreitar laços com universidades brasileiras. A instituição, centenária e detentora de um Prêmio Nobel de Química, promoveu um encontro com reitoras brasileiras e sinalizou abertura para cooperação em pesquisa e mobilidade. A reunião foi seguida por um encontro técnico com a diretoria de cooperação internacional, já com encaminhamentos para acordos institucionais.
Próximos passos
Após o retorno ao Brasil, a UFJF iniciou a compilação de um portfólio bilíngue com projetos de pesquisa ativos, para ser enviado às universidades parceiras. Segundo Cadilhe, a expectativa é ampliar as vagas de intercâmbio já no próximo edital do Piigrad da UFJF, além de fortalecer a “internacionalização em casa” com a vinda de estudantes estrangeiros e a oferta de cursos de Português como Língua Estrangeira.
A Universidade também projeta a realização de conferências virtuais e a submissão conjunta de projetos em editais internacionais. “O mais importante é o movimento de diálogo entre pares, com países que compartilham desafios semelhantes aos nossos. A internacionalização que buscamos valoriza a troca horizontal e a construção de soluções em conjunto”, conclui Girlene.
