O quão vivaz pode ser a natureza morta? O que pode parecer tão antagônico ganha novas perspectivas no Forum da Cultura da UFJF. Dando início à temporada de exposições do edital de ocupação da Galeria de Arte de 2025, o casarão recebe, nesta terça, 1º de abril, a partir das 18h, a abertura da mostra “As vidas da natureza morta”, do artista plástico Everaldo Silva.
A programação – gratuita – conta com um momento de discussões em torno da representação do estilo natureza morta, da importância da arte na vida das pessoas e da relação do autor com outras áreas de conhecimento, tendo como convidadas a psicóloga Sheila de Jesus Gomes e a jornalista e comunicadora Lucimar Brasil. Haverá ainda uma performance em que Everaldo realizará a pintura de um quadro para apreciação do público presente.
A mostra oferece aos visitantes a oportunidade de apreciarem mais de dez telas inéditas criadas a partir da técnica de óleo sobre tela. Cuidadosamente elaborados, cada um dos quadros, aliados à uma acurada expografia, contam também sobre a evolução do gênero pictórico escolhido como tema central, suas variações e peculiaridades ao longo dos séculos.
“Escolhi dar o título de ‘As vidas da natureza morta’ a esse projeto porque, durante minhas investigações e estudos para criação das obras, entendi que foi um estilo de pintura com diferentes fases, em diferentes localidades do mundo”, explica Everaldo. “Foi um estilo que teve vida no Egito, na Holanda, na França e na Itália e chegou ao Brasil, sendo que, em cada uma dessas etapas, sofreu transformações, adequações e novas propostas, devido aos diferentes públicos que se apresentaram para adquirir, admirar e produzir tais trabalhos.”
Das pinceladas clássicas às minimalistas, as telas de Everaldo trazem representações de frutas, como maçãs, laranjas e cajus; flores como a violeteira; e objetos, como peças de xadrez e garrafas. Observando atentamente detalhes que vão do efeito translúcido dos jarros aos contornos das sombras, fica evidente a técnica primorosa do artista hiper-realista que explora, de forma singular, o poder da luz, das cores e a sutileza dos traços na pintura.
Um dos destaques da mostra é a tela “Malus domestica (maçãs vermelhas)”, que traz retratadas as diferentes fases de crescimento do fruto. É possível contemplar os pequenos brotos, os torrões de flores, o período em que a maçã ainda está verde, exemplares completamente maduros e as folhagens da macieira. Também chama a atenção o quadro “Jogatina I” em que está representado um dado se equilibrando sobre outro, demonstrando, subjetivamente, a presença da matemática na criação de telas.
Pinceladas sob um novo toque
O termo “natureza morta” deriva do holandês stilleven, em inglês, still-life, que significa uma composição de objetos e/ou seres inanimados, silenciosos, discretos, incapazes de movimento, com a vida em suspenso. As sensações de quietude e calma caracterizam também a exposição de ambientes íntimos e caseiros, os quais retratam, muitas vezes, o estilo de vida daqueles que aparecem para protagonizar as pinturas. A presente mostra não foge a esta designação; entretanto, oferece ao público a chance de olhá-la sob um novo prisma, digamos que, mais fresco, oxigenado, leve e vicejante.
Na avaliação de Everaldo, existe um conceito muito engessado que classifica como trabalhos de natureza morta apenas aqueles que trazem representados algo que foi extraído do meio ambiente. Florações, frutos e legumes colhidos, que agora servem como modelos artísticos. “Além, é claro, da ideia de que se trata de algo mórbido, assustador e escuro”. A vontade de apresentar uma nova visão sobre o gênero foi, inclusive, uma das motivações que o fizeram criar a mostra. “Procurei desconstruir alguns paradigmas em torno do estilo, pensando em uma exposição bem colorida, chamativa e muito iluminada, sem perder, porém, a essência e o encanto genuínos da técnica.”
Everaldo Silva foi um dos artistas selecionados pelo Edital de Ocupação da Galeria de Arte do Forum 2025. “As vidas da natureza morta” segue em cartaz até 25 de abril, com visitações gratuitas de segunda a sexta, das 10h às 19h. A entrada é gratuita.
Natureza morta na história
Da antiguidade até a contemporaneidade, as obras que representam a natureza morta ocupam um importante espaço nos museus pelo mundo, além de carregarem elementos essenciais que contam a própria história da arte. Utilizado pela primeira vez na Holanda do século XVI, o termo “natureza morta” descrevia telas de Pieter Aertsen e Jacopo Bassano, que articulavam temas religiosos com a vida cotidiana e cenas de gênero.
Apesar da nomenclatura ter sido cunhada no continente europeu, foi no Egito que as primeiras pinturas de natureza morta, datadas do século XV a.C, foram identificadas. As obras em questão eram criadas com intuito de ornamentar tumbas e preparar o local para o possível retorno dos mortos, de acordo com a crença daquele povo.
A prática de representar objetos inanimados foi adotada por artistas greco-romanos, sendo utilizada para ornamentar murais, palácios e espaços públicos. Já durante o Renascimento, o gênero funcionava como uma parte adicional dos retratos e paisagens. Foi no final do século XVI que a natureza morta veria seu protagonismo despertar através da icônica pintura “Cesto de Frutas”, do pintor barroco Caravaggio.
Com o passar dos anos e ascensão do Impressionismo e do Pós-Impressionismo, o gênero passa a ser visto com mais recorrência, sendo pintado por diversos artistas renomados, como Claude Monet, Renoir, Paul Cézanne, Camille Pissarro e Van Gogh.
No início do século XX, com vanguardas europeias como Fauvismo, Cubismo e Surrealismo, a estética clássica e mimética de períodos passados é quebrada por meio das novas visões, formatos e concepções subjetivas que os artistas daquela época imprimiram em seus quadros.
Em tempos de arte contemporânea, com a fotografia surgindo no século XIX e a Pop Art dos anos 50 inovando, a natureza morta ganha novas atribuições, gerando reflexões em torno do consumo em massa e das guerras que ocorreram naquele período. A obra “Latas de Sopa Campbell” (1962), do estadunidense Andy Warhol, é um bom exemplo de como a arte dos objetos inanimados se adequou ao estilo e a novas técnicas.
O gênero também ganhou espaço no campo da escultura, tendo o artista contemporâneo libanês-brasileiro Camille Kachani como um importante representante. Ela traz uma série de esculturas de naturezas mortas com variados objetos, como móveis de madeira, instrumentos musicais, louças e até mesmo granadas.
Atualmente, natureza morta segue sendo explorada por múltiplos artistas do globo, comprovando assim, sua atemporalidade.

Natural de Tocantins (MG), Everaldo Silva é pós-graduado em Arte, Cultura e Educação e, em 2006, já teve trabalho publicado no Anuário Brasileiro de Artes Plásticas (Foto: Divulgação)
Mais sobre o artista
Nascido em Tocantins (MG), Everaldo Silva iniciou seu contato com a arte ainda cedo. Desde criança, desenhava o tempo todo, por toda parte, fosse nas atividades escolares, como lazer e até mesmo para ganhar alguns trocados criando capas de trabalhos para colegas de escola.
Com o passar dos anos, a aptidão para criar intensificou-se. Já em Juiz de Fora, Everaldo decidiu dedicar-se à pintura. Entre suas inspirações estavam os trabalhos do artista Pedro Guedes, os quais observava ao passar em frente à vitrine de seu atelier. Movido pela coragem e desejo de pintar, um dia entrou no local, conversou com Pedro e, a partir daquele momento, passou a desenvolver suas técnicas. Atualmente é professor no espaço e também em seu próprio atelier.
Everaldo é graduado em Matemática e pós-graduado em Arte, Cultura e Educação, pelo Instituto de Artes e Design (IAD) da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF). A partir de 2004, inicia suas participações em salões e mostras coletivas e individuais, recebendo prêmios em Minas Gerais, São Paulo, Rio de Janeiro e, inclusive, fora do Brasil, como, por exemplo, Portugal.
Em 2006, teve seu trabalho publicado no Anuário Brasileiro de Artes Plásticas, além de também estar catalogado em volumes e no perfil “Gallery ART Brazil”, voltado à arte contemporânea brasileira. No ano de 2023, o artista realizou a mostra “Imensidão do Azul”, no Forum da Cultura da UFJF, a primeira no local.
Outras informações
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