O Centro de Referência em Direitos Humanos (CRDH) da Universidade Federal de Juiz de Fora, campus Governador Valadares (UFJF-GV), promoveu em 10 de dezembro, Dia Internacional dos Direitos Humanos, o evento 60 anos do golpe de1964: os impactos em Minas Gerais. Realizada na Unidade Centro, a atividade reuniu pesquisadores, professores, estudantes, lideranças indígenas e lideranças da sociedade civil organizada para discutir as repercussões da ditadura militar no estado.
A programação contou com cinco mesas temáticas com reflexões aprofundadas sobre diferentes aspectos do regime ditatorial. Inicialmente buscou-se demonstrar a aliança do regime militar com quatro empresas mineiras: Fiat, Mannesmann, Belgo-Mineira e Usiminas. Para tanto, o evento contou com a presença de pesquisadores que investigaram essas empresas em um projeto vinculado à UNIFESP e ao Ministério Público Federal: Marina Camisasca, Gustavo Seferian e Otávio Lopes de Souza. Segundo a professora Tayara Lemos, uma das organizadoras do evento, “essas empresas tiveram papel estratégico na sustentação econômica do regime”.
Em um segundo momento, as discussões voltaram-se para a resistência social. Haruf Salmen Espindola, historiador e professor titular da Univale, abordou uma perspectiva histórica sobre os impactos da ditadura em Governador Valadares e resistência urbana e camponesa, expondo o tiroteio orquestrado por grandes latifundiários da região contra os trabalhadores rurais.
Geovane Krenak, liderança do povo indígena Krenak, emocionou o público ao relatar as lutas e perdas de sua comunidade durante o regime, como a construção do Reformatório Indígena Krenak, instituição de repressão criada durante a ditadura militar brasileira para controlar e reprimir povos indígenas.
O Reformatório Indígena Krenak é um símbolo da violência do Estado contra os povos originários e exemplifica como a ditadura militar afetou não apenas os opositores políticos urbanos, mas também comunidades situadas em áreas rurais e tradicionais, distantes do centro político do país.
Outro ponto alto do evento foi a palestra de Robson Sávio Souza, coordenador da COVEMG (Comissão da Verdade em Minas Gerais), que entre 2013 e 2017, atuou em investigações sobre as graves violações de direitos humanos ocorridas no estado durante o período da ditadura militar
Também estiveram presentes Everson Tardeli, que apresentou o trabalho da Comissão da Verdade dos Trabalhadores e do Movimento Sindical de Minas Gerais (COVET), entidade instituída de forma orgânica e espontânea após a dissolução da COVEMG. A comissão enfatizou a importância de resgatar a memória histórica das lutas sindicais para fortalecer a democracia, o que foi complementar à fala de Sebastião Barbosa, membro do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Governador Valadares.
A organizadora Tayara Lemos celebrou o sucesso do evento, reforçando que os debates não só contribuem para a memória coletiva como também estimulam uma visão crítica sobre as relações entre economia, política e repressão. “A construção de uma justiça de transição é um processo contínuo, e eventos como este são fundamentais para avançarmos nessa direção”, concluiu.
O evento contou com ampla participação da comunidade acadêmica e local, com ocupação máxima das salas onde foi realizado. consolidando-se como um espaço de reflexão e aprendizado.