Desde o ano passado, a Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) adota um novo conteúdo programático para o Programa de Ingresso Seletivo Misto. Assim, candidatos dos módulos I e II já estão fazendo provas seguindo esses parâmetros e, em 2025, os do módulo III também estarão. O modelo de prova não foi alterado; no entanto, cada vez mais a seleção exige dos estudantes contextualização, reflexão crítica, interpretação e capacidade argumentativa. 

Novo conteúdo programático exige dos estudantes contextualização, reflexão crítica, interpretação e capacidade argumentativa (Foto: Alexandre Dornelas/UFJF)

As provas do primeiro dia já trouxeram esses elementos, que foram observados também neste domingo, 15. Um dos professores da banca, coordenador da área de Português e Linguagens, explica que a banca responsável pela elaboração da prova priorizou uma temática única este ano – o mundo do trabalho e a exploração do trabalhador sob diferentes óticas. Segundo ele, foi uma prova muito mais reflexiva, avaliando as competências de leitura e escrita do estudante. 

“O candidato se deparou com questões em que o desafio era ler e recuperar as informações do texto, implícitas ou explícitas, e fazer inferências em algumas delas.” Houve também a presença de vários gêneros, usando textos curtos, inclusive posts, e outros longos. Para o módulo III, além dessas competências, o professor diz que é esperado ver no estudante sua capacidade autoral e estilística nas respostas. 

A prova de Literatura trouxe clássicos nacionais, mas também apresentou autores contemporâneos como Jarid Arraes, José Craveirinha e Conceição Evaristo, com temas ligados à esfera social.

Em Geografia, o primeiro módulo contempla a dimensão da geografia física, como elementos na natureza; o segundo, a geografia humana, trazendo uma discussão mais política e econômica com a interpretação de dados; e no Pism III, o conteúdo é político e de atualidades. Cobra-se também a interpretação de mapas, gráficos e tabelas. 

Segundo outro professor da banca, com o novo conteúdo programático houve maior inserção de atualidades, podendo relacionar climatologia com a tragédia do Rio Grande do Sul. “É uma prova marcada por ser analítica, explorando a capacidade do aluno de interpretar a informação, olhar para o mapa e extrair dele um raciocínio”, exemplifica. 

Segundo professores da banca que elaborou as provas, as questões trouxeram temas atuais e debates que são históricos (Foto: Carolina de Paula/UFJF)

Questões contextualizadas
A relação do passado com o presente a partir de questões contextualizadas e de caráter interpretativo é também o que aparece na prova de História. Segundo a professora da banca, no módulo I, geralmente aparecem questões etnico-raciais, história do Brasil, dos países vizinhos e história da África. 

Já no Pism II, além de história do Brasil e do continente americano, são abordados temas como trabalho e cultura. E no módulo III, há uma dimensão mais do tempo presente, retomando questões do passado, mas trazendo-as para os dias de hoje. “Alguns temas são recorrentes, como a ditadura civil militar, que esse ano apareceu de novo, as violências contra a população negra e, agora, a questão ambiental dentro da dimensão histórica.” 

Em Biologia, no módulo I são cobradas, principalmente, questões relacionadas aos processos celulares. “Já no Pism II e III decidimos focar numa prova com questões ambientais, principalmente sobre mudanças climáticas, como um assunto urgente que precisamos debater”, explica o professor integrante da banca. A ideia foi usar um tema central na Biologia, que muitas vezes fica entre as Humanidades e as Exatas.

Uma das novidades da prova de Química foi trazer a tabela periódica impressa, com o nome dos elementos químicos, e questões do cotidiano, sem necessidade de memorização, mas de interpretação e conhecimento científico (Foto: Alexandre Dornelas/UFJF)

Em Física e Química, mais uma vez, o novo programa não exige um conteúdo memorizado, é preciso interpretar as questões e trazer respostas embasadas pelo conhecimento científico. “De modo geral, nessa edição, para todos os três módulos, as provas de ciências da natureza vêm muito mais contextualizadas e exemplificadas; então não são provas que vão cobrar conhecimento memorizado, uma resposta pronta. O aluno vai ter que desenvolver um raciocínio em cima da questão problema a ser apresentada”, explica a coordenadora pedagógica de Biologia, Química e Física. Por isso, a prova trouxe inclusive a tabela periódica completa com o nome dos elementos químicos, algo que não havia nas edições anteriores.

Questões abordaram a química ambiental por meio de temas como chuva ácida e aquecimento global. E a química orgânica apareceu aplicada a produtos presentes em cosméticos ou produtos de higiene, por exemplo. A mesma lógica é percebida na prova de Física, com temáticas envolvendo carros e panelas elétricas, ou seja, problemas de vivência do cotidiano. 

“As bancas perceberam que não precisam de uma situação hipotética para cobrar o conteúdo problemático do Pism. Eles podem trazer situações reais onde os alunos podem aplicar as fórmulas, as equações, mostrando que eles dominam e possuem um pensamento científico”, observa a professora. 

Gabaritos
Os cadernos de provas, gabaritos e referências de correção do segundo dia de provas do Pism estarão disponíveis ainda neste domingo no site da Copese.

* Os professores não foram identificados, em nome da lisura do processo.