Sonhos são como poesias visíveis na tela da mente, pontes entre o mundo exterior e o mundo interior. A materialização desse elemento é o que o público pode conferir na mostra “Oníricum: uma visão para o incognoscível”, do artista plástico Arthur Assunção, novidade da Galeria de Arte do Forum da Cultura da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF). A abertura da exposição é nesta terça-feira, 5, a partir das 18h30. Os trabalhos ficam expostos até 22 de novembro e a entrada é gratuita.
Na abertura estarão presentes, além do artista, a desenhista e fotógrafa Ana Maria Duarte da Cunha e a historiadora Thais do Nascimento Gonçalves, em um momento de trocas a respeito das técnicas e elementos presentes nas obras. O evento é gratuito e aberto ao público em geral.
Composta por mais de 20 telas inéditas, criadas a partir da técnica de desenho com nanquim e microline sobre papel, a mostra busca provocar momentos de introspecção e revelação em torno dos delírios e desejos da psique humana através dos sonhos. Com traços fluidos, ondulantes, propositalmente desalinhados, fantasiosos e contínuos, a exposição quebra as barreiras do que, até então, não poderia ser conhecido, permitindo o acesso a um universo instigante.
“No simples ato de dormir, conseguimos alcançar a imaterialidade, podemos controlar e fluir pela abstração que a nossa mente nos leva. É um pouco desse estado fisiológico e psicologicamente consciente, repleto de aspectos sensoriais e emocionais, que busco despertar com meus trabalhos. Por isso, a técnica que utilizo tem como objetivo oferecer uma precisão e riqueza de detalhes, a fim de enriquecer essa experiência visual do espectador”, explica o artista.
“Em cada um de meus desenhos é possível visualizar, em determinado grau, a retratação de olhos na composição artística. Esse simbolismo é representado como uma forma de visualizar os olhos como uma janela para a alma, onde fechamos a nossa visão para o mundo exterior e nos voltamos para todas as imensas e milhares de possibilidades do nosso interior”, acrescenta Assunção.
Tal opção estética nasceu a partir do último desenho criado para a exposição. O artista observava as próprias telas, mas sentia falta de algum elemento essencial. “Foi então que surgiu a ideia de incorporar os olhos em todos os cantos, como símbolos de vigilância constante. Esses elementos se uniram em harmonia, dando vida ao conceito final”.
A obra “Despertar”, por exemplo, foi criada com a intenção de representar o olho enquanto uma abertura para o mundo dos sonhos — o espaço desacordado. Nela, o olho não só emerge de dentro de si como guia para o mundo onírico, mas também evoca a conexão com a água, o fluido e o mutável. Essa transição foi representada em um “choro” que se mescla a um caminho, como um rio sinuoso.
Animais aquáticos também são inspiração para as criações de Assunção. O público poderá contemplar a beleza das águas-vivas e de suas membranas em forma de babados, polvos e seus tentáculos curvados, o belo mergulho das baleias, o nado solitário das tartarugas e as carpas com seu hipnótico ballet. Todos representados dentro da mesma proposta estética.
Outro destaque de “Oníricum” é uma escultura – a única da mostra – que busca materializar ainda mais o sonho, tornando-o algo palpável. Diferentemente de todos os outros trabalhos em exibição – exclusivamente criados em preto e branco – a peça traz elementos coloridos. Com múltiplos rasgos e símbolos, bebendo na fonte do surrealismo, o objeto brinca com a anatomia humana, sugerindo como a nossa imaginação pode transformar um material bruto em algo vivo e expressivo.
O artista plástico finaliza, reforçando que a proposta expositiva não se restringe à simples apresentação de trabalhos artísticos, mas que constitui-se como um convite à introspecção e à reflexão sobre os mistérios da mente humana. “Ao trazer à luz os fragmentos dos sonhos e dos devaneios, espero despertar nos espectadores a capacidade de explorar o insondável cosmo que habita dentro de cada um de nós. Por meio desta mostra, almejei transcender os limites do visível e do palpável, a fim de conduzir o público a uma jornada de descoberta e autoconhecimento”.
Arthur Assunção foi um dos artistas selecionados pelo Edital de Ocupação da Galeria de Arte do Forum da Cultura 2024, cujo resultado foi divulgado no dia 15 de março.
As visitações à mostra podem ser feitas de segunda a sexta-feira, das 10h às 19h.
Mais sobre o artista
Natural de Manhuaçu (MG), desde cedo Arthur Assunção desenvolveu uma profunda conexão com a arte. O amor pelo desenho foi potencializado pelo incentivo da mãe e das avós, que, além de costurar, também realizavam artesanato e pintura. Ainda criança, Assunção fez aulas de desenho e ilustração em sua terra natal, participando, inclusive, de exposições coletivas com outros alunos.
A arte se manifestou também por meio de outras expressões, como o teatro, tendo fundado um grupo em sua escola no Ensino Médio, e balé clássico, no qual possui formação com cinco anos de estudos.
Em 2022, muda-se para Juiz de Fora a fim de cursar História na UFJF. A experiência acadêmica segue sendo um período de intenso conhecimento das artes, sob uma perspectiva histórica e teórica, servindo como estímulo constante para novas inspirações e ideias para futuros trabalhos. Atualmente leciona aulas em um curso de pré-vestibular popular da Prefeitura de Juiz de Fora (PJF).
A exposição no Forum da Cultura é a primeira do artista em formato individual, e, também, a sua primeira em Juiz de Fora.
Galeria de Arte
O espaço, instalado em um local privilegiado no segundo pavimento do Forum da Cultura, abriga produção eclética, com exposições de artes plásticas, documentais e pedagógicas, que já chegaram a ter mais de mil visitantes por mostra. Criada em 1981, no reitorado do professor Márcio Leite Vaz, a galeria recebe importantes nomes da pintura de Minas Gerais e da cidade, além de jovens artistas e coletivos. Em janeiro de 2024, o espaço passou por reforma, substituindo as antigas placas de madeira por novas, garantindo assim, um espaço renovado com estruturas reforçadas para as mostras a serem expostas. O sistema de iluminação também foi renovado, possibilitando mais destaque para as obras em exibição.
Forum da Cultura
Instalado em um casarão centenário, na Rua Santo Antônio, 1112, Centro, o Forum da Cultura é o espaço cultural mais antigo da UFJF. Em atividade há mais de cinco décadas, leva à comunidade diversos segmentos de manifestações artísticas, abrindo-se a artistas iniciantes e consagrados para que divulguem seus trabalhos.
Outras informações:
(32) 2102-6306 – Forum da Cultura da UFJF
E-mail: forumdacultura@ufjf.br
Instagram: @forumdaculturaufjf