No sexto dia do 35° Festival de Música Colonial Brasileira e Antiga, quarta-feira, 6, o palco do Teatro Paschoal Carlos Magno vai receber três nomes da música brasileira, que prometem emocionar e envolver a audiência. O violeiro e promotor da cultura popular, Fabrício Conde, irá abrir a noite às 18h, com um repertório que funde a música colonial com a música dos povos originários e africanos. A partir das 20h, os ítalo-brasileiros Gilberto Ceranto Junior e Giovana Cerrado Junior irão se apresentar ao som do piano barroco e do cravo.
Através da viola caipira e do som que mescla a música colonial brasileira, com a produção musical indígena e africana, Fabrício Conde vai performar canções autorais que foram apresentadas em diversas cidades do Brasil e no exterior, como “Nos Quintais de Luanda”, que faz referência às expressões musicais dos povos escravizados da região do Benin, “Três Dervixes”, que se baseia nas canções dos nômades do deserto do Saara, e Jassanã, inspirada na sua vivência com povos da etnia Pataxó.
Os irmãos Giovana Ceranto e Gilberto Ceranto Júnior irão apresentar um repertório que oferece um amplo olhar sobre os primórdios da Música Barroca, principalmente para os ouvidos ainda não familiarizados com as canções desse período. Os musicistas que fizeram mestrado pelo Conservatório de Bologna, na Itália, irão apresentar ao público três obras da primeira “trindade” de compositores violonistas do Barroco Italiano: Fontana, Marini e Uccellini.
Em seguida, eles irão performar a mais famosa sonata de violino da compositora Isabella Leonarda, ilustrando o grande protagonismo das mulheres, muitas vezes freiras musicistas, na música barroca italiana. Serão duas sonatas de Arcangelo Corelli, compositor que completa todo o pensamento musical construído no séc. XVII, na Itália, que, segundo a musicista, é “um grande exemplo de equilíbrio e perfeição da escrita, que lança as bases e influencia toda a música do século vindouro”.
Artista multifacetado
Natural de Juiz de Fora, Fabrício Conde é músico, escritor e contador de histórias, além de atuar como professor convidado em universidades no Brasil e no exterior. Com seis discos autorais, um DVD e dois livros publicados, ele se dedica à divulgação da cultura popular brasileira, realizando apresentações em diversos países, como Bélgica, Holanda, Alemanha, Espanha, Colômbia, Argentina e Chile.
Além de ser um artista multifacetado, ele teve importantes obras divulgadas no exterior como a canção “quintais de junho”, promovida pela revista inglesa Songlines, em 2010, e o seu livro “Caminho das Asas”, que foi selecionado pela Fundação Nacional do Livro Infantil e Juvenil (FNLIJ) para a feira literária da Bologna, na Itália.
O violeiro começou a estudar música aos oito anos de idade tendo como seu primeiro instrumento o piano. Ele contou que participou na 13a edição do Festival de Música Colonial Brasileira e Antiga enquanto gravava o seu primeiro disco: “A cidade fica mais bonita. As pessoas se aprontam para ouvir música e entrar em contato com um outro tempo, experimentado por meio de instrumentos musicais e de músicas de outra época. Esse deslocamento é essencial para alargar as margens da imaginação e nos situar no tempo. Tenho expectativa de também poder ouvir músicos fabulosos”, afirma o artista.
Virtuoses
Naturais de Botucatu (SP), Gilberto Ceranto Junior e Giovana Ceranto foram iniciados na música ainda na infância. Ambos estudaram no Conservatório de Tatuí, iniciativa do Estado de São Paulo que promove a iniciação, promoção e a formação musical. Gilberto se formou em violino pelo Conservatório e fez o bacharelado em Música da Universidade de São Paulo (USP).
Giovana se formou em cravo e piano pelo Conservatório e concluiu seu Bacharelado em Música com Habilitação em Piano também pela Universidade de São Paulo. Atualmente, eles vivem na Itália, onde seguem aprimorando seus estudos e tendo outras experiências no exterior.
De acordo com Giovana, os irmãos estão honrados com a participação no festival e com altas expectativas para a apresentação. “O Festival de Música Colonial Brasileira e Música Antiga de Juiz de Fora é uma tradição no panorama da música antiga e brasileira. Retornar ao Brasil para um evento tão especial nos proporciona a oportunidade de compartilhar um pouco da nossa história e vivências. Esperamos que nossa participação possa contribuir para a celebração e valorização dessa rica tradição”, compartilha a musicista.
Durante seus estudos, atuou como spalla e solista da USP Filarmônica (2015-2017), foi bolsista da Fapesp (2018) e recebeu o Prêmio Olivier Toni (2019) pela sua produção artística. Continuou sua formação no Conservatório de Bologna, na Itália, onde estudou com o renomado violinista italiano Enrico Gatti.
Após concluir um segundo bacharelado em Violino Barroco (2022), aprofundou-se em dois mestrados focados em Violino Barroco e Cravo e Teclados Históricos. Já se apresentou em renomadas salas de concerto ao redor do mundo, como o Teatro Olímpico de Vicenza (Itália), Konzerthaus de Viena (Áustria), Shanghai Symphony Hall (China) e em Dubai (Emirados Árabes), colaborando com músicos de destaque como Andrea Marcon, Ottavio Dantone, Federico Maria Sardelli, Enrico Onofri, Federico Guglielmo, Gary Graden e Maria Keohane.
Atualmente, é primeira viola da Strauss Operetta Symphony Orchestra de Viena. Na musicologia, Ceranto Júnior descobriu, em 2021, a décima carta de Arcangelo Corelli, além de outros documentos da família do compositor, publicados recentemente na obra “Il giovane Corelli. Nuovi documenti e contesti” pelo grupo de pesquisa Arcomelo e pela editora Libreria Musicale Italiana.
Na música contemporânea, participou de várias edições do Festival Música Nova Gilberto Mendes, o maior festival do gênero na América Latina, e estreou diversas obras de compositores internacionais, como Olivier Toni (Brasil), Bo Lundby-Jaeger (Dinamarca) e Dorothea Hoffmann (Alemanha). Na área de composição, estudou com Rubens Russomanno Ricciardi, Silvia Berg e Rodolfo Coelho de Sousa na Universidade de São Paulo, além de Gian Paolo Luppi, Luigi Verdi e Daniele Salvatore no Conservatório de Bologna; suas obras já foram executadas na Itália e na Alemanha.
Durante seus estudos no Conservatório de Tatuí, Giovana conquistou prêmios como “Melhor Intérprete de Camargo Guarnieri” e “Melhor Intérprete de Villa-Lobos”. Na USP, ela venceu o Prêmio “Olivier Toni” por sua produção artística. Atuou como pianista, cravista e solista na Orquestra Sinfônica de Ribeirão Preto e na Orquestra Sinfônica de Limeira.
Participou de masterclasses no Brasil, EUA e Itália, com grandes nomes como Alexandre Dossin, Sabina Arru e Jacques Ogg. Trabalhou como cravista e pianista em várias produções de ópera e festivais, interpretando obras como Dido e Eneas, La Serva Padrona, Bastien und Bastienne, Don Giovanni, La Traviata, L’elisir d’Amore, Tosca, Cavalleria Rusticana, The Mikado e Le Nozze di Figaro, ao lado de maestros renomados como Cláudio Cruz, Rubens Russomano Ricciardi e Stefano Giaroli. Atualmente, é pianista na Johann Strauss Operetta Symphony Orchestra de Viena, e recentemente realizou uma turnê de 18 concertos pela China, se mapresentando em salas de concerto como a Shanghai Symphony Hall.
Giovana trabalhou como correpetidora no Femusc (2023 e 2024), no Festival di Castellucio Tra Musica e Natura, e na Bologna International Opera Academy. Em 2023, concluiu o mestrado em Piano pelo Conservatório de Bologna,onde também estudou órgão e cravo, e está atualmente cursando um segundo mestrado como Maestro Collaboratore. Na Itália, venceu os concursos “Andrea Baldi” e “Villa Olliva”. Em Bologna, atua como professora de piano na Escola “Ivan Illich” e participa regularmente da série “Passione in Musica” no Teatro Mazzacoratti, sob a direção artística de Francesca Pedaci.
“O Estilo e a Maneira”
Programa
Giovanni Battista Fontana (1589, Bréscia – 1630, Pádua)
– Sonata Seconda a Violino Solo (1642, publicação póstuma)
Biagio Marini (1594, Bréscia – 1663, Veneza)
– Das Sonatas, Sinfonias, Canções, … , Opus 8 (Veneza, 1629), a Sonata n°3, dita “A Sonata Variada”.
D.Marco Uccellini (1603 – 1680, Forlimpopoli)
– Das Sonatas ou Canções Opus 5, a Sonata Undécima.
Isabella Leonarda (1620 – 1704, Novara)
– Das Sonatas Opus 16 (1683, Novara), a Sonata Duodécima.
Arcangelo Corelli (1653, Fusignano – 1713, Roma) – Das Sonatas Opus 5 (Roma, 1700), a Sonata n°2 em Si bemol maior, com ornamentações do próprio compositor, em publicação póstuma (Amsterdam, 1723).
I. Grave II. Allegro III. Vivace IV. Adagio V. Vivace – Idem, Sonata n°6 em Lá Maior
I. Grave II. Allegro III. Allegro IV. Adagio V. Allegro
Gilberto Ceranto Jr, violino barroco
Giovana Ceranto, cravo