O espetáculo estreia nesta quarta-feira, 30, e ocorre de quarta a sábado, às 20h, até o dia 23 de novembro (Fotos: Taynara Miguel/Divulgação)

No ano em que completa 58 anos de atividades, o Grupo Divulgação retorna às origens, com o espetáculo “Cidade Partida”. Pela primeira vez, o público pode conferir uma reunião de três clássicos do teatro grego cujas histórias se complementam entre si, são eles: “Sete contra Tebas”, de Ésquilo; “As fenícias”, de Eurípides e “Antígona”, de Sófocles. Os três textos foram reunidos em uma livre adaptação por José Luiz Ribeiro, imortal da Academia Brasileira de Cultura (ABC), que também assina a direção da peça. A estreia acontece na próxima quarta-feira, 30, às 20h, no Teatro do Forum da Cultura da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF).

Em “Cidade Partida”, o público é apresentado à história mitológica da antiga cidade-Estado grega de Tebas, recontada pelos famosos dramaturgos gregos. A peça começa com a fundação da cidade, ato realizado por Cadmo. Após os tempos felizes de seu reinado, acontece um golpe de estado. O sucessor do trono, Laio, precisa ser exilado. Após o deus Apolo intervir, Laio retorna a Tebas. Como o governante é amaldiçoado pelos deuses, uma série de tragédias se sucedem: o assassinato de Laio por seu filho Édipo, e o posterior casamento de Édipo com sua própria mãe, Jocasta, sem que ambos saibam do parentesco que os une.

Após a descoberta da verdade do laço entre Édipo e Jocasta, seus dois filhos homens, Etéocles e Polinices decidem se revezar no poder em anos alternados. Ao fim do primeiro mandato de Eteocles, este se recusa a deixar o trono. O que faz com que Polinices decida invadir a cidade. É esta tragédia que, por sua vez, detona futuros acontecimentos descritos em peças como Antígona, outra personagem presente em “Cidade Partida”.

Volta aos clássicos com os pés na atualidade

Com esse espetáculo, o Grupo Divulgação retoma sua tradição de montar clássicos do teatro universal. Quando se trata especialmente do teatro da Antiga Grécia, “Cidade Partida” se insere no repertório de textos gregos montados pelo Divulgação, em sua versão original ou em adaptações.

O grupo já montou “Electra” (1968) e Édipo Rei (1991), de Sófocles, e fez referência a Prometeu Acorrentado, de Ésquilo, em “O Filhos de Prometeu” (2019). Além disso, o Núcleo de Adolescentes também já encenou “Antígona”, de Sófocles.

Como definiu o célebre crítico teatral Yan Michalski (1932-1990), o Divulgação é “dono de uma folha de serviços exemplar em matéria de qualidade de repertório”. Fundado em 1966, em plena Ditadura Militar (1964-1985), o Centro de Estudos Teatrais – Grupo Divulgação recorreu aos clássicos para denunciar aspectos da realidade, ao mesmo tempo em que driblava a censura.

A professora da UFJF e atriz Márcia Falabella, ao centro, interpreta Antígona, uma figura emblemática da mitologia grega. (Foto: Taynara Miguel/Divulgação)

“Os clássicos diziam (a realidade) às vezes de uma outra forma, usando uma metáfora. São sempre textos modelares, que não perdem sua atualidade. A gente está voltando a essa essência, dos textos originários. É um prazer muito grande. Inclusive, um desafio para os atores: ter que atuar com máscaras, ‘amaciar’ esse texto da tragédia, lidar com essas emoções, é um grande exercício”, avalia a atriz Márcia Falabella, professora do Departamento de Fundamentos, Teorias e Contextos da Faculdade de Comunicação (Facom) da UFJF.

Dessa forma, a intenção com o novo espetáculo é, por meio dos clássicos gregos, fazer uma reflexão sobre a sociedade atual. “É o retrato de um país dividido nas eleições, com irmãos, famílias brigando. E é um grito por amor à liberdade, para que uma sociedade se mantenha unida. Uma casa dividida não subsiste, nem enfrenta as tempestades”, reflete o escritor e diretor José Luiz Ribeiro, também professor aposentado da Facom/UFJF.

Intérprete de Antígona e demais personagens, Márcia Falabella destaca que o espetáculo se vale de um recurso previamente utilizado pelo dramaturgo e diretor alemão Bertolt Brecht (1898-1956): escrever um texto que se passa numa época remota, mas com uma história que evoca questões da atualidade.

“A tragédia grega é sempre um referencial de comportamentos humanos. Dois irmãos brigando pelo poder, nós vemos isso no noticiário. É preciso a gente ver para refletir e, principalmente, modificar”, avalia.

Espetáculo com a grife do Divulgação

A preocupação com o fomento da cultura entre os estudantes também foi outra frente de trabalho vislumbrada pelos integrantes do grupo, em sua origem na década de 1960. A concepção de um Centro de Estudos Teatrais, para além da companhia teatral, denota essa missão, agora retomada com “Cidade Partida”.

“O teatro era um grande suporte de educação, como na Grécia foi. Então começamos a fazer Maria Stuart, de Schiller, Fausto, de Göethe;  Pequenos Burgueses, de Górki. Tenho recebido mensagens de amigos, inclusive um grande produtor do Rio de Janeiro, que está pensando em montar ‘O Banquete’, de Platão. Acho que o Divulgação sempre teve isso. Ele avançou antes que a moda pegasse. Quando a moda pega, a gente já se afasta para buscar outras coisas”, acredita José Luiz.

O espetáculo apresenta figurinos que remetem à época, combinados com uma direção contemporânea. (Foto: Taynara Miguel/Divulgação)

Sobre o processo de escrita do texto, o teatrólogo destaca que foi uma tarefa “hercúlea”. Além dos gregos, outra inspiração foi a série “Game of Thrones”, mais precisamente, na cena em que Cadmo mata um dragão – capítulo fundamental em sua jornada até a fundação de Tebas. “O público pode esperar um espetáculo com a grife do Divulgação: caprichado, com muitos figurinos e uma pontuação moderna”, avalia.

A vocação educativa também se faz presente no contato direto com os professores, elemento que o grupo preserva por meio do projeto Escola de Espectador, em que estudantes e professores da rede básica vão assistir aos espetáculos do grupo no Fórum da Cultura, com entrada franca. O segundo espetáculo, na quinta-feira, 31, será aberto ao público geral, mas dedicado especialmente aos profissionais da educação. Ao final da apresentação, será feito um pequeno debate com o público presente.

Os três textos foram reunidos em uma livre adaptação por José Luiz Ribeiro, imortal da Academia Brasileira de Cultura (ABC) (Foto: Márcia Falabella/Divulgação)

1º espetáculo após entrada na Academia Brasileira de Cultura

“Cidade Partida” é o primeiro espetáculo adulto montado pelo Núcleo Universitário do Divulgação, após José Luiz Ribeiro, também coordenador do grupo, ser eleito para a Academia Brasileira de Cultura (ABC), em novembro do ano passado. Ocupante da cadeira 53, cujo patrono é o poeta juiz-forano Murilo Mendes, Ribeiro tomou posse na companhia de artistas como a atriz Glória Pires, as cantoras Alcione e Liniker, a também cantora e ministra da Cultura, Margareth Menezes, e a ministra dos Povos Indígenas, Sonia Guajajara.

Para o diretor, é uma “responsabilidade” entregar um novo espetáculo após se tornar um imortal da ABC. “Por estar na Academia, a primeira coisa que nós temos que fazer é produzir cultura. A gente está tentando fazer um relacionamento de gente com gente, porque o teatro foi feito para unir os homens. Assim, queremos ver se a gente consegue (vencer) uma luta por essa união”.

Temporada segue em novembro

(Ilustração: Márcia Falabella/Divulgação)

Após a estreia na quarta, 30, a temporada de “Cidade Partida” segue com apresentações de quarta a sábado, às 20h, até o dia 23 de novembro. Professores e técnico-administrativos em Educação (TAEs) da UFJF na ativa ou aposentados, trabalhadores terceirizados e estudantes com assistência estudantil da UFJF podem retirar um par de convites na bilheteria do teatro. Basta apenas apresentar comprovante de vínculo com a Universidade, como carteira funcional ou contracheque.

O Teatro do Forum da Cultura fica localizado na Rua Santo Antônio, 1.112, Centro. O espaço conta com ar-condicionado para garantir maior conforto.

Elenco e equipe
O elenco é formado por Ashley Assis (Coro), Clara Almeida (Io, Serva e Coro), Helena Vasconcellos (Atena, Ismênia e Coro), Igor Santos (Cadmo, Preceptor e Creonte), Lendel Smânio (Agenor, Ares, Arauto e Coro), Letícia Rezende (Coro), Lúcio Araújo (Guardião, Mensageiro e Coro), Márcia Falabella (Pélops, Sacerdotisa, Sombra, Tirésias, Antígone e Coro), Mateus Omar (Dragão, Esfinge, Servo e Coro), Pedro Moysés (Laio, Édipo e Eteócles) e Victor Dousseau (Apolo, Crisipo e Polínices).

Preparo vocal, diagramação da revista-programa e cartaz são de Márcia Falabella; revisão de texto é de Marise Mendes. O banner é de Franciane Lúcia; registros videográfico e fotográfico são de Dowglas Mota e Taynara Miguel. O figurino é de Malu Ribeiro. A sonotécnica é de Gabriel Rotondo. Cenário, trilha sonora, música original, luz e direção são de José Luiz Ribeiro.

A realização do espetáculo conta com o apoio de demais integrantes do Grupo Divulgação e dos bolsistas e funcionários do Forum da Cultura.

Serviço
Peça: “Cidade Partida”, de José Luiz Ribeiro, em adaptação de textos de Ésquilo, Eurípides e Sófocles
Estreia: 30/10, às 20h
Temporada: de quarta a sábado, às 20h, até 23/11
Local: Teatro do Forum da Cultura – Rua Santo Antônio, 1.112, Centro

Outras informações:
Forum da Cultura da UFJF– (32) 2102-6306
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