Estudo do curso de Educação Física do campus avançado de Governador Valadares aborda como padrões de beleza afetam homens, mulheres e minorias (Foto: Pixabay)

Na busca por se encaixar nos padrões de beleza criados pela sociedade, muitas pessoas passam a desenvolver o Transtorno Dismórfico Corporal (TDC). A condição mental atinge entre 1,7 a 2,9% da população mundial e geralmente se caracteriza pela preocupação exagerada com a aparência física, pelo isolamento social e pela busca constante por tratamentos estéticos. 

Identificar esses e outros comportamentos é essencial para diferenciar uma insatisfação pontual e natural com o corpo de um distúrbio mais grave, que pode levar a sintomas depressivos e ansiosos, prejuízos sociais, profissionais e até mesmo a ideação suicida. Este assunto foi abordado no terceiro episódio do programa IdPesquisa com o pesquisador da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) Pedro Carvalho.

“Como a gente sabe que uma pessoa possui algum problema de imagem corporal?”, questiona o docente no episódio, disponível também em podcast. “Quando aquele sentimento, crença ou comportamento em relação ao próprio corpo traz alguma implicação significativa para o funcionamento psicossocial. Por exemplo, se uma pessoa diz que não gosta do corpo, mas vai à praia, ela está funcional. Por outro lado, uma pessoa que não gosta do corpo e deixa de ir a praia em uma viagem com a família, ela está disfuncional, justamente por deixar de viver em sociedade por conta da vergonha do corpo.”

Estudo é apresentado pelo professor Pedro Carvalhavo no terceiro episódio do idPesquisa (Foto: imagem do idPesquisa)

Carvalho coordena grupos de pesquisa sobre distúrbios de imagem corporal e transtornos alimentares e faz parte dos programas de pós-graduação em Educação Física e em Ciências Aplicadas à Saúde, ambos da UFJF.

Ainda que o corpo seja objeto de grande interesse desde a idade média, como fonte de pecado, passando pelos estudos da anatomia no renascimento, foi na modernidade que ele passou a ser visto como fonte de renda. “Quando chegamos mais próximo ao mundo moderno, começa a surgir o interesse pelo capital, começam a surgir marcas, técnicas cirúrgicas e o corpo passa a ser um símbolo de status.”

“Estudos que avaliam várias culturas demonstram que vários países têm uma relação entre o corpo e o capital corporal de modo que essa insatisfação com a própria aparência, preocupação com o corpo e os distúrbios de imagem corporal estão presentes desde países ocidentais e orientais.”

Intervenção preventiva em distúrbios de imagem corporal

O professor Pedro Carvalho também coordena projeto de pesquisa voltado para mulheres, homens e minorias sexuais. Isso porque cada grupo possui ideais próprios de beleza corporal, não sendo mais indicado realizar pesquisas agrupando pessoas de diferentes gêneros. “À medida que a ciência vai evoluindo, a gente vai entender melhor as diferenças desses grupos e produzir intervenções”.

Segundo o professor, um indivíduo homossexual, por exemplo, já sofre os efeitos da homofobia sem necessariamente ter que vivenciar uma situação de homofobia. Assim, as diversas interdições sociais decorrentes do preconceito já internalizado podem explicar porque minorias sexuais e de gênero tem maiores problemas com a imagem corporal e maior risco de desenvolverem transtornos alimentares. No caso de homens gays e bissexuais, a prevalência de transtornos alimentares é 15 vezes maior do que na população em geral.

O Pride Body Project é baseado na Dissonância Cognitiva, na redução dos fatores de risco, bem como no aumento dos fatores de proteção para o desenvolvimento de distúrbios de imagem corporal, transtornos alimentares e dismorfia muscular em jovens adultos. As iniciativas, de acordo com o pesquisador, servem para trabalhar a internalização do corpo.

“O projeto que a gente trabalha de intervenção foca num mecanismo que a gente chama de internalização, seja do corpo magro ou do corpo musculoso. A internalização é um mediador desse processo. Pessoas que recebem essa influência social e filtram não caminham em direções problemáticas como o desenvolvimento de distúrbio. Portanto, melhorar ou diminuir essa internalização do corpo é um mecanismo possível.”

O projeto realiza encontros para conversar sobre mídia, marketing, aparência e assuntos relacionados à construção da imagem corporal. Tais encontros conduzem os participantes a entenderem que existe um capital por trás dessa construção da imagem, o que favorece a internalização e consequentemente, alimenta cada vez mais a indústria da beleza e do marketing.

“Os participantes entendem isso e quando a gente usa questionários que avaliam o antes e o depois da intervenção, a gente percebe uma redução dessa internalização. Essa redução é significativa e é essa redução que medeia os outros resultados de aumento da autoestima, da apreciação corporal, redução dos problemas  de imagem corporal e também do risco de algum transtorno alimentar.”

A pós-graduanda Thainá Resende explora em seus estudos as influências que moldam os padrões corporais das mulheres jovens (Foto: arquivo pessoal)

Projeto conta com apoio de estudantes da pós-graduação

O projeto conta com a participação ativa dos estudantes da pós-graduação, o que fomenta ainda mais o aprendizado e desenvolvimento acadêmico e profissional dos estudantes. É o caso da nutricionista e estudante de doutorado em Educação Física, Thainá Resende, que coordena a intervenção entre mulheres. De acordo com ela, as mulheres jovens são muito influenciadas para obter um padrão corporal, na tentativa de se adequar a sociedade.

“As mulheres jovens são muito influenciadas para obter um padrão corporal, na tentativa de se adequar a sociedade, de serem aceitas e amadas. Com o avanço das redes sociais, onde estilo de vida saudável é estimulado, a tentativa de ter um padrão de vida ‘perfeito’ faz com que essas mulheres adotem comportamentos irreais para suas vidas. Como acadêmica, a pesquisa permitiu meu desenvolvimento como pesquisadora, por ser um trabalho controlado e sistematizado, me dando a oportunidade de seguir um planejamento científico e aprender ainda mais sobre essa imensidão que é a ciência.”

Por sua vez, o doutorando em Educação Física pela UFJF, Maurício Almeida, coordena um grupo focado em homens cisgêneros gays e bissexuais. Ele destaca que esses homens enfrentam o que é conhecido como “estresse de minorias”.

O doutorando Maurício Almeida lidera um grupo para homens cisgêneros gays e bissexuais, afirmando que eles enfrentam o ‘estresse de minorias’ (Foto: arquivo pessoal)

Segundo sua pesquisa, embora todas as pessoas enfrentem situações estressantes no dia a dia, como problemas no trabalho e na vida pessoal, as minorias sexuais e de gênero lidam com desafios adicionais, como a necessidade de esconder sua sexualidade por medo ou vergonha, homofobia internalizada e discriminação. Esses fatores aumentam a vulnerabilidade a problemas físicos e mentais, incluindo transtornos alimentares e dismorfia muscular.

“Trabalhar neste projeto foi crucial para minha formação pessoal e profissional. No aspecto pessoal, tive a oportunidade de interagir com uma população altamente estigmatizada no contexto da saúde, compreendendo suas especificidades. Isso me permitiu quebrar estigmas e estereótipos relacionados à sexualidade humana, um tema tão sensível na sociedade contemporânea. Além disso, fiz grandes amizades ao longo do processo. No âmbito profissional, desenvolvemos uma pesquisa de altíssimo nível, reconhecida tanto nacional quanto internacionalmente, que resultou em publicações de grande impacto.”

Confira o episódio do Id Pesquisa em áudio: 

Mais informações:

Pós-graduação em Ciências Aplicadas à Saúde – Campus GV

Pós-graduação Educação Física UFJF/UFV