Conferência internacional Inerge 2024 - Foto Alexandre Dornelas UFJF

Professor Bamidele Adebisi aposta na redução de preço da extração de hidrogênio verde  (Foto: Alexandre Dornelas/ UFJF)

Mais caro atualmente do que o gás natural, o hidrogênio pode se tornar uma das principais fontes de energia renovável, mais barato e menos poluente, até 2030, conforme aponta o professor Bamidele Adebisi, da Universidade Metropolitana de Manchester (Manchester Metropolitan University).

O pesquisador é um dos convidados da Conferência Internacional em Energia Elétrica 2024 (IIncee), que está sendo realizada até esta sexta, 30, pelo Instituto Nacional de Energia Elétrica (Inerge), sediado na Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF). 

O foco do encontro, neste ano, é a transição energética, que visa empregar fontes de energia renovável, com menos impacto no meio ambiente. O Brasil, historicamente abastecido por hidrelétricas, já possui 89,2% de sua matriz elétrica renovável. No mundo, a média é de 30%, conforme dados da organização Ember Climate.

“O hidrogênio é um pilar-chave nessa transição”, destacou o professor, que já esteve três vezes na UFJF, onde atuou como professor visitante e estabeleceu estudos em parceria com pesquisadores locais, como o diretor do Inerge, professor Moisés Ribeiro, da Faculdade de Engenharia.

Comparado a 2020, o valor do hidrogênio verde deve cair de 5 dólares por quilo (R$ 28,33) para 1 dólar (R$ 5,67), em 2030, nos Estados Unidos, conforme perspectiva apresentada pelo profissional. A mudança pode ser acompanhada ao redor do mundo. Na China, conforme Adebisi, já começaram a produzi-lo de modo mais eficiente, com redução de 50% no custo, nos últimos anos. De acordo com o Plano Nacional do Hidrogênio, do Ministério de Minas e Energia, o Brasil pode ter papel relevante nesse campo, tendo iniciado a aplicação dessa fonte em transporte público. 

A denominação verde para o hidrogênio se deve à forma sustentável com que ele é extraído, a partir de fontes renováveis, sem emissão de gás carbônico.  O hidrogênio é obtido da água ou de fontes gasosas, por meio do processo chamado eletrólise, em que há uma passagem de corrente elétrica para a separação das moléculas.

Na extração, à medida que a fonte elétrica é alterada, de solar, eólica ao carvão, a classificação varia entre verde, azul, cinza e marrom (neste último caso, é utilizado carvão com alta emissão de poluentes). Apenas 4% do hidrogênio extraído atualmente tem o “rótulo” verde, conforme o palestrante. 

Flexibilidade

hidrogênio verde _ Foto Freepik

Obtenção de hidrogênio é considerada verde quando realizada por meio de fontes renováveis, como a eólica (Foto: Freepik)

Essa nova fonte pode ser usada de múltiplas formas, alimentando baterias de carros elétricos, no transporte urbano e de carga, em mineração e em outras diversos setores. Uma reação química faz com que se produza energia elétrica. E o resíduo não terá gases de efeito estufa, mas será apenas água, quando há o uso de hidrogênio e oxigênio puro.

O componente também pode ser empregado como matéria-prima para a fabricação de aço e outros itens. “É uma tecnologia disruptiva, que vai matar os seus concorrentes”, prevê o palestrante.

A aposta de Adebisi no hidrogênio e do próprio Inerge em fontes renováveis se deve ao fato de que a transição energética tem estado fortemente em pauta, em consideração às mudanças climáticas, à escassez de petróleo, aos efeitos do uso de combustíveis fósseis no ambiente e às interrupções sofridas pela Europa no corte de gás provido pela Rússia na invasão da Ucrânia.

Por isso, fala-se também em segurança energética, relacionada à capacidade de um país de se manter ativo diante de possíveis riscos e, quando isso acontecer, poder recorrer a fontes renováveis. No caso recente da Alemanha, em meio aos cortes pelos russos, foram reativadas usinas elétricas à base de carvão, mais poluentes.

O professor, de origem nigeriana, participa da African Hydrogen Partnership (Parceria Africana de Hidrogênio, em tradução livre), uma organização que reúne instituições do continente e de outras localidades para desenvolver fontes de hidrogênio verde. Vê vantagens em alguns países africanos ao possuírem população mais jovem e território vasto. Diferentemente do que se passou e ainda se mantém, em países do continente, ao ter seus recursos naturais explorados por outras nações, Adebisi anseia ter seus conterrâneos no controle da produção. 

A conferência internacional, iniciada na última quarta, 28, chega ao fim nesta sexta, 30, após a participação de convidados da Argentina, do Brasil, da Nigéria, de Portugal e do Reino Unido. O tema central, transição energética, coaduna com os objetivos do Instituto Nacional de Energia Elétrica (Inerge).  

Inerge

Conferência internacional Inerge 2024 - Foto Alexandre Dornelas UFJF

Instituto Nacional de Energia Elétrica, dirigido pelo professor da UFJF Moisés Ribeiro, contabiliza 47 patentes (Foto: Alexandre Dornelas/UFJF)

O Instituto Nacional de Energia Elétrica (Inerge), criado em 2009 e respaldado pela Capes/CNPq e Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais (Fapemig), é formado por 65 pesquisadores de seis universidades federais: Juiz de Fora (UFJF), Itajubá (Unifei), Rio de Janeiro (UFRJ), Fluminense (UFF), São João del-Rei (UFSJ) e ABC (UFABC).  A sede é na Faculdade de Engenharia da UFJF.

O instituto visa promover pesquisas científicas e tecnológicas de alto padrão na área de energia elétrica, com o objetivo de competir em nível internacional, atuar na qualificação de pessoal, popularização da ciência, entre outros fins. Desde 2017, já foram publicados 1.431 artigos em periódicos por seus pesquisadores, estabelecidas 47 patentes, publicados 46 livros e defendidas cerca de 230 teses de doutorado e outras produções.

O instituto oferece a oportunidade de trabalho em rede, de compartilhamento de expertise e infraestrutura para o desenvolvimento da pesquisa na área no Brasil. “É um grupo de excelência que conseguiu se reunir e avançar”, resumiu Moisés Ribeiro.

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