O estudo foi conduzido por um projeto de extensão do campus, o Gael.

Tornar a população mais consciente e crítica sobre as potencialidades e fraquezas da região de Governador Valadares em termos sociais e econômicos. Esse é um dos principais objetivos de um estudo conduzido por um projeto de extensão do campus avançado da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF-GV). O trabalho analisou questões como emprego e renda, agropecuária, comércio exterior, despesas municipais, educação, saúde, segurança e habitação.

O Grupo de Análise Econômica Local (Gael) comparou os números da economia valadarense com os do Vale do Rio Doce, de Minas Gerais, da região Sudeste e de outros municípios brasileiros, especialmente aqueles com o mesmo número de habitantes de Governador Valadares. As conclusões do estudo apresentam informações importantes para compreender a situação socioeconômica da cidade. Os melhores índices são aqueles relacionados ao setores agropecuário e habitacional.

Segundo o coordenador do Gael e professor do curso de Economia da UFJF-GV, Vinícius de Azevedo Couto Firme, a falta de discussão, principalmente na imprensa, sobre a realidade socioeconômica dos valadarenses motivou a realização do estudo. “Ninguém fala dos problemas mais sérios da cidade. Esses problemas que aparecem nos jornais, não importa qual emissora, são apenas um reflexo de problemas mais profundos. Estamos falando de uma cidade relativamente pobre, carente de indústrias, extremamente violenta e com um trânsito caótico. Uma cidade que tem um capital humano na saúde muito grande mas, ainda assim, tem uma taxa de mortalidade geral e infantil muito acima da média. Então, a gente precisa entender melhor o que está acontecendo”, explica.

Sobre os dados que mais chamaram a atenção dos autores do estudo, o professor destaca a pobreza relativa, a segurança e a saúde. “Estamos a 100 quilômetros de Ipatinga, uma cidade que tem o mesmo porte de Governador Valadares, e a nossa renda per capita não chega a 60% da deles. Temos um parque industrial bem tímido e pouco desenvolvido. Um outro ponto é taxa de homicídios muito alta – que chega a ser quase três vezes maior que a média de Minas Gerais – e um trânsito com muitos óbitos por habitantes. Não é de se esperar isso de Valadares, que sequer tem uma pista rápida. Com relação à taxa de homicídios, Valadares é comparada a Foz do Iguaçú, que é tríplice fronteira e uma região muito violenta. Outra questão é relacionada à saúde. Descobrimos que Governador Valadares tem uma equipe de saúde muito grande, com muitos médicos, enfermeiros e dentistas por habitante e, ainda assim, com taxas de mortalidade, tanto geral quanto infantil, muito acima da média. Se temos tanta gente trabalhando, por que a taxa de mortalidade aqui é tão alta quanto em outras localidades?”, questiona o docente.

Principais conclusões do estudo

Quando comparada a 72 outras cidades de mesmo porte, Valadares obteve um desempenho expressivo em 2017, ocupando a 10ª posição em relação à produção animal e a 19ª na agropecuária. Entre as cidades mineiras com a mesma população, é superada apenas por Uberaba. Apesar disso, mais recentemente a produção valadarense foi pouco representativa, sendo responsável por apenas 1% do Produto Interno Bruto (PIB) em 2020.

A área de habitação parece ser a mais bem avaliada. A baixa incidência de doenças sanitárias em 2020 e o bom acesso à rede de água, esgoto e coleta de lixo em 2022 são os responsáveis pelo resultado. Mas o estudo questiona se esses dados expressam, de fato, a realidade de Governador Valadares no campo habitacional, já que o número de mortes por doenças típicas da falta de saneamento é elevado.

Já a área de emprego e renda não experimentou os mesmos resultados positivos. Valadares amarga uma das piores posições entre os 72 municípios mineiros na geração de emprego no período de 2020 a 2023, ocupando o 69º lugar. De acordo com o estudo, “é possível que a falta de dinamismo da esfera pública” explique esse mau desempenho. Ainda segundo o trabalho, a cidade é “relativamente pobre, carente de indústrias e dependente do setor público”. Apesar disso, o PIB per capita é maior que a média microrregional e mesorregional, e obteve um crescimento superior à média nacional entre os anos de 2010 e 2020.

Governador Valadares também se mostra “pouco conectada ao mercado internacional”, com mais de 80% das exportações compostas por pedras preciosas. As exportações e importações representaram apenas 2,6% do PIB em 2020, índice bem abaixo daquele de cidades brasileiras semelhantes, cuja corrente de comércio exterior se aproxima dos 60% do PIB.

Quando os assuntos são as despesas municipais, os gastos de Governador Valadares, considerando o porte da cidade, ficaram dentro do esperado no ano de 2020. Apesar disso, o estudo ressalta a “notável concentração nas despesas correntes e pouca ênfase nas de capital, que incluem os investimentos locais”. Quase metade dos recursos do município é investida em saúde (42%), o 9º maior valor entre as 72 cidades brasileiras de mesmo porte, e urbanização (11,5%), percentual superior à média nacional. A priorização dessas duas áreas acaba deixando de lado outros setores importantes, caso da educação, que recebe apenas 16,9%, abaixo, portanto, da média de todas as demais regiões.

E por falar em educação, Valadares registrou um analfabetismo populacional de 5,1% em 2022. O índice é 58% maior que o de Sete Lagoas e 76% superior ao de Divinópolis. A cidade também revelou uma “baixa capacidade de retenção da mão de obra mais qualificada”. A maioria dos trabalhadores têm apenas o 2º grau completo. Em 2020, por exemplo, só 17% dos postos de trabalho era formado por pessoas com o ensino superior completo.

Em relação à saúde, observou-se que a cidade tinha poucos hospitais por habitante em 2022 e altas taxas de mortalidade, incluindo de crianças, no ano de 2020. O número de mortes entre os valadarenses supera a média de Minas Gerais em mais de 25%. Já a mortalidade infantil é o dobro da verificada na vizinha Ipatinga. De positivo, Governador Valadares atende o mínimo de leitos sugeridos pela Organização Mundial da Saúde (OMS) e teve um bom número de médicos, enfermeiros e dentistas por habitantes em 2022. No caso dos dentistas, a cidade supera em 2,6 vezes a média nacional.

A segurança é outra pedra no sapato de Valadares. A taxa de homicídios é 2,8 vezes maior que a média de Minas Gerais e a de morte no trânsito é o dobro da região Sudeste, segundo dados de 2020. Para se ter uma ideia, o nível de insegurança na cidade é semelhante ao de Foz do Iguaçu e Magé, no Rio de Janeiro. Já o trânsito é tão caótico quanto o município alagoano de Arapiraca.

Às vésperas de uma eleição municipal, Vinícius Firme espera que o estudo sirva para “informar bem a população valadarense, para que ela saiba cobrar dos políticos por melhorias e não se deixar levar por pequenas obras que só chamam a atenção”.