Da esquerda para direita: artista Patrícia Almeida; diretora do Maea da UFJF, Luciane Monteiro; o diretor do Jardim Botânico, Breno Moreira; o pró-reitor de Cultura, Marcos Medeiros; o vice-reitor, Telmo Ronzani, a pró-reitora de extensão, Érika Andrade; e a bióloga e artista Izabela dos Reis (Foto: Carolina de Paula/UFJF)

O Jardim Botânico da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) realizou a reabertura oficial da sua Casa-Sede nesta sexta-feira, 12. Após seis meses fechado por estar em obras, o espaço voltou às atividades com três novas exposições artísticas, um livropoema multimídia e uma cafeteria, proporcionando uma experiência enriquecedora para os visitantes. A cerimônia de reabertura contou com a presença do vice-reitor, Telmo Ronzani, da pró-reitora de extensão, Érika Andrade, e do pró-reitor de Cultura, Marcos Medeiros.

A Casa-Sede foi revitalizada com nova pintura interna e externa, ajustes na captação pluvial e outras melhorias. O espaço tem importância histórica por ser testemunha dos 80 anos do espaço que hoje abriga o Jardim Botânico e pela sua conexão com a família Krambeck, que vivia no local. “A gente cuida dela com muito carinho. E após essa reabertura, agora com novas exposições, ela serve para deixar florescer um pouco mais a criatividade dos visitantes, das escolas que vêm visitar este espaço”, destacou o diretor do Jardim Botânico, Breno Moreira.

Para o vice-reitor da UFJF, Telmo Ronzani, a reabertura reforça não apenas o valor acadêmico do Jardim Botânico, mas também seu papel vital na preservação ambiental e como espaço cultural acessível à comunidade. “O Jardim Botânico é um ponto de integração entre a Universidade e a comunidade local, oferecendo oportunidades significativas para extensão, pesquisa e educação em níveis de graduação. E ter esta casa aberta novamente representa um avanço importante para que tanto a comunidade, quanto a Universidade, possam aproveitar ao máximo esse espaço vasto e diversificado”, finalizou. 

Por sua vez, os pró-reitores Érika Andrade e Marcos Medeiros destacaram o fortalecimento das atividades extensionistas do Jardim Botânico, e o enriquecimento que as ações geram na vida cultural e educacional da região. 

A cerimônia também foi marcada pela apresentação do músico Estêvão Teixeira, do Conservatório Estadual de Música Haidée França-Americano, que encantou o público com uma performance instrumental em flauta. O repertório contou com obras como “Passaredo”, de Chico Buarque, e uma composição própria de Teixeira – “Mata do Krambeck”, uma homenagem à floresta que cerca o jardim.

Confira todas as fotos do evento.

Aldeia ancestral

Coleção apresentada por Luciane Medeiros possui mais de 50 peças da etnografia Maxakali e da arqueologia da Zona da Mata mineira (Foto: Carolina de Paula/UFJF)

Durante a inauguração, as novas atrações da Casa-Sede foram apresentadas aos presentes por meio de um “tour” conduzido pelos próprios artistas. Inicialmente, os visitantes exploraram a exposição dedicada aos povos indígenas Maxakali, que historicamente habitaram a região nordeste de Minas Gerais, na divisa com a Bahia.

Intitulada “Hãmhitap hã’ ApnE’ – Aldeia Ancestral”, a mostra reúne aproximadamente 50 peças da coleção etnográfica Maxakali e da coleção arqueológica da Zona da Mata mineira, pertencentes ao Museu de Arqueologia e Etnologia Americana (Maea) da UFJF.

Entre as peças expostas estão cerâmicas e tecelagens produzidas pelas mulheres Maxakali, além de artefatos arqueológicos como lâminas de machado, mãos de pilão e raspadores. Os itens estão distribuídos em três galerias na Casa.

(Foto: Carolina de Paula)

Milene comenta que costuma frequentar o Jardim Botânico nos fins  de semana, mas foi a primeira vez em que visitou a Casa-Sede (Foto: Carolina de Paula/UFJF)

De acordo com a diretora do Maea, Luciane Monteiro, a exposição visa explorar a relação dos povos originários com o ambiente natural. “Nosso objetivo é provocar reflexões sobre essa relação no passado e no presente, especialmente considerando que uma parte significativa dos territórios de preservação ambiental está situada em territórios indígenas. É essencial trazer à luz essa relação complexa para que possamos refletir e repensar nossa própria atuação no mundo.”

Ao visitar a exposição, os visitantes são conduzidos por uma jornada que inclui o simulacro de um abrigo sob rochas com pinturas rupestres, que demonstra as sofisticadas formas de comunicação visual dos povos ancestrais. A exposição também apresenta material etnográfico, como cerâmicas. Por fim, são exibidas cenas de escavações arqueológicas, ilustrando como a ciência da Arqueologia reconstrói e interpreta o modo de vida dos povos originários no Brasil, com base em técnicas e materiais naturais.

“Eu sou simplesmente apaixonada por história, arte, cultura. Estou impressionada com essa cultura que eu desconhecia totalmente. É um local muito prazeroso e rico em informações”, comenta a advogada Milene Acosta, uma das visitantes presentes no evento e frequentadora do Jardim Botânico.

Paineis

Já na exposição “Aventuras do Jardim”, os visitantes puderam apreciar oito painéis que retratam a flora e fauna locais. As pinturas, realizadas pela bióloga e artista Izabela dos Reis, que atua como monitora de educação ambiental no Jardim desde 2023, são feitas com técnica de óleo sobre madeira. 

Izabela dos Reis teve como inspiração para suas obras a beleza do Jardim Botânico  (Foto: Carolina de Paula/UFJF)

As obras retratam espécies como a “íris-da-praia”, com suas flores brancas e roxas em formato de leque; a “mariposa-espelho”, conhecida por suas asas simétricas; e o “araçari-de-bico-branco”, uma ave da família dos tucanos, que se alimenta do fruto da palmeira-juçara, abundante no Jardim Botânico.

“Procurei criar composições que evidenciassem a fauna e a flora do jardim, pois considero crucial a preservação tanto da fauna quanto da flora. Muitas vezes, temos riquezas em nosso quintal desconhecidas da população, apenas esperando para serem descobertas com mais atenção”, explicou Izabela. “Para mim, a combinação entre biologia e arte é natural, pois encontro inspiração contínua na natureza. Cores vibrantes costumam atrair mais olhares, mas também tenho um apreço especial pelas folhagens”, destacou.

Livropoema

Na terceira parada, foi possível conferir conferir a exposição “Transfusão Poética no Jardim Botânico”, uma instalação multilíngue da audiodescritora e multiartista Patrícia Almeida, combinando poesia e arte têxtil de maneira acessível.

Patrícia criou um livro de tecido com estampagem de retalhos e fuxicos em formato de flor, escaneados para compor cada página de seu poema “Retalhos” em braile, português e kheol karipuna – língua dos povos originários Karipuna, do Amapá. Uma videoinstalação complementa a obra. O material audiovisual tem versões em libras, com audiodescrição e em audiolivro disponíveis por meio de links expostos no local. 

Livro criado por Patrícia Almeida, feito de retalhos, retrata o poema com transcrição em braille (Foto: Carolina de Paula/UFJF)

De acordo com a multiartista, o projeto faz parte do livro “Transfusão Poética”, lançado em 2022 com apoio da Lei Municipal de Incentivo à Cultura Murilo Mendes 2021, edital Pau Brasil. “Minha paixão por tecido vem desde a infância, quando eu vinha costurando. Além disso, a capa do livro é feita de lona em homenagem ao meu pai que era caminhoneiro. Todo esse trabalho tem referência, cheio de ‘retalhos’, conta Patrícia. 

A partir de 2007, a artista passou a declamar seus poemas enquanto vendia pães, o que inspirou a criação do livro “Vendo Pão & Água”, distribuído inicialmente em xerox e publicado em 2010. Especialista em audiodescrição pela UFJF, Patrícia atua com foco na inclusão de pessoas com deficiência visual. 

Passaredo

Na foto, Silvino tira uma foto da esposa Marisa, ao lado das pinturas (Foto: Carolina de Paula/UFJF)

No fim da visita guiada, os visitantes foram apresentados à exposição “Passaredo”, composta por obras baseadas em 37 aves inspiradas na icônica música de Chico Buarque e Francis Hime. As pinturas ocupam dois cômodos da Casa-Sede e se harmonizam com o esplendor das áreas verdes do Jardim Botânico, além de fazerem um oportuno apelo às causas ambientais do país. As obras são de autoria do artista Clédson Eduardo Vidigal.

Os trabalhos chamaram a atenção de Marisa Sobrinho e de seu esposo, Silvino Sobrinho, moradores do Rio de Janeiro que estavam de passagem pela cidade. Segundo Marisa, ao saberem da exposição, decidiram visitar o espaço, principalmente por conta das pinturas de pássaros, uma vez que seu filho também pinta quadros relacionados às aves. “Estamos encantados com tudo o que estamos vendo. Nós estamos indo para Viçosa, mas quando soubemos que esta exposição seria inaugurada, quisemos vir para apreciar pessoalmente, filmar, tirar fotos e mandar para o nosso filho. Ele também gosta muito de pássaros e faz artes parecidas com as que estão expostas aqui.”

Vidigal dedicou a exposição à sua mãe já falecida (Foto: Carolina de Paula/UFJF)

De acordo com Vidigal, a inspiração para as pinturas, feitas em tinta a óleo sobre linho, veio da música e de sua mãe. Professora, ela buscava levar às escolas debates sobre ecologia e meio ambiente. “Infelizmente, ela faleceu em dezembro de 2024, mas dedico esta exposição a ela. Além disso, se as pessoas saírem daqui transformadas para melhor, mais sensíveis, mais comprometidas em prol do meio ambiente, já terá valido a pena a exposição”, ressaltou.

Parte das obras expostas no Jardim Botânico já percorreu escolas de Juiz de Fora, e outros quadros continuarão nesse trajeto. Vidigal criou a série “Passaredo” entre 2020 e 2023, como parte do seu projeto “A Arte Vai às Escolas”.

Novo espaço para alimentação

Na nova cafeteria inaugurada nesta segunda-feira, os visitantes podem desfrutar de uma variedade de pratos e bebidas, como bolo, pão de queijo, salgados, café, sucos e muito mais. Este novo espaço atende a uma demanda antiga dos frequentadores do Jardim Botânico, em que os frequentadores podem fazer uma pausa para uma refeição. 

Novo espaço de alimentação está localizado ao lado da Casa-Sede; os visitantes podem apreciar a paisagem do Jardim Botânico enquanto fazem refeições (Foto: Carolina de Paula/UFJF)

Visitas no Jardim Botânico

O Jardim Botânico da UFJF funciona de terça a domingo, das 8h às 17h, com entrada até às 16h. A visita é gratuita e sem necessidade de agendamento, exceto para grupos escolares e realização de ensaios fotográficos. O espaço fica localizado na Rua Coronel Almeida Novais s/nº, no bairro Santa Terezinha. Não há estacionamento próprio, e as duas linhas de ônibus com ponto próximo são as 111 e 112 – Santa Terezinha. Mais orientações estão disponíveis no site.

Leia mais: Jardim Botânico reabre Casa-Sede reformada com 3 novas exposições e cafeteria

Outras informações: (32) 2102-6336 – Jardim Botânico

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