O desenvolvimento de combustível sustentável de aviação (SAF – sigla em inglês para sustainable aviation fuel) faz parte do esforço global de redução da emissão dos gases de efeito estufa (GEE) e do enfrentamento das mudanças climáticas. De acordo com um estudo liderado pela Manchester Metropolitan University, a aviação global é responsável pela emissão de cerca de 3,5% do dióxido de carbono (CO2) que vai para a atmosfera. Considerando a previsão de ampliação do mercado aéreo, essa taxa tende a aumentar em poucos anos, se nada for feito.
A boa notícia é que pesquisas já estão sendo desenvolvidas e o assunto ganha cada vez mais destaque nos debates nacionais, contando com a participação e contribuição da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF).
Quais as vantagens do SAF?
O querosene de aviação (QAV) é o combustível mais usado no setor atualmente, mas é do tipo fóssil não renovável. A transição para alternativas mais sustentáveis, como o SAF, é crucial para descarbonizar a economia. O SAF, também conhecido como biojet ou BioQAV, é um tipo de combustível produzido a partir de fontes renováveis e pode gerar um impacto de redução nas emissões de CO2 em 70% a 90%.
Além disso, o SAF é um combustível “drop in”, ou seja, pode substituir diretamente o jet fóssil. Essa característica faz com que ele possa ser usado nos modelos de aeronaves existentes sem modificações estruturais significativas, tornando sua implementação mais acessível e rápida.
Debate nacional e a participação da UFJF
O uso do SAF no setor de aviação foi um dos temas discutidos durante o 3º Congresso da Rede Brasileira de Bioquerosene e Hidrocarbonetos Sustentáveis para Aviação (RBQAV), realizado no último mês de junho, em Foz do Iguaçu (PR). Presente no encontro, a ministra da Ciência, Tecnologia e Inovação, Luciana Santos, destacou que por ter mais de 80% de eletricidade proveniente de fontes renováveis, o Brasil tem “todas as condições necessárias para liderar a transição energética global”.
“Temos trabalhado incansavelmente para aumentar ainda mais essa participação em nossa matriz energética. Além disso, o país possui um potencial significativo e uma expertise consolidada para liderar a produção e o uso de biocombustíveis”, afirmou.
Também presentes no evento, o ministro de Portos e Aeroportos, Silvio Costa Filho, e o diretor do departamento de biocombustíveis do Ministério de Minas e Energia, Marlon Arraes, reforçaram o compromisso do governo em promover soluções sustentáveis para o setor.
O congresso contou, ainda, com o painel “Caminhos para o Net Zero em 2050: Certificação e Book & Claim para SAF no Brasil”, no qual Fabricio Campos, pró-reitor de Inovação da UFJF, compartilhou estudos e desafios sobre a descarbonização do setor aéreo e destacou resultados obtidos pelo grupo de pesquisadores coordenado por ele e encomendado pela Secretaria Nacional da Aviação Civil.
“Coordenar um estudo sobre descarbonização em uma universidade pública é de extrema importância, pois permite a união de conhecimento acadêmico e prático na busca por soluções sustentáveis. Essa iniciativa não apenas contribui para a formação de profissionais engajados com o meio ambiente, mas também promove a inovação e o desenvolvimento de tecnologias verdes que impactarão positivamente a sociedade e o planeta”, afirmou Campos.
O pesquisador e analista do Parque Tecnológico de Juiz de Fora e região (Partec JF), Nícolas Glanzmann, apresentou o estudo “Cenário da Introdução de SAF em aeroportos”, resultado de uma parceria entre pesquisadores da UFJF, Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) e Universidade Federal de Goiás (UFG). Na apresentação foram discutidas a logística e a infraestrutura de aeroportos internacionais que já utilizam combustíveis sustentáveis para a aviação. Também foram mostradas possibilidades para a introdução desses combustíveis em aeroportos brasileiros, inclusive o Aeroporto Regional da Zona da Mata (IZA).
“O uso de SAF é essencial para a redução das emissões do setor aéreo e, por ser semelhante ao combustível fóssil convencional, pode ser utilizado sem necessidade de adaptações nas aeronaves e infraestrutura aeroportuária”, comentou Glanzmann.
O painel também contou com as participações de Carolina Grassi, da Roundtable on Sustainable Biomaterials, e Eduardo Calderón, da Gol Linhas Aéreas. Calderón divulgou que a Gol e a Vibra, sua fornecedora de combustível no Brasil, estão colaborando em uma iniciativa para compensar as emissões de CO2 por meio do uso de SAF. Esta é a primeira compensação desse tipo no Brasil e utiliza o sistema de cadeia de custódia Book & Claim, garantindo sustentabilidade e rastreabilidade.
Primeira planta de petróleo sintético a partir de biogás
Na mesma semana do Congresso, o Brasil inaugurou sua primeira planta piloto de produção de um combustível sustentável de aviação obtido a partir do biogás. A planta fica localizada na usina Itaipu Binacional, em Foz do Iguaçu. A intenção é produzir 6 kg por dia de bio-syncrude, uma alternativa sintética ao petróleo.