“Será um presente que darei para meu avô: contar o legado que ele deixou para outras gerações”, afirma Miguel Kamirang (Foto: Pecoraro)

O estudante Miguel Kamirang, do curso de Bacharelado em Cinema e Audiovisual do Instituto de Artes e Design (IAD) da Universidade de Juiz de Fora (UFJF), foi contemplado pela Lei Paulo Gustavo (Lei Complementar nº 195/2022), de incentivo a atividades culturais. O aluno recebeu auxílio para impulsionar as gravações do documentário “Raízes Tenetehara: em busca do passado”, que contará a história de seu avô, Gerson Kamirang, indígena Guajajara-Tenetehara natural do Maranhão. 

A produção do documentário se encontra na fase de levantamento de dados. A obra irá reconstituir a trajetória que Gerson fez até chegar a Juiz de Fora. Para isso, Miguel fez visitas ao povoado Guajajara-Tenetehara da cidade maranhense de Guimarães, localidade em que seu avô nasceu. No estado, também irá visitar o povoado Camiranga, onde entrará em contato com outros membros da família. Em uma etapa posterior, as gravações serão realizadas no Rio de Janeiro. O objetivo é demonstrar como era o cotidiano de Gerson quando morou na cidade, mais precisamente no bairro de Botafogo. A última fase de gravações acontece em Juiz de Fora, concentrada no Tenetehara Instituto Cultural, espaço fundado por Gerson Kamirang. 

Produção do documentário fez viagem ao Maranhão para levantar dados para o projeto (Foto: arquivo pessoal)

“Nós iremos retornar para Juiz de Fora a fim de gravar algumas cenas aqui na cidade e iremos focar no Instituto Tenetehara, que ele deixou como herança e como um sonho. Ele também deixou um dos seus maiores tesouros que é a biblioteca do instituto, que conta com um acervo de 4 mil livros sobre culturas diversas mas, sobretudo, a cultura ameríndia. Queremos mostrar isso por meio das gravações”, explica Miguel Kamirang.

Herança cultural

Gerson Kamirang (à esquerda), tema do documentário, fundou instituto cultural localizado em Juiz de Fora (Foto: arquivo pessoal)

De acordo com Miguel, a vontade de fazer o documentário surgiu da necessidade que tinha em entender suas raízes indígenas e encontrar o início da história da herança cultural que recebeu da família. O lançamento do documentário está previsto para o final do ano, ocasião em que haverá um evento gratuito no Instituto Tenetehara, com a participação de líderes indígenas e professores que contribuíram para o processo de criação do filme. 

“Será um presente que darei para meu avô: contar o legado que ele deixou para outras gerações, fazendo com que elas se identifiquem e se reconheçam através disso. É sobre falar de uma arte que transforma não só a minha realidade, mas a de outras pessoas ao meu redor”, fala Miguel. 

Lei Paulo Gustavo 

Aprovada em 2022, a Lei Paulo Gustavo é um incentivo federal para o desenvolvimento de espaços e atividades culturais. Um dos objetivos com a lei é o fortalecimento da cena cultural regional, ao garantir à população o acesso a atividades artísticas diversificadas e de qualidade. O nome da lei homenageia o ator, humorista, diretor e roteirista Paulo Gustavo (1978-2021), falecido em decorrência da covid-19. 

“A Lei Paulo Gustavo é muito nova e foi fundamental para proporcionar essa experiência, porque foi ela que deu esse impulso. Me inscrevi pela primeira vez – também foi o primeiro edital da Lei. Nós ficamos muito felizes quando recebemos essa notícia. Esse auxílio é uma garantia da verba que me permite realizar todas as atividades”, comenta Kamirang.