Prestes a celebrar os seus 58 anos no dia 7 de julho, o Grupo Divulgação (GD) apresentará dois novos espetáculos: o Núcleo de Adolescentes entre em cena com “A Bomba”, nesta sexta, 5. E o Núcleo da Terceira Idade encena “J. G. de Araújo Jorge: o poeta do povo” no sábado, 6. Ambos os espetáculos serão apresentados às 20h no Teatro do Forum da Cultura da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF). As peças são de autoria e direção do coordenador do GD e imortal da Academia Brasileira de Cultura (ABC), José Luiz Ribeiro. A entrada é franca. 

Além do aniversário do Grupo Divulgação, outra data é celebrada: os 30 anos do Núcleo da Terceira Idade, criado em 1994. Ambos os espetáculos são resultado dos projetos de extensão “Centro de Estudos Teatrais: cursos e oficinas” e “Workshop de Interpretação para a Terceira Idade”. Ambos são coordenados pela professora da Faculdade de Comunicação (Facom) e atriz Márcia Falabella.

“A Bomba”

O espetáculo apresentado pelo Núcleo de Adolescentes apresenta uma reflexão sobre a violência existente nos tempos atuais – a bomba do título. O texto apresenta uma colagem de poemas e canções de autores como Thiago de Mello, Vinicius de Moraes e Murilo Mendes. A busca pela paz também permeia as obras. 

“É importante para a juventude ter conhecimento desses poetas e dessas músicas. O que motivou a escolha do tema foi a violência que nós estamos vendo. Temos guerra para tudo quanto é lado. É a falta de tolerância que gera essa guerra, a fome, o desespero”, afirma José Luiz Ribeiro. 

“A Bomba”, com o Núcleo de Adolescentes, apresenta reflexão sobre a violência dos tempos atuais (Foto: Divulgação)

“J. G. de Araújo Jorge: o poeta do povo”

O espetáculo conta com uma reunião de poemas do escritor, político e jornalista J. G. de Araújo Jorge (1916-1987). Nascido no Acre e radicado no Rio de Janeiro, o poeta se caracterizou por seus versos românticos e políticos. Sua poesia lírica e passional o fez ser declamado por locutores de programas de rádio como “Tango e Fantasia”, de Juiz de Fora. 

Araújo Jorge teve postura de oposição à ditadura de Getúlio Vargas e à Ditadura Militar (1964-1985). Na Era Vargas foi impedido de ser orador da turma porque estava preso. Posteriormente, no regime militar, foi eleito deputado federal pelo Movimento Democrático Brasileiro (MDB). Com o fim do bipartidarismo, filiou-se ao Partido Democrático Trabalhista (PDT), fundado por Leonel Brizola (1922-2004). Após a redemocratização, Araújo Jorge seguiu na política. Terminou a carreira parlamentar no Partido do Movimento Democrático Brasileiro (PMDB), legenda pela qual tentou se candidatar à reeleição à Câmara dos Deputados em novembro de 1986, não obtendo êxito. 

“Tem uma fala dele que nós separamos para o programa da peça: ‘Quando a crítica metia o rabo entre as pernas com medo da ditadura, e os poetas, como caramujos de jardim, clausuravam-se em hermetismos artificiais, eu lancei livros que o Dip (Departamento de Imprensa e Propaganda, instrumento de censura da Era Vargas) apreendeu. Participei de comícios dissolvidos a bala.’ Acho importante resgatar esses nomes que a cultura brasileira vai apagando sem a gente ver”, avalia José Luiz Ribeiro. 

Além dos poemas, o espetáculo também conta com canções. Entre os compositores resgatados por José Luiz Ribeiro está Waldemar Henrique (1905-1995). Pianista e maestro, Henrique, assim como Araújo Jorge, é natural da região Norte – nasceu no Pará. 

30 anos do Núcleo da Terceira Idade

O Núcleo da Terceira Idade do GD, resultado da ação de extensão “Workshop de Interpretação para a Terceira Idade” tem origem em um outro projeto extensionista, o “Universidade com a Terceira Idade”, oferecido pela UFJF no início da década de 1990. Os integrantes faziam cursos e recebiam professores convidados. Um desses docentes foi José Luiz Ribeiro, que compartilhou suas experiências com o teatro. 

Núcleo da Terceira Idade, fundado há três décadas, é marco do teatro brasileiro (Foto: Divulgação)

A partir da demanda de participantes do projeto em continuar a ter contato com a arte teatral, nasce o Núcleo da Terceira Idade, uma das iniciativas teatrais pioneiras do Brasil voltadas ao público idoso. O primeiro espetáculo montado foi “Minha Sogra é da Polícia”, de Gastão Tojeiro, em 1994. A metodologia de teatro junto à Terceira Idade promovida pelo GD é destaque na obra “Cartografia do Teatro Brasileiro”. 

José Luiz Ribeiro: Núcleo promove respeito aos idosos em país que está envelhecendo (Foto: Alexandre Dornelas/UFJF)

Para José Luiz Ribeiro, a criação do núcleo mostrou um “novo caminho” de entendimento do ser humano com todos os seus conflitos. “Nós contribuímos para o crescimento do respeito a um país que está se tornando cada vez mais idoso. E demos a todos aqueles que estiveram conosco, uma forma mais alegre e leve de viver a vida”, afirma. 

Além da peça, o público poderá conferir a exposição “30 anos de poesia”, em cartaz na Galeria de Arte do Forum da Cultura. A mostra apresenta uma cronologia do Núcleo da Terceira Idade, com fotografias e figurinos de espetáculos e vídeos de momentos vividos nessas três décadas. O título é uma referência aos espetáculos poéticos apresentados todos os anos, ao final do primeiro semestre – já foram homenageados autores como Adélia Prado, Jorge Amado e Federico García Lorca. 

Impacto social do teatro do Divulgação

Márcia Falabella: “Aqui temos a possibilidade de viver o teatro como uma arte que revigora as pessoas” (Foto: Stess Panissi/Letícia Abdalla)

Coordenadora dos projetos de extensão “Centro de Estudos Teatrais: Cursos e Oficinas” e “Workshop de Interpretação para a Terceira Idade”, Márcia Falabella destaca que o teatro é uma arte “extensionista por natureza” – precisa de pessoas para ser realizada e forma público e atores. Ambos os projetos de extensão preveem a realização de espetáculos, nos quais essa formação pode ser concretizada. 

“Aqui temos a possibilidade de viver o teatro como uma arte que revigora as pessoas. É uma arte viva: corpo, voz, mente, emoções são trabalhadas a cada momento. Existe uma fala da Ariane Mnouchkine (diretora teatral francesa conhecida mundialmente e fundadora da companhia Théâtre du Soleil), que é a seguinte: todos os ministérios deveriam incentivar o teatro, porque se você tem pessoas mais saudáveis, desafoga o sistema de saúde, por exemplo. A gente acredita que nossos projetos atingem a comunidade dessa forma”, afirma Márcia, que também é professora do núcleo. 

Marise Mendes: Grupo Divulgação cumpre a missão de fazer arte por meio de trabalho de cidadania (Foto: Twin Alvarenga)

A diretora do Forum da Cultura, professora do Núcleo da Terceira Idade e ex-atriz do Grupo Divulgação, Marise Mendes, reforça que desde a criação do Forum, o Grupo Divulgação foi “convidado a escrever essa história”. Para Marise, em seus 58 anos – 52 deles vividos no espaço cultural – o grupo cumpre sua missão de fazer arte por meio de um trabalho de cidadania.  

“Além do projeto Escola de Espectador, que abre o espaço para comunidades e escolas carentes poderem ter contato com a arte teatral, os projetos com a Terceira Idade e Adolescentes permitem que esses grupos possam expor suas inquietações e manifestações através dos espetáculos. No caso da Terceira Idade, é um importante espaço para dar voz a pessoas que muitas vezes perderam o protagonismo de suas próprias vidas. E para os adolescentes, o teatro é uma forma de contribuir com sua formação artística e coletiva. E tudo isso reflete na integração do Forum com a comunidade”, afirma Marise, que também é professora da Faculdade de Comunicação (Facom). 

Serviço 

Teatro do Forum da Cultura – Rua Santo Antônio, 1.112, Centro

“A Bomba”

Data: sexta-feira, 5 de julho

Horário: 20h 

“J. G. de Araújo Jorge: o poeta do povo”

Data: sábado, 6 de julho 

Horário: 20h

Outras informações: 

(32) 2102-6306 – Forum da Cultura da UFJF

Instagram: 

Forum da Cultura 

Grupo Divulgação