Ir, andar, sair por aí a procurar, rir para não chorar, assistir o sol nascer, ver as águas do rio correrem, enfim se encontrar. As orientações do compositor Candeia, eternizadas na voz de Cartola, serviram de inspiração para que o fotógrafo João Guilherme Santos se reencontrasse artisticamente com sua câmera, a fim de registrar o cotidiano. De seus cliques surgiram fotografias que integram a mostra “Preciso Andar – o princípio”, aberta na Galeria de Arte do Forum da Cultura da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF). A mostra fica em cartaz até o dia 28 de junho, com visitações de segunda a sexta-feira, das 10h às 19h.

O visitante terá a oportunidade de percorrer cenários urbanos e rurais, interseções entre o complexo e o simples, contrastes entre o concreto e o verde. Mais que uma exposição fotográfica, trata-se de uma reflexão sobre o ciclo contínuo de construção e desconstrução que define a experiência humana. As imagens apresentadas inspiram uma contemplação crítica sobre as escolhas que fazemos e as direções que seguimos enquanto sociedade.

São mais de 20 fotografias em exibição. Os registros, completamente autorais e inéditos, foram realizados entre  2023 e 2024, a partir de caminhos percorridos por João Guilherme em Juiz de Fora e em uma viagem a Conceição do Ibitipoca, distrito de Lima Duarte, na Zona da Mata mineira.

Inquietação artística

De acordo com João Guilherme, a ideia para montar a mostra surgiu de um incômodo que se manifestava há muito tempo em seu íntimo: “como se expressar através da arte?”. Nesse ínterim surgiu uma resposta, ou melhor, um caminho. “Em determinado momento da minha vida eu percebi que a fotografia havia se tornado uma obrigação e eu não sentia mais que havia inspiração. Foi quando decidi iniciar uma série fotográfica na busca por um reencanto”, relata. O fotógrafo explica, ainda, que “a exposição é o início desse trajeto, explorando as primeiras inquietações no trabalho por esse tema, através de uma seleção de fotografias que partem de construções, passam por detalhes da cidade e pela demolição desses locais, até chegar a paisagens onde predomina a natureza”.

O processo de captação das imagens não seguiu um roteiro planejado. Cada registro nasceu a partir de instantes que pareciam estar ansiando pelo encontro com as lentes e que cumpriram seu papel de contar histórias e promover reflexões. “Este itinerário visual é um convite para que cada pessoa explore as fotografias, descobrindo camadas de significado e encontrando seu próprio sentido de renovação. Uma oportunidade para pensarmos sobre a complexidade das nossas criações e a necessidade de desconstrução e simplicidade. Que esta viagem traga novas perspectivas e uma conexão mais profunda com o essencial”, pontua o artista.

As fotografias de Guilherme Santos também possuem o poder de despertar o imaginário, transmutando-se em verdadeiros veículos que nos levam a múltiplos contextos e destinos. Uma rápida contemplação e já é possível pensar: quem habitará o novo prédio a ser levantado? Quantas famílias, sorrisos, festas e choros passaram pelo que está sendo derrubado? Um sofá abandonado na esquina. Presenciou abraços, boas sonecas, risadas até altas horas da madrugada entre amigos? Lá longe, duas comadres conversam dentro do pequeno barraco de madeira. Qual será o assunto? E depois da porteira, ao pé da grande montanha, quantas lembranças escondem-se estendidas nas roupas daquele varal?

“Preciso Andar – o princípio” cumpre ainda um papel documental. É um recorte fotográfico que contribui para a composição da memória regional, principalmente na cidade de Juiz de Fora e no distrito de Conceição do Ibitipoca, os cenários e objetos das fotografias.

João Guilherme Santos foi um dos artistas selecionados pelo Edital de Ocupação da Galeria de Arte do Forum da Cultura 2024, cujo resultado foi divulgado no dia 15 de março.

Mais sobre o artista

Nascido em Juiz de Fora, João Guilherme Santos se encantou pela arte da fotografia quando fez sua graduação em Jornalismo na Faculdade de Comunicação (Facom) da UFJF. Ao longo dos anos, adquiriu experiência através de outras formações acadêmicas e práticas, além de colaborar como sócio em um estúdio fotográfico. Também participou da produção e execução de exposições em parceria com a Pró-reitoria de Cultura (Procult) da UFJF, ampliando suas conexões e compreensão do mundo da arte. Seu trabalho se caracteriza, principalmente, pela captura de detalhes e momentos despercebidos da vida cotidiana, buscando uma narrativa visual única. A mostra “Preciso Andar – o princípio” é a primeira exposição individual de João Guilherme.

Galeria de Arte

O espaço, instalado em um local privilegiado no segundo pavimento do Forum da Cultura, abriga produção eclética, com exposições de artes plásticas, documentais e pedagógicas, que já chegaram a ter mais de mil visitantes por mostra. Criada em 1981, no reitorado do professor Márcio Leite Vaz, a galeria recebe importantes nomes da pintura de Minas Gerais e da cidade, além de jovens artistas e coletivos. Em janeiro de 2024, o espaço passou por reforma, substituindo as antigas placas de madeira por novas, garantindo assim, um espaço renovado com estruturas reforçadas para as mostras a serem expostas. O sistema de iluminação também foi renovado, possibilitando mais destaque para as obras em exibição.

Forum da Cultura

Instalado em um casarão centenário, na Rua Santo Antônio, 1112, Centro, o Forum da Cultura é o espaço cultural mais antigo da UFJF. Em atividade há mais de cinco décadas, leva à comunidade diversos segmentos de manifestações artísticas, abrindo-se a artistas iniciantes e consagrados para que divulguem seus trabalhos.

Outras informações: (32) 2102-6306 – Forum da Cultura da UFJF

E-mail: forumdacultura@ufjf.br

Instagram: @forumdaculturaufjf

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