A vinda da cantora Madonna, reconhecida como a Rainha do Pop, ao Brasil é histórica. Sua presença será marcada por um acontecimento único e inédito: um show gratuito na praia de Copacabana, no Rio de Janeiro, neste sábado, 4 de maio, no encerramento da “The Celebration Tour” (Turnê de Celebração), em comemoração aos seus 40 anos de carreira. Com uma estimativa de público que ultrapassa a marca de um milhão e meio de pessoas, a repercussão é inevitável, envolvendo a mídia, os fãs e as redes sociais.
Neste momento singular da história da artista – mesmo não sendo a estreia dela no país -, a Diretoria de Imagem Institucional da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) realizou entrevistas com especialistas de diferentes campos para analisar o significado e a importância deste acontecimento. A vinda da cantora não é apenas um evento para ser registrado, mas também uma oportunidade de refletir sobre sua influência e legado cultural.
Segundo a professora Carla Fraga, do Departamento de Turismo da UFJF, a apresentação da cantora na praia de Copacabana vai muito além de um simples espetáculo. Para ela, o evento demonstra a capacidade do Rio de Janeiro e do Brasil em receber grandes eventos, atingindo públicos ao redor do mundo por meio da mídia. “Além disso, esse tipo de acontecimento tem o potencial de atrair visitantes em períodos de baixa temporada, auxiliando a balancear a demanda ao longo do ano.”
Além da visibilidade para a cidade carioca, segundo dados divulgados pela Prefeitura do Rio de Janeiro, estima-se que a performance de Madonna traga cerca de R$293,4 milhões de reais para a economia local, por meio de gastos com alimentação, transporte, hospedagem e turismo. Para Carla, isso demonstra a importância dos eventos dessa natureza não apenas para a cultura, mas também para a economia regional.
A professora destaca, ainda, que o evento é aberto ao público, o que permite a participação de diversas pessoas, sejam elas moradoras locais ou visitantes.
“Dessa maneira, a inclusão social se torna mais ampla, promovendo uma prática mais efetiva da cidadania. Além disso, a experiência emocionante e memorável proporcionada pelo espetáculo se torna uma das principais características do evento. A narrativa, seja presenciada nas areias de uma das praias mais famosas mundialmente ou transmitida pela mídia, tem o potencial de impactar de forma positiva as relações entre turismo e eventos no Brasil, tanto no presente quanto no futuro”, afirma a professora do curso de Turismo da UFJF.
Em consonância com Carla, a professora da Faculdade de Comunicação Social da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), Maria Helena Carmo, também acredita que “a concretização desse evento no Rio de Janeiro reforça a ideia oficial de que a cidade tem capacidade para sediar grandes festividades, como o carnaval e o Réveillon, eventos amplamente conhecidos mundialmente”, pontua. A professora também destaca que a celebração dos 40 anos do Rock in Rio influencia positivamente essa percepção da cidade.
Para Maria Helena, a chave para o progresso está na constante melhoria da infraestrutura e na profissionalização dos serviços prestados aos visitantes. Para ela, “é essencial que as cidades invistam em eventos para impulsionar a economia, o que requer investimentos tanto públicos quanto privados.”
“Grandes eventos nacionais e internacionais de música contribuem para geração de empregos diretos e indiretos e tendem a contribuir para uma melhor capacitação de profissionais do país. Além disso, o artista internacional pode trazer ‘novas ideias’ para gestores locais. Por exemplo, no show da Madonna, foram criados vários produtos comemorativos ao maior show da sua carreira, como camiseta e a bolsa sacola”, comenta a professora.
Afinal, por que Madonna é este fenômeno?
Aos 65 anos de idade, Madonna Louise Ciccone é uma artista multifacetada nascida no estado do Michigan, nos Estados Unidos. Com atuação em diversas frentes (cantora, compositora, produtora musical, atriz, escritora, dançarina e empresária), a intérprete se consolidou como uma das personalidades mais influentes na cultura popular.
Na visão do professor Raphael Bispo, do departamento de Ciências Sociais da UFJF, essa personalidade se sobressai não somente por sua notoriedade inicial como cantora e atriz, mas também por seu impacto social. Durante sua jornada, ela não só manteve sua originalidade, mas também desafiou convenções sociais, dando voz a comunidades marginalizadas e lutando contra a opressão feminina e sexual.
“Acredito que, ao longo dos anos, ela mostrou grande versatilidade, abordando questões pertinentes de sua época e se destacando no cenário pop mainstream. Sempre de maneira inovadora e polêmica, incentivando discussões e reflexões”, reforça o professor.
Refletindo sobre o impacto de sua música e as questões de sua época, Bispo destaca a cantora como uma artista que se diferencia entre os muitos artistas que são admirados pelo público LGBTQIA+. “Ela sempre foi habilidosa ao abordar esses temas, mesmo em um período em que eram pouco discutidos”, comenta. O professor relembra que nos anos 80 e 90, a epidemia da AIDS resultou em um grande estigma em relação às diferentes orientações sexuais. No entanto, a cantora, ao contrário desta visão, promoveu a diversidade sexual em suas músicas de forma positiva, incentivando discussões responsáveis.
O questionamento às normas comportamentais é um elemento da obra de Madonna também apontado pela cantora e regente do Coral da UFJF, Ana Sukita. De acordo com Sukita, a artista americana foi pioneira ao defender que as mulheres tinham o direito de se expressar sem serem reprimidas por padrões sociais ultrapassados. “A sua audácia ao abordar assuntos como sexualidade e feminismo contribuiu para uma maior presença feminina no mundo da música”, ressalta.
Influência na moda e na música
Madonna é reconhecida não só por suas canções envolventes, mas também por sua capacidade de se renovar esteticamente a cada novo trabalho. Desde o início de sua trajetória até os dias de hoje, ela tem inovado ao criar um visual que vai além do tradicional, desafiando as convenções da moda e da sociedade.
Para a professora Maria Claudia Bonadio, do curso de Moda do Instituto de Artes e Design (IAD) da UFJF, Madonna formulou uma ideia inovadora para a indústria do entretenimento: a imagem completa. Não se limitando apenas a mudar de roupa, mas se propondo a realizar uma mudança total que envolve maquiagem, cor do cabelo e até mesmo a história visual por trás de cada obra, seja um álbum, um videoclipe ou uma turnê.
“Um dos aspectos singulares das turnês da cantora Madonna é a consistência visual que ela mantém durante cada espetáculo. Seja por meio dos figurinos escolhidos ou das performances elaboradas, cada turnê é meticulosamente planejada para comunicar uma identidade exclusiva, frequentemente ligada ao álbum que está sendo promovido naquela ocasião”, pontua.
A característica que conecta todos os estilos que Madonna apresenta ao longo de sua trajetória é sua tendência incorreta. Desde os marcantes visuais de “Like a Virgin” e “Material Girl”, que desafiaram as normas da moda da década de 1980, até o célebre corset criado pelo estilista Jean-Paul Gaultier usado na turnê “Blonde Ambition”, Madonna sempre esteve à frente de seu tempo, desafiando padrões e preconceitos.
Em consonância com a professora Maria Claudia, Sukita acredita que Madonna alcançou o sucesso não somente pela sua música, mas também pela habilidade de combinar elementos visuais marcantes e apresentações cheias de energia, envolvendo estilo visual impactante, bailarinos e coreografias audaciosas, assim como Michael Jackson. Para a regente, Jackson e Madonna são os precursores deste tipo de trabalho no palco. “Infelizmente, Michael Jackson não está mais aqui. Então, ela continua mantendo esse brilho depois dos 60 anos de idade e mantendo toda uma energia no palco. Isso é incrível”, comenta entusiasmada.
Outra característica de Madonna é a sua capacidade de mesclar diferentes gêneros musicais; algo que também pode explicar a sua longevidade artística. “Madonna sempre se destacou em sua abordagem musical, misturando diversas tendências e influências em suas canções”, acredita Ana. “Ao se manter sempre atualizada e adaptável às mudanças constantes na indústria da música, ela conseguiu manter sua posição como a diva do pop ao longo das décadas”, completa.
Ainda na avaliação de Sukita, “Madonna não se contentou em apenas atingir o estrelato nos anos 80; ela o reinventou, com uma combinação de rebeldia, talento musical e habilidades de dança excepcionais, surgindo como uma força sem igual no universo musical”.
Grandes eventos como foco de pesquisa
Enquanto os preparativos para o grande evento continuam a todo vapor, o debate sobre os impactos e benefícios dos grandes eventos continua na UFJF. Projetos de pesquisa e artigos científicos, como o projeto “Abordagens multidimensionais sobre interfaces entre Turismo, Transportes e Eventos pela ótica da sustentabilidade”, coordenado pelos professores Carla Fraga e Marcelo Knop, ambos do Departamento de Turismo da UFJF, demonstram o interesse crescente em entender esses fenômenos sob diversas perspectivas, incluindo a sustentabilidade e os Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS) da Organização das Nações Unidas (ONU).
Nesse contexto, tanto alunos do curso de graduação em Turismo, quanto da especialização em Gestão Pública de Turismo e Desenvolvimento Regional estão engajados em pesquisas e trabalhos que exploram a relação entre turismo e eventos, contribuindo para um entendimento mais abrangente dos desafios e oportunidades associados a esses grandes acontecimentos. Esses estudos são essenciais para orientar políticas públicas e práticas de gestão que visam maximizar os benefícios desses eventos para todas as partes envolvidas.