A abertura da 2ª Semana Nacional de Jornalismo da Associação Brasileira de Imprensa (ABI) foi realizada na última segunda-feira, 1º, no Anfiteatro das Pró-Reitorias da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF). Com o mote “60 anos do Golpe – 1964/2024”, a Semana marca as seis décadas do golpe civil-militar que deu início ao regime ditatorial que durou até 1985. A abertura do evento foi promovida pela ABI em parceria com a Faculdade de Comunicação (Facom) da UFJF.
A mesa de abertura contou com a mediação do jornalista Xico Teixeira, membro da ABI, além da participação dos jornalistas Aníbal Pinto e Pedro Paulo Taucci. Também participaram a jornalista e professora da Facom, Christina Musse, e o jornalista e professor aposentado da Facom, José Luiz Ribeiro, também coordenador do Grupo Divulgação.
A Semana de Jornalismo é uma iniciativa da Comissão de Educação da ABI e conta com relatos de jornalistas que cobriram a Ditadura Militar, professores universitários, historiadores, pesquisadores e políticos. Além da UFJF, outras quatro universidades brasileiras sediam o evento – Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), Universidade de São Paulo (USP), Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) e Universidade de Brasília (UnB).
Memórias da imprensa
Juiz de Fora foi o local escolhido para a abertura da Semana da ABI, por ser a cidade em que o Golpe de 64 começou. O levante golpista foi para as ruas a partir da marcha empreendida pelas tropas do general Olímpio Mourão Filho, saída da cidade em direção ao Rio de Janeiro. Na época, Mourão Filho era o chefe da 4ª Região Militar, então sediada na cidade da Zona da Mata mineira.
“Esse período nefasto da nossa história nasceu em Juiz de Fora. Estamos fazendo o nosso papel de lembrar o passado, o que é importante para que possamos garantir o futuro com democracia, liberdade e justiça”.
A relação entre o curso de Jornalismo da UFJF e o período histórico da ditadura foi destacada pelo jornalista e vice-diretor da Facom, Rodrigo Barbosa. Como apontou o professor, o curso já existia quando foi dado o Golpe e formou jornalistas que atuaram na imprensa da época.
“Para a Facom, é importante que a gente tenha oportunidade de ouvir esses testemunhos, e, ao mesmo tempo, refletir sobre o que vai acontecer no jornalismo daqui para frente. É uma oportunidade para que os jornalistas reflitam sobre a sua atividade, já que ela é impactada em vários momentos de censura, de perseguição aos profissionais do jornalismo, além das restrições às atividades da imprensa.”
A ação da censura foi recordada por José Luiz Ribeiro. Na época, Ribeiro também lidou com a censura no teatro – como ator, diretor e dramaturgo. “A gente aprendeu a burlar a censura. Então o que era proibido ser feito, a gente fazia de uma forma diferente. Em dez anos, centenas de peças de teatro foram cortadas. O que queremos é lutar para que tais coisas não se repitam. É necessário que a gente conte às novas gerações o que se passou, de uma forma muito forte para que as pessoas saibam o que é esse sofrimento.”
O jornalista Pedro Paulo Taucci falou sobre suas experiências na cobertura jornalística durante a ditadura. De acordo com Taucci, a imprensa era impedida de publicar determinadas matérias, apesar de também ter havido conivência com o regime.
“A gente trabalhava muito. Mas o que a gente produzia não era exatamente o que nós ‘devíamos’ produzir. Havia matérias que não podiam ser publicadas. Cheguei a sofrer 14 processos por conta disso. Muitos jornais perderam leitores por conta da censura.”
Semana Nacional de Jornalismo
No site oficial da ABI é possível conferir a programação completa da 2ª Semana Nacional de Jornalismo. A mesa de abertura foi transmitida pelo YouTube e pode ser conferida na íntegra no canal da ABI.