Com uma série de atividades idealizadas para comemorar os 95 anos do Cine-Theatro Central ao longo do ano, a Pró-reitoria de Cultura (Procult) inaugura a Galeria Angelo Bigi, que apresenta 27 obras do artista ítalo-brasileiro reunidas por Antônio Carlos Duarte em um acervo doado à Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF). A abertura está marcada para este sábado, 23, às 10h. Haverá visita técnica à Galeria, com o lançamento do catálogo da exposição, contando detalhes da vida e da obra do pintor, a partir de uma Linha do Tempo que revela sua trajetória desde a chegada ao Brasil em 1907.
O reitor da UFJF, Marcus Vinicius David, a pró-reitora de Cultura, Valéria de Faria Cristofaro, o diretor do Cine-Theatro Central, Luiz Cláudio (Cacáudio) Ribeiro, e o arquiteto Antônio Carlos Duarte estarão presentes, marcando o resultado das obras que propiciaram a criação desse novo espaço artístico e cultural. Trata-se de um projeto que homenageia o responsável pelas pinturas parietais que decoram o prédio inaugurado em 1929, com tombamento pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) desde 1994, ano em que o Cine-Theatro Central foi incorporado pela Universidade.
Sob a salvaguarda do Museu de Arte Murilo Mendes (Mamm) até a conclusão das obras que propiciaram a criação desse novo espaço, a coleção engloba um lote de 38 pinturas de cavalete, aquarelas sobre papel, óleos sobre tela e sobre madeira, focando paisagens, casarios, naturezas-mortas e marinhas, além de um retrato que dá destaque a Dom Quixote de La Mancha, o personagem criado pelo espanhol Miguel de Cervantes, a quem Angelo Bigi dedicava especial admiração.
Muito a comemorar
O reitor, que deixa o cargo em abril, depois de dois mandatos consecutivos, assinala a importância do evento, lembrando que os 95 anos de inauguração do Central refletem uma data a demarcar 30 anos da aquisição do prédio pelo Governo do Presidente Itamar Franco, com o empenho do ex-ministro da Educação, professor Murílio de Avellar Hingel, ex-professor da UFJF. A ocasião também delineia três décadas desde o tombamento federal do prédio e da grande reforma física e restauração artística que permitiram sua reabertura ao público.
Valéria Faria, que se despede do cargo após três reitorados, considera a realização da Galeria Angelo Bigi como um momento especial da Procult, sendo a concretização de um projeto que tem o mérito de se aprofundar em detalhes pouco conhecidos da vida e da obra do artista que chegou a São Paulo aos 16 anos, percorreu inúmeros estados brasileiros e se radicou em Juiz de Fora, onde deixou sua principal obra pictórica: as paredes e o teto do Cine-Theatro Central.
Cacáudio, à frente do Central desde 2017, relata a importância das obras realizadas para a criação da Galeria Angelo Bigi, e que demandaram a transição dos escritórios anteriormente instalados no foyer do segundo andar para o último piso. Ele ressalta a parceria e a sintonia com as equipes da Pró-Reitoria de Infraestrutura e Gestão (Proinfra), que colocaram em prática o projeto arquitetônico assinado por Reinaldo Chagas e Daniela Herdy. Cacáudio lembra ainda que a nova galeria ocupa um espaço com uma história à parte, por ter abrigado o Cine Festival, pequena sala dedicada a filmes de arte que funcionou no local entre os anos 1970 e 1990.
Doador da coleção à mostra, Duarte adquiriu seu primeiro quadro de Angelo Bigi no Rio de Janeiro, em 1995. Dali para frente foram 30 anos de pesquisas e procura em leilões, feiras de antiguidades, antiquários e galerias de arte. As aquisições foram crescendo em qualidade e quantidade até formarem um lote expressivo o bastante para integrar a Galeria.
No total, 12 óleos sobre tela, 18 óleos sobre madeira, um óleo sobre tela e madeira, um óleo sobre cartão e duas aquarelas sobre papel fazem parte desse garimpo histórico que expõe o espírito de Duarte como colecionador. A coleção, assim, guarda o mérito de desvelar diferentes períodos de criação de Bigi.
“O plano de doar a coleção a uma instituição pública foi tomando forma, com a intenção de criar um espaço onde o artista imigrante pudesse se expor também como um pintor de telas. O Cine-Theatro Central, casa de Raphael Arcuri, mas também de Angelo Bigi, foi uma utopia, que a partir de sondagens informais à Universidade, em especial à pró-reitora Valéria, e de uma espera inquietante, que incluiu os anos de pandemia, finalmente se concretizou”.
O projeto incluiu, além da proposta estrutural, iluminação técnica, mobiliário expositivo, ar-condicionado, mapeamento gráfico e acessibilidade, envolvendo também ações de curadoria, organização, montagem, identificação de acervo, plano museológico, reserva técnica e controle documental, estes últimos à cargo do Mamm.