“Quando o carteiro chegou e o meu nome gritou com uma carta na mão.” A bela canção conta sobre o coração que sempre dispara quando um carteiro aponta no portão. Trazendo boas novas, desta vez, mais do que chegar, entregar as missivas e partir rumo ao próximo destinatário, os carteiros adentram o casarão do Forum da Cultura como homenageados na primeira exposição da Galeria de Arte no ano de 2024.

Primeiro dia de circulação da Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos (Imagem: Divulgação)

A mostra “Carteiro: essa profissão tem que gostar de sê-lo”, em cartaz desde terça-feira, 30, traz ao público uma série de selos que apresentam parte da trajetória destes profissionais que marcaram – e marcam – de tantas formas, a história de nosso país e do nosso povo. O vernissage ocorre a partir das 18h30, é gratuito e aberto ao público em geral.

Na curadoria da nova exposição, está o conservador e restaurador de bens culturais, Ângelo Abreu, que, aliando seu fascínio pelos selos e a admiração pelo trabalho dos carteiros, propõe uma verdadeira viagem ao tempo, através da qual o público tem a oportunidade de contemplar e valorizar ainda mais essa figura. “O objetivo dessa exposição é evidenciar o carteiro. Traçando uma linha cronológica através dos selos e postais, buscamos apresentar o histórico deste profissional e as mudanças dos elementos no seu entorno, como, por exemplo, a evolução dos uniformes. É interessante notar há quanto tempo ele está presente em nossa sociedade, dentro de uma instituição, levando mensagens, mesmo diante das mais diversas intempéries e desafios”, explica.

O encanto de Ângelo pela filatelia – ato de colecionar e estudar selos – eclodiu há três anos, mas a semente já estava plantada desde a infância. “Lembro-me de estar sentado na perna esquerda de meu pai e ele, no telégrafo, nos anos 70, em Andrelândia (MG). Meu pai, João de Abreu, era carteiro, e uma de minhas memórias era a de ele estar sempre com uma carta ou um selo na mão. Eu devia ter uns setes anos, e nessa época, inclusive, eu saía com meu pai para levar essas correspondências. Foi assim que me envolvi e me maravilhei com o universo do correio”.

Série Mulheres do Brasil (Imagem: Divulgação)

O resultado dessa paixão reflete-se no árduo e minucioso trabalho de garimpar, encontrar, separar e realizar o processo de curadoria da série de selos presente na exposição. São mais de cem itens que abordam diversas temáticas e que possuem, como origem, diferentes estados do Brasil, como, por exemplo, Piauí, Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul. Vale ressaltar ainda que todos os selos, cartões e postais em exibição são originais, impressos pela Casa da Moeda.

Entre os destaques da mostra estão uma seção de cartões que mostram a evolução do uniforme do correio, desde 1870; postais do século XIX, vindos de Portugal; postais alemães de 1985 que apresentam desenhos das primeiras versões das bicicletas; selos com temáticas florais, selos exaltando a música e, ainda, um conjunto de abridores de cartas feitos em madeiras. Chama atenção o excepcional estado de preservação destes itens impregnados de história e memórias afetivas.

Juiz de Fora também é reverenciada através de selos comemorativos que apresentam prédios históricos do município, como a catedral e o antigo prédio da prefeitura, além de uma feira agropecuária com data de 1945. Alguns dos exemplares apresentados são folhas completas, onde é possível ver os picotes entre os pequenos cartões, no caso, nunca utilizados. 

“O selo é uma semente, para arte, para o conhecimento, e o carteiro é o responsável por semeá-la. É por isso que gosto de ressaltar a importância desse profissional. Ele leva o movimento todo. O que foi pensado, o que foi resolvido. Ele leva a incógnita na mão. Ninguém sabe ainda o que foi questionado ou solucionado, mas ele vai levar. Ele tem o remetente e ele tem que chegar ao seu destino. Às vezes, ele leva tristezas, às vezes, alegrias, às vezes, guerra, às vezes, paz, é uma infinidade de possibilidades que existem nesse mundo do carteiro, do selo, da carta, do postal.”

Profissão secular
Dia 25 de janeiro é considerado o “Dia do carteiro”. A data está associada à comemoração da primeira tentativa de instituição de serviços de correios na América portuguesa, em 1663. Este seria o marco da nomeação do primeiro assistente de correio-mor, o alferes João Cavaleiro Cardoso, para o Rio de Janeiro.

A palavra “carteiro” foi utilizada pela primeira vez em Instruções de 1843. O documento diz respeito justamente à denominação do funcionário responsável pela distribuição da correspondência de porta em porta. O carteiro, portanto, surge em nossa história no segundo quarto do século XIX, e não se confunde com o momento da instituição dos Correios no Brasil, ou seja, o ano de 1663. Dessa forma, podemos dizer que carteiro e selo postal nascem juntos.

Desde então, ocorreram muitas transformações nos serviços postais. Os serviços de Correios e as atividades de carteiro passaram a fazer parte da vida social, política e econômica do Brasil, estando presente em momentos históricos importantes e, sempre, contribuindo para a integração do território nacional, redução das assimetrias regionais e desenvolvimento do país.

Uma história selada
Ao longo do século XIX, o serviço postal inglês estabelecia a cobrança da taxa de correspondência ao destinatário, levando em conta a distância percorrida. Devido a esse sistema, muitos destinatários recusavam as cartas ou despachos, alegando valores exorbitantes, gerando, assim, prejuízo aos Correios.

Homenagem ao circo brasileiro (Imagem: Divulgação)

Em 1837, Sir Rowland Hill apresentou um projeto de reforma postal à realeza, com o título “A Reforma Postal, sua importância e como realizá-la”. No texto, dois pontos de destaque: a cobrança antecipada do valor do porte e a regulamentação da taxa segundo o peso, e não mais segundo a distância e o número de páginas, o que tornava extremamente complexa a operação de cálculo do valor.

É nesse ponto que surge o selo. Para comprovar o pagamento antecipado da taxa, ponto considerado fundamental na proposta, Rowland Hill sugeriu a utilização de um pedaço de papel de tamanho suficiente para receber uma estampa, coberto na parte traseira com goma, que o portador poderia, aplicando um pouco de umidade, prender na parte posterior da carta. Ou seja, um selo postal.

O primeiro selo postal do mundo foi, portanto, colocado à venda no primeiro dia de maio de 1840, tendo, entretanto, entrado oficialmente em circulação no dia 6 de maio. Era todo preto, tinha o valor de um “penny” (moeda de um centavo) e representava a efígie da Rainha Vitória, aos 15 anos de idade, na época de sua coroação. Ele é conhecido como “Penny Black”.

Os selos seguem sendo utilizados até os dias atuais, exercendo ainda a função de comprovar o pagamento adiantado de taxa pelo envio de carta pelos correios. No decorrer das décadas, entretanto, eles ganharam ainda mais importância, ao registrar e fazer circular imagens tidas como parte importante da simbologia atrelada à história oficial de um Estado-Nação. Recortes singelos em tamanho, mas gigantescos em conteúdo.

Os selos no Brasil
Com a forte influência dos ingleses sobre a nação, desde a vinda da família real e a abertura dos portos, o Governo Imperial Brasileiro não demorou a aderir à reforma postal recém instalada naquele país. Assim, em 1842, o Brasil torna-se o segundo país a implantar o novo sistema de serviços dos Correios baseado na cobrança antecipada da taxa, por meio do selo, e no cálculo da despesa segundo o peso das cartas.

Em 1º de agosto de 1843, foram instituídos os primeiros selos postais do Brasil, denominados “Olho-de-Boi”. Este selo é considerado o segundo de circulação nacional emitido no mundo. No dia em que foi lançado o Olho-de-Boi comemora-se anualmente o Dia do Selo Postal Brasileiro.

Na mostra “Carteiro: essa profissão tem que gostar de sê-lo”, é possível conferir de perto os raros selos lançados no ano de 1943, em comemoração ao centenário de lançamento dos primeiros selos brasileiros.

Descobrindo a filatelia
O termo “filatelia” é etimologicamente formado das palavras gregas phílos (amigo, amador) e atelês (franco, livre de qualquer encargo ou imposto), podendo ser literalmente definido como o “amigo do selo”.Convencionalmente, a filatelia é definida como o ato de estudar e colecionar selos postais. Porém, muito mais do que um hobby, a filatelia é, ao mesmo tempo, uma ciência e uma arte que apaixona pessoas de todo o mundo.

Especificamente para a Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos (ECT), ela é definida como o conjunto de atividades, de cunho mercadológico, cultural e institucional, relacionadas ao estudo dos selos postais e à prática de colecioná-los.

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