Os resultados da pesquisa de doutorado do professor de Estudos latino-americanos, Júlio da Silveira Moreira, foram apresentados durante a VII Mostra de Ações de Extensão da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF). O docente da Universidade Federal da Integração Latino-americana (Unila) participou de rodas de conversa sobre temas como migração, juventudes e direitos fundamentais, onde compartilhou os estudos realizados entre os anos de 2010 e 2015, que culminaram no livro “Violência contra migrantes no México”, da Editora UFG.
A pesquisa abordou o contexto da migração brasileira pelos Estados Unidos, com enfoque nos desafios dos migrantes em trânsito pelo México. De acordo com o docente, a região leste de Minas Gerais, mais precisamente Governador Valadares, tem grande histórico de deslocamentos para a América do Norte. “Nos últimos três, quatro anos, temos visto uma quantidade muito grande de brasileiros sendo presos na fronteira dos Estados Unidos. A gente sempre vê reportagens sobre essas prisões massivas, então a pesquisa tem esse objetivo de sensibilizar a região sobre os problemas sociais e econômicos da migração”, explicou.
Entre os questionamentos motivadores do trabalho, Moreira destacou as violações nos direitos fundamentais dos migrantes durante a travessia. “O principal acontecimento que tenho estudado é o caso do massacre de San Fernando, [ocorrido em 2010, quando 72 imigrantes – incluindo quatro brasileiros – foram encontrados mortos no estado de Tamaulipas, no norte do México]. Esse crime mexeu com todo o continente, e expôs a política de colaboração entre o governo mexicano e os cartéis do narcotráfico. A pergunta que eu faço é como essa migração de pessoas do Brasil para os Estados Unidos, que deveria ser minimamente segura, chega ao ponto de cair nas mãos de uma rede de narcotráfico, que gratuitamente, sem nenhuma piedade, assassinou essas pessoas? E aí ocorrem as violações de direitos, que se dão não só pelos cartéis de narcotráfico, mas também por autoridades estatais”.
Precariedade leva à busca pela migração
Ainda segundo Moreira, a pesquisa mostrou que a precariedade das condições de vida na região do leste de Minas Gerais, principalmente para os jovens, além da falta de acesso não só a empregos, mas a uma melhor perspectiva de vida culmina na busca pela migração. “A concentração fundiária, a concentração da terra, essa recorrência de grandes fazendas de gado aqui na região leste colabora muito. Soma-se a isso o fato de a economia local ser predatória, exploratória, e não uma economia solidária, circular, familiar”.
Nesse sentido, o trabalho realizado buscou, de acordo com o pesquisador, “chamar a atenção para que existam mais políticas públicas de desenvolvimento econômico, social, cultural e educacional, para além da Universidade. É muito evidente que políticas assim, como a própria existência da universidade, podem trazer uma outra história, que é a não necessidade da migração”.
Parceria com a UFJF-GV
O vínculo entre o docente da Unila e o campus Governador Valadares da UFJF teve início em 2020, quando Moreira participou de seminário sobre tráfico de pessoas, promovido pelo Núcleo de Estudos e Extensão Juventude e Socioeducação (Nejus), mas para o professor, existem mais laços de semelhança entre as duas instituições. “Existe uma demanda de internacionalização das universidades. Aqui em GV, a demanda vem por essa cultura de migração que existe. Na Unila, a internacionalização vem, primeiro, por estar localizada na fronteira entre o Paraguai e a Argentina, e segundo porque é uma universidade cuja missão é receber estudantes de outros países da América Latina, então também existe uma diversidade muito grande”.
Mas a cultura de imigração, segundo Moreira, não traz apenas coisas ruins, “traz muitas oportunidades também. Inclusive, as pessoas que estão retornando precisam ser mais apoiadas pela cidade e pela universidade com políticas públicas. Essas pessoas precisam ser ouvidas, para compartilhar o que aprenderam no exterior, o que mudou em suas vidas”. Ainda de acordo com o pesquisador, para que esse compartilhamento de conhecimento aconteça, é preciso que a parceria entre as instituições se fortaleça ainda mais. “A perspectiva é que essa colaboração permaneça, para que novos trabalhos sejam promovidos e a continuidade dos atuais aconteça”.
Natural de Goiânia, mas habituado a vivências fora de casa, o docente relatou que também sente na pele as necessidades e dificuldades do migrante. “Entendi que também sou migrante, e que o entendimento vai além da língua falada; é cultural. Tenho um filho no Paraguai, e toda vez que vou até lá, percebo que eles não me entendem muito bem, mesmo me esforçando para falar espanhol. Ser migrante traz desafios e dificuldades que independem de classe social”.