A Pró-reitoria de Extensão (Proex) da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) realizou na noite da última quarta-feira, 22, a abertura da VII Mostra de Ações de Extensão da UFJF. A cerimônia contou com a participação remota do padre Julio Lancellotti, ativista social, e da ativista indígena Shirley Krenak. Neste ano, o tema do evento é “Em defesa dos direitos fundamentais e das diversidades”. As atividades da Mostra seguem até a sexta, 24, com atividades abertas a toda a comunidade.
O Conselho Superior (Consu) aprovou a entrega do título de Doutor Honoris Causa aos dois convidados da cerimônia de abertura. Devido a compromissos previamente agendados por ambos, a entrega das honrarias será realizada posteriormente.
De acordo com a pró-reitora adjunta de Extensão, Fernanda Cunha, essa é uma forma da UFJF expressar os valores que compartilha com os homenageados. “A entrega dos títulos reafirma a vocação democrática da Instituição, representa o que ela pensa sobre a sociedade e sobre o conhecimento. Abre, ainda, suas portas e reconhece que se torna maior ao ser constituída por todos os povos, todos os saberes – o que se conecta muito fortemente com os princípios extensionistas praticados por nós.”
Sobre o recebimento do título de Doutora Honoris Causa, a ativista Shirley Krenak afirmou que considera o reconhecimento ainda mais relevante por conta do seu trabalho como educadora. “É o espaço educacional, com o jovem. É um espaço em que estamos conseguindo levar a verdadeira história do povo Krenak, contada por verdadeiras lideranças”, salienta.
Ainda segundo a ativista e educadora, “ter esse reconhecimento, diante de todo o processo ancestral de luta que o meu povo vem travando na Bacia do Rio Doce, fortalece ainda mais essa essência de resiliência. Estou muito feliz e honrada”.
Shirley Krenak atua como educadora e coordenadora pedagógica em programas de extensão vinculados ao campus avançado da UFJF em Governador Valadares, como o Núcleo de Agroecologia (Nagô) e o Centro de Referência em Direitos Humanos (CRDH). Dessa forma, Shirley Krenak tem um papel relevante na aproximação da Universidade com os povos originários e seus saberes ancestrais.
Em uma reflexão sobre a luta em prol de segmentos vulnerabilizados da população, aos quais chamou de “descartados” (fazendo menção a um termo usado pelo Papa Francisco), padre Julio Lancellotti destacou o papel das universidades e do que chamou de educação libertária. “As populações mais descartadas também estão dominadas por uma ideologia dominante. Essa é uma outra grande dificuldade para uma educação libertária. Nós não fabricamos os conflitos, nós os enfrentamos. Somos assolados pela tecnologia, pelas redes sociais, pelos meios de comunicação que são instrumentos da ideologia dominante”, pondera.
Lancellotti é vigário episcopal para a Pastoral do Povo da Rua da Arquidiocese de São Paulo e pároco da Paróquia São Miguel Arcanjo sediada na capital paulista. O sacerdote se notabilizou pela luta em prol de setores vulnerabilizados da sociedade – uma batalha que perdura há mais de quatro décadas.
O sacerdote destaca, ainda, que em meio aos desafios por uma mudança na sociedade que garanta uma vida mais digna a todas as pessoas, há uma missão “clara”: “humanizar a vida e não alijar ninguém”. “Lutar contra todo tipo de preconceito e discriminação, contra toda forma de elitização. Devemos estar junto dos mais esquecidos e, com eles, resgatar a memória opressiva, buscando um caminho libertário de humanização. Onde todos tenham acesso a instrumentos, em uma universidade e em todas as dimensões humanas que possuímos, para lutar contra toda forma de desigualdade”, reflete.
Mesa redonda sobre trabalho escravo contemporâneo
Nesta quinta, 23, a partir das 19h30, acontece mesa redonda com o tema “Por um pacto social pela erradicação do trabalho escravo contemporâneo”, no Anfiteatro de Estudos Sociais, na Faculdade de Direito. O debate conta com a participação do professor da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio), Ricardo Resende. O docente integra o Grupo de Pesquisa Trabalho Escravo Contemporâneo e coordena o Movimento Humanos Direitos e a Rede Social Justiça e Direitos Humanos.
Também participam do debate a advogada Fernanda Melo, pesquisadora da Clínica de Trabalho Escravo e Tráfico de Pessoas da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e mestranda em Direito pela UFMG; e a auditora-fiscal do Trabalho Maurita Sartori Gomes Ferreira, discente de especialização em Direito do Trabalho e Direitos Humanos na Universidade Federal do Pará (UFPA). A mesa redonda será mediada pelo professor Bruno Stigert, do Departamento de Direito Público Formal e Ética Profissional da Faculdade de Direito da UFJF. O evento é presencial e as inscrições para a mesa podem ser feitas on-line.
Confira as programações completas da VII Mostra de Ações de Extensão, nos campi de Juiz de Fora e Governador Valadares e outras informações na página da Proex.
Reafirmação do papel social da UFJF
Presente na cerimônia de abertura, a vice-reitora da UFJF, Girlene Alves da Silva, destacou que nos últimos oito anos a Extensão tem sido um dos eixos de atuação da Instituição junto à sociedade. “A UFJF teve a boa ousadia de colocar a Extensão, a Cultura e a Inovação como eixos estratégicos para se pensar em um país mais justo e menos desigual. Ao celebrarmos essa Mostra de Extensão, não poderia haver outro tema: trabalhar a questão dos direitos fundamentais e das desigualdades, temas caros a uma sociedade ainda muito injusta.”
Ainda de acordo com Girlene Alves, a extensão praticada na Universidade leva a um processo de aprendizado para os membros da Instituição, por meio da vivência com a comunidade. “Quando se coloca a Extensão como eixo articulador de contribuição com a transformação, reafirmamos nosso papel com a transformação – não só nossa, porque nos transformamos nesses encontros – mas com a transformação da sociedade para que possamos reduzir tantas desigualdades, tantas iniquidades”, avalia.
Para a pró-reitora adjunta de Extensão, Fernanda Cunha, a realização da Mostra é um momento importante por demonstrar o resultado dos avanços da extensão praticada no âmbito da UFJF. Esse processo se dá em frentes como “o debate dos princípios extensionistas, a busca pela visibilidade e valorização das ações extensionistas, o fortalecimento do diálogo horizontalizado e contínuo com os demais segmentos da sociedade”. Ainda de acordo com Cunha, esta edição da Mostra “fecha o ciclo desta gestão, iniciada em 2016 e que vai até abril de 2024”.
A pró-reitora adjunta de Extensão enumerou algumas conquistas obtidas no período, como a reativação do Conselho Setorial de Extensão e Cultura (Conexc), a inserção da Extensão nos currículos de graduação e a implantação do Sistema Integrado de Gestão Acadêmica (Siga) vinculado às Comissões de Acompanhamento das Atividades Curriculares de Extensão (Caex). A plataforma, chamada de Siga Caex, é voltada ao gerenciamento e acompanhamento dos projetos e projetos vinculados a disciplinas com carga horária de extensão.
Confira a abertura na íntegra: