Chega ao fim a 23ª edição do Simpósio Brasileiro em Segurança da Informação e de Sistemas Computacionais (SBSeg), esse ano, realizado no Centro de Ciências da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF). Entre os dias 18 e 21 de setembro, o simpósio ofereceu uma programação abrangente, incluindo sessões técnicas, mesas redondas, minicursos, palestras e tutoriais, além de workshops, e bateu o recorde de inscrições, com mais de 260 pessoas presentes.
Promovido anualmente pela Sociedade Brasileira de Computação (SBC), o simpósio é considerado o principal fórum do Brasil para divulgação de resultados de pesquisas, debates, intercâmbio de ideias e atividades relevantes ligadas à segurança da informação e de sistemas computacionais. O evento é classificado como Qualis A4 pela Capes.
Ao todo, foram apresentadas 49 submissões de trabalhos nas áreas de Criptografia e Segurança de Sistemas Computacionais e Redes de Comunicação, incluindo artigos completos e resumos. Além disso, 23 trabalhos foram aceitos e apresentados nos workshops de Iniciação Científica e Graduação, consolidando o SBSeg como um evento de destaque na área de segurança da informação e sistemas computacionais no Brasil e internacionalmente.
O professor de pós-graduação em Ciência da Computação da UFJF e organizador do evento, Edelberto Silva, comemora os números de submissões de trabalho e inscritos, destacando como positivo o evento ter sido realizado no município de Juiz de Fora. “Superou nossas expectativas. Acreditamos que o número recorde de participantes tem relação ao tema, mas principalmente à localização do município. A receptividade, o clima, as comidas, tudo contribuiu para o sucesso do evento. Além disso, foi uma oportunidade única também dos nossos próprios alunos participarem do simpósio.”
“Foi um desafio muito grande realizar o evento na nossa cidade, sendo a primeira vez que o simpósio é realizado fora do eixo das capitais do Brasil. Apesar do desafio, acreditamos que tenha sido um sucesso. Como consequência, acredito que a Universidade ganhou destaque e possibilitou que o evento seja feito em outros locais, além das capitais”, complementa o professor do programa e também coordenador do evento, Alex Vieira.
Outro benefício para a Universidade foi a melhoria no acesso à internet, com a duplicação da velocidade de conexão. Ainda de acordo com os coordenadores, está sendo avaliada a possibilidade de adicionar um link redundante ao sistema para eliminar completamente qualquer indisponibilidade no acesso.
Debate sobre a segurança nas urnas
A pergunta “A urna eletrônica é segura?” tem sido feita com frequência nos últimos tempos, especialmente nas eleições de 2022. Pensando em aprimorar o sistema de segurança das urnas e aumentar a transparência, esse tema foi abordado em um workshop específico sobre a confiabilidade das urnas na segunda-feira, 19.
Uma das propostas discutidas em relação à segurança das urnas eletrônicas foi apresentada pelo professor da Universidade de São Paulo (USP) e coordenador do workshop sobre o tema, Marcos Júnior. Ele explicou que a USP tem se dedicado a estudar essa temática desde 2021, avaliando o sistema atual das urnas e buscando maneiras de aprimorá-lo no futuro. A ideia central é implementar uma auditoria das urnas durante o processo de votação, com o objetivo de evitar discursos falaciosos.
“Quando a urna é submetida a um processo de verificação, ela é levada para uma área separada, onde os softwares são examinados para garantir que estejam funcionando corretamente. Nossa proposta é trazer esse processo para dentro da seção eleitoral, onde o sistema possa ser testado a qualquer momento pela Justiça Eleitoral, com a presença do eleitor”, explicou o professor.
Além da verificabilidade das urnas, os participantes do simpósio também tiveram a oportunidade de assistir a uma demonstração sobre o controle de mais de uma urna eletrônica em uma zona eleitoral, o que para os pesquisadores pode agilizar o processo de votação e reduzir o número de mesários.
O tema ainda foi contemplado com a participação do funcionário da Microsoft Research, Josh Benaloh, que possui um trabalho dedicado a verificabilidade das urnas eleitorais.
Mulheres como destaque
Outra atração do evento e uma das novidades deste ano foi a realização do painel WISE: Mulheres na Segurança Cibernética, realizado na última quarta-feira, 19. O painel composto somente por mulheres visou reunir profissionais da área de segurança cibernética para falarem sobre suas carreiras e trabalhos, bem como os desafios ao pertencerem em um mundo predominantemente masculino. A atividade foi realizada em conjunto com o Conselho de Atividades Educacionais do IEEE
Participaram do painel as professoras renomadas de ciências da computação Elisa Bertino da Universidade de Purdue, Jelena Mirkovic da Universidade do Sul da Califórnia; e a brasileira e mineira Daniela Oliveira, que atualmente atua na Universidade da Flórida. O painel foi coordenado pela professora do Departamento de Ciências da Computação (DCC) da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Michele Nogueira.
“A gente já tem um movimento forte da área de exatas que tem o objetivo de motivar mulheres para diversas áreas que são dominadas por homens. É importante que elas, que ainda estão na graduação, não desistam e persistam para que futuramente tenhamos mais mulheres participantes em nosso evento e sendo destaques como as convidadas ”, pontua Michele.
Daniela destacou também em sua fala como o curso de computação vem crescendo e ganhando destaque. “Quando fiz vestibular, há trinta anos, eu já escutava que a Ciência da Computação era a profissão do futuro. Passados esses anos, ainda existe esse conceito e estamos nos desdobrando em assuntos de segurança cibernética. Tudo muda a todo tempo, estamos sempre nos redescobrindo.”
Premiação Hackathon
Outro destaque da 23ª edição do SBSeg foi quanto a realização da competição de cibersegurança para estudantes, nos dias 16 e 17 de setembro. A atração foi promovida pela equipe do programa Hackers do Bem, da Rede Nacional de Ensino e Pesquisa (RNP). Ao todo, participaram 23 estudantes da região Sul, Sudeste e Centro-Oeste.
A competição consistiu em analisar um dataset contendo logs de um Sistema de Detecção de Intrusão implantado na Rede Ipê da RNP. A partir da análise, os competidores trabalharam no desenvolvimento de soluções inovadoras para problemas reais do sistema de alertas. Ao longo do evento, nove mentores especializados nas áreas de desenvolvimento, ciência de dados, inovação, negócios e cibersegurança forneceram orientações para apoiar os participantes na concepção das suas soluções.