Ezequias e Luiza, 37 dias após receber um novo coração

Era um dia de treino normal em 2021, na academia de costume, quando Ezequias Costa, então com 32 anos de idade, sofreu uma parada cardiorrespiratória. Afortunadamente, havia professores e profissionais da saúde presentes no local naquele momento, e Ezequias imediatamente recebeu os primeiros socorros, sendo entubado ainda no chão da academia.

Levado para o hospital em estado grave, ele passou por diversos exames e acabou recebendo o diagnóstico de miocardite (uma inflamação no miocárdio). Durante a internação, recebeu um cardiodesfribilador implantável (CDI – equipamento que ajuda a manter o funcionamento do coração em ritmo normal) e conseguiu sair estável do hospital, apesar das sequelas no coração, que se apresentava fibroso e com a capacidade de bombeamento (fração de ejeção – FEV) reduzida.

Funcionário do HU, Ezequias se viu na posição dos pacientes que acompanha

Ezequias, que é assistente administrativo no Hospital Universitário de da Universidade Federal de Juiz de Fora (HU-UFJF, sob gestão da Ebserh) desde fevereiro de 2016, conta que, com acompanhamento médico e medicações, conseguiu se manter estável e sem sintomas por quase dois anos. “Mas, em abril de 2023, o coração parou de responder às medicações e começou a piorar, provocando sintomas como cansaço, dor abdominal, falta de apetite, falta de ar, retenção hídrica, derrame pleural, perda brusca de peso, fraqueza, entre outros, levando a consultas médicas recorrentes e internações frequentes. Mesmo com vários ajustes, o coração não respondia”, relata.

Foram realizados diversos exames, que acabaram mostrando a piora do funcionamento do órgão e, consequentemente, houve indicação para avaliação em um serviço de transplantes. “Como o caso já estava avançado, não foi possível fazer a avaliação ambulatorial. Em julho fui internado em Juiz de Fora e iniciei o uso de medicações endovenosas, já na Unidade Coronariana, para auxiliar no trabalho do coração. De imediato foi solicitada uma transferência para a Santa Casa de Belo Horizonte, onde iniciaria a avaliação com a equipe transplantadora para a possível inclusão em lista de transplante cardíaco, pois em Juiz de Fora não existe esse tipo de serviço”, relata.

Após a transferência, o caso evoluiu muito rápido para choque cardiogênico grave, com necessidade de uso de Balão intra-aórtico (BIA), um dispositivo mecânico que ajuda a manter o fluxo sanguíneo coronário e, portanto, eleva o fornecimento de oxigênio. Logo em seguida, Ezequias foi incluído como prioridade na lista para transplante cardíaco. Coincidentemente, ele trabalha no setor de transplante renal do HU-UFJF e se viu no lugar de tantos pacientes que acompanha.

“Foram momentos terríveis, paradas, choques, dores, falta de ar, mas graças a Deus e a competência de toda a equipe da Santa Casa de Belo Horizonte, consegui resistir até a chegada do novo coração”, lembra. O coração chegou em cinco dias, e o procedimento foi um sucesso. “Sim, foram apenas cinco dias em lista, o que demostra a seriedade do nosso sistema nacional de transplantes e nosso órgão estadual, MG Transplantes”, completa.

De acordo com Ezequias, sua recuperação tem sido muito boa. Ele teve alta após 22 dias do transplante, realizado dia 10 de agosto. Hoje, com pouco mais de um mês da cirurgia, ele se encontra estável e com uma evolução considerada excelente. Seguirá fazendo acompanhamento ambulatorial em Belo Horizonte pelos próximos meses, “e com excelentes expectativas para o futuro”, afirma.

“A morte física é o destino de todos nós. Às vezes, pensar sobre a morte significa pensar sobre vida que temos e qual o legado que queremos deixar. Pensar que nosso corpo sem vida pode tornar funcionais outras oito pessoas é um ato de nobreza. Convido você a pensar sobre isso: o ‘sim’ de uma sábia família trouxe de volta a minha vida e trouxe de volta oportunidade de continuar a minha história com Deus, com minha família, meus amigos, meu trabalho, e minha amada esposa que esteve ao meu lado a todo momento e segurou a barra. Seguiremos fazendo a diferença nesse mundo graças a um gesto de generosidade. Por isso, faça a diferença mesmo após a morte: comunique a sua família sobre o seu desejo de ser doador”, aconselha Ezequias.

HU-UFJF 

No Hospital Universitário da Universidade Federal de Juiz de Fora, onde Ezequias e sua esposa Luiza trabalham, são realizados transplantes de rim e de medula óssea. No primeiro semestre deste ano, foram 27 transplantes de medula e três transplantes de rim.

O médico hematologista Abrahão Hallack Neto, responsável pelo Serviço de Transplante de Medula Óssea do HU-UFJF, comenta que a expectativa é conseguir ampliar o atendimento: “Embora já tenhamos aumentado nossa capacidade de realizar procedimentos, estamos buscando melhorar nossa estrutura, de uma maneira geral, para que possamos realizar um maior número de transplantes e, com isso, ofertar melhor resolubilidade aos pacientes que dependem de nossa assistência”. Para o médico, é fundamental também que as famílias e potenciais doadores de órgãos e tecidos “continuem imbuídos nessa atitude muito nobre”.

Já a médica nefrologista Hélady Sanders, responsável pelo Serviço de Transplante Renal do HU-UFJF, conta que o hospital está retornando agora à atividade transplantadora. “Temos trabalhado em avaliar pacientes candidatos para inscrevê-los na lista para transplante renal. Nossa lista tem aumentado, e esperamos aumentar progressivamente o número de transplantes”, afirma, lembrando que “só há transplantes se houver doadores”.

“As pessoas podem doar seus órgãos quando evoluem com morte encefálica, que é a lesão de forma irreversível do cérebro. Neste momento, após a confirmação por um exame de imagem ou de função cerebral, a família será consultada se aceita a doação dos órgãos do paciente. Portanto, quem pretende ser doador deve avisar a família. Sua família se sentirá à vontade sabendo que está honrando seu desejo de ajudar outras pessoas. E também é uma forma da vida do ente querido continuar na vida de outra pessoa. Avise sua família que você é doador de órgãos, pois doar órgãos é doar vida”, recomenda a médica.

Rede Ebserh 

O HU-UFJF faz parte da Rede da Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares (Rede Ebserh) desde novembro de 2014. Vinculada ao Ministério da Educação (MEC), a Ebserh foi criada em 2011 e, atualmente, administra 41 hospitais universitários federais, apoiando e impulsionando suas atividades por meio de uma gestão de excelência. Como hospitais vinculados a universidades federais, essas unidades têm características específicas: atendem pacientes do Sistema Único de Saúde (SUS) ao mesmo tempo em que apoiam a formação de profissionais de saúde e o desenvolvimento de pesquisas e inovação.