O Ensaio de Ópera é um singspiel, gênero alemão de ópera leve e divertida, no qual se alternam trechos cantados e falados

O Cine-Theatro Central volta a ser palco do 34º Festival Internacional de Música Colonial Brasileira e Música Antiga no sábado, dia 26, com a apresentação de Die Opernprobe (O Ensaio de Ópera), do compositor alemão Albert Lortzing (1801-1851), em montagem do projeto Ópera na UFRJ que chega a Juiz de Fora em parceria com o evento juiz-forano. A apresentação, com entrada franca, encerra essa edição do Festival, que teve sua semana principal de concertos em julho último. A distribuição de ingressos para o evento começa na próxima terça, dia 22. 

O Ensaio de Ópera é um singspiel, gênero alemão de ópera leve e divertida, no qual se alternam trechos cantados e falados. “A Flauta Mágica, de Mozart, é o exemplo mais famoso do gênero”, observa Lenine Santos, diretor geral. Para a montagem brasileira, o libreto do alemão Lortzing foi traduzido para o português: “É bastante comum se produzir singspiel no idioma do país no qual a ópera é feita, pois a parte teatral é de grande importância, e há a oportunidade de atualizá-la, adequando-a melhor a cada época e local”, explica o diretor. 

A tradução foi realizada por professores da Escola de Música da UFRJ, parceira do projeto Ópera na UFRJ. “A versão em português da parte cantada foi feita por uma aluna do Programa de Pós-Graduação Profissional da UFRJ, Helen Heinzle, que nos presenteou com um belo trabalho, e todo o elenco contribuiu com sugestões para dar vida ao texto final. O resultado é uma comédia deliciosa, que discute o que é ópera, o amor e o ódio pelo gênero, e apresenta o material humano, musical e artístico do nosso corpo acadêmico da forma mais bonita.”

Parcerias

Essa é a segunda produção do Projeto Ópera na UFRJ a ser apresentada no tradicional festival juiz-forano. Em 2022, o evento recebeu O Engenheiro, de Tim Rescala. Segundo Lenine Santos, o projeto, que completará 30 anos em 2024, é um dos mais longevos da Universidade Federal do Rio de Janeiro, e a instituição já planeja várias ações para comemoração da efeméride. A UFJF e o Centro Cultural Pró-Música se uniram, portanto, ao vasto grupo de parceiros do Ópera na UFRJ. 

“No formato em que existe hoje, as parcerias são a sua principal característica estrutural”, explica o diretor, lembrando que as produções são o resultado, primeiramente, da associação da Escola de Música da UFRJ com a Escola de Belas Artes – de onde vêm os professores e alunos que fazem a direção cênica, os figurinos e a cenografia, além da iluminação, gravação e disponibilização na internet da íntegra dos espetáculos. “São dezenas de alunos que participam da produção de uma ópera completa, aprendendo a dominar um métier com o qual poderão se profissionalizar”, ressalta. 

Além disso, há as parcerias que viabilizam os custos e divulgação das produções, como PROART, Funarte, Projeto Sinos (Sistema Nacional de Orquestras Sociais), setores Artístico, de Comunicação e Gabinete da direção da Escola de Música da UFRJ, além de apoios da Fundação Universitária José Bonifácio, Casa da Ciência, Fórum de Ciência e Cultura da UFRJ, Escola Politécnica da UFRJ e Faperj. 

Apresentação aposta na metalinguagem para desenvolver uma comédia sobre o próprio universo operístico

“São tantas [parcerias] que me deixam temeroso de esquecer alguma. E não poderia ser diferente, num projeto com essa magnitude. Ópera é sempre um espetáculo de conjunto, com várias artes, técnicas e conhecimentos envolvidos na sua produção, e acredito que a universidade é o ambiente perfeito para essa associação, com o projeto sendo beneficiado pelas parcerias e os próprios setores envolvidos sendo beneficiados por essa integração necessária, sem a qual tais setores talvez permanecessem estanques”, afirma Lenine Santos.

Otimismo

O Ensaio de Ópera aposta na metalinguagem para desenvolver uma comédia sobre o próprio universo operístico. A história se passa no salão de um nobre, que, apaixonado pelo gênero, resolve colocar seus empregados para encenar um espetáculo de ópera. Com humor, a produção traz uma oportuna reflexão sobre o tema, em um contexto de re-avivamento do gênero operístico no Brasil. “O momento é de otimismo”, avalia Lenine Santos. “As plateias que lotam nossos espetáculos saem discutindo temas importantes para nos desvendar como povo e como indivíduos. A procura pelos cursos de canto lírico nas universidades tem aumentado e, no caso da Escola de Música da UFRJ, somos o departamento com o maior número de alunos”, informa.  

Segundo diretor Lenine Santos, o gênero é capaz de expressar emoções humanas essenciais e atemporais

Segundo o diretor, após um período de violenta negação por parte dos poderes constituídos, a arte e a cultura voltam a ser reconhecidas como “veículo para evolução pessoal e coletiva da população, para a discussão de problemas existenciais subjetivos e concretos, para a discussão de projetos de futuro e, principalmente, para a investigação de quem nós somos enquanto país e quem nós queremos ser, tanto no ambiente interno quanto no cenário internacional”.

Lenine Santos acredita que, contrariamente à ideia comum da ópera como algo muito sofisticado e muitas vezes apartado da realidade atual, ela “é algo muito mais primal, um grito de vida que sai dos mais profundos desejos e emoções humanas”, e por isso seria tão competente, enquanto linguagem, em expressar emoções humanas essenciais e atemporais, como amor, ódio, ciúmes, rancor, amizade, paixão, ambição, alegria ou medo. 

“Há uma explosão de estreias de novos títulos de ópera nos últimos anos, que, para mim, são resultado dessa necessidade de expressão de maneira mais contundente e, também, da necessidade de se pensar e repensar enquanto povo, enquanto brasileiros”, afirma. Ele se refere, sobretudo, a óperas brasileiras, compostas por excelentes compositores brasileiros, em português, e com temas sempre relacionados à nossa história ou a nossa cultura, como é o caso dos espetáculos apresentados pelo Ópera na UFRJ nos últimos dois anos: O Engenheiro, de Tim Rescala, que abordou o momento da proclamação da República no Brasil através da figura de André Rebouças, e A Cartomante, baseada no conto mais famoso e amado de Machado de Assis.

O festival juiz-forano também tem sido testemunha e partícipe desse movimento, pois em edições recentes vem sendo palco de apresentações de ópera com muito sucesso, o que possibilitou que Juiz de Fora fosse a segunda cidade a receber A Noite de São João, em 30 de julho, com a Orquestra Sinfônica do Conservatório de Tatuí e Coro Madrigale, em um trabalho de reconstituição daquela que é considerada a primeira ópera nacional, escrita por um brasileiro, em português e com temática local. 

 

34º Festival Internacional de Música Colonial Brasileira e Música Antiga 

Die Opernprobe (O Ensaio de Ópera) – Orquestra Sinfônica da UFRJ e elenco

Dia 26 de agosto, às 19h, no Cine-Theatro Central (Praça João Pessoa, S/N – Centro, Juiz de Fora, MG).

Entrada franca (Os convites serão distribuídos na bilheteria do Cine-Theatro Central, de terça a sexta-feira, das 9h às 12h e das 14h às 17h, e no sábado, dia 26, das 9h às 12h. 

 

Orquestra Sinfônica da UFRJ

Música e libreto: Albert Lortzing (1801-1851)

Versão em português: Helen Heinzle Sathler

Regentes: Glauco Fernandes / André Cardoso

Direção cênica: José Henrique Moreira

Assistente de Direção e movimento: Marcellus Ferreira

Preparação musical: Inácio de Nonno

Pianista preparadora: Caroline Barcellos

Elenco:

HÄNCHENN: Carolina Morel / Jacqueline Rezende

ADOLPH: Gustavo Ballesteros / Marcus Gerhard

JOHAN: Paulo Maria / Cristóbal Rioseco

LOUISE: Duda Espírito Santo / Renata Vianna


CONDESSA: Julia Riera / Giovanna Toscano


VELHO BARÃO: Renato Lima/ Daniel Zanatta

MARTIN: Carlos Côrtes / Daniel Zanatta

CHRISTOPHER: Moisés Hills / Paulo Maria

CONDE: Renato Lima / Carlos Côrtes

Outras informações:

Pró-reitoria de Cultura – (32) 2102 – 3964

Cine-Theatro Central – (32) 2102 – 6329