Desde o início do ano, já foram registradas oficialmente oito mortes e um total de 60 casos da febre maculosa, de acordo com o levantamento feito pelo Ministério da Saúde, atualizado em 19 de junho. Os números já estão defasados, já que novas ocorrências vêm surgindo a cada dia. À medida que os sistemas vão sendo atualizados pelas secretarias dos estados, as estatísticas vão aumentar em breve, tornando essencial a notificação pelos profissionais de saúde. O registro de casos suspeitos e confirmados é importante para que se tenha um panorama da gravidade da situação em todo território.
O relatório de 2023, publicado no mês passado, ainda não abrange os dados referentes ao mês de julho. Mas as amostras deste ano e dos anos anteriores reforçam que, historicamente, a maior concentração da febre maculosa é na região Sudeste, registrando 1.734 casos nos últimos quinze anos, sobretudo em São Paulo, onde se tem o maior número do surto.
Em Minas Gerais, a enfermidade é endêmica, já tendo 17 casos confirmados e quatro óbitos. Recentemente, foi registrado o primeiro caso na região da Zona da Mata mineira, em Matias Barbosa. E em Juiz de Fora foi constatado um óbito suspeito. Apesar de o número de ocorrências estar dentro do esperado, a doença apresenta alto índice de letalidade, o que reforça a necessidade de cuidados preventivos e da conscientização da população.
A febre maculosa é uma doença infecciosa causada por bactérias do gênero Rickettsia e transmitida ao homem pela picada do micuim, também conhecido como carrapato-estrela. Embora ocorra com mais frequência nos períodos de seca, especialmente entre os meses de abril e outubro, ela pode ser notificada durante todo o ano. Como não existe vacina, é preciso estar atento às medidas de prevenção e controle do parasita transmissor para evitar a contaminação.
O médico infectologista do Hospital Universitário (HU/Ebserh), Rodrigo Daniel de Souza, explica que Juiz de Fora apresenta, tradicionalmente, casos de febre maculosa e que há cidades onde a doença pode aparecer com mais ou menos frequência. “Independente de ter ou não registros da infecção no lugar onde você mora, se você foi picado por um carrapato e começou a manifestar sintomas compatíveis deve iniciar o tratamento o quanto antes”, alerta o profissional.
A importância da prevenção
Ao contrário do que muitos pensam, a infecção é transmitida pelos filhotes do micuim. Isso significa que eles são ínfimos e podem não ser avistados com facilidade. Por isso, ao frequentar áreas rurais ou de risco, como matas e trilhas, é recomendado usar roupas claras para ajudar a identificar o carrapato, usar calças, botas e blusas com mangas compridas, evitar andar em locais com a vegetação alta, usar repelentes de inseto e verificar se você e seus animais de estimação estão com carrapatos.
Para transmitir a bactéria, o carrapato precisa ficar em contato com a pele da vítima por quatro a seis horas. Por isso, o infectologista recomenda fazer uma vistoria no corpo de duas em duas horas para ver se encontra algum aracnídeo. Caso encontre, é importante que a remoção seja feita o mais rápido possível para diminuir os riscos de contaminação.
“Não aperte ou esmague o carrapato e, sim, puxe-o com uma pinça, com cuidado, para que ele saia inteiro”, reforça o médico. Após a remoção, lave a área da mordida e coloque todas as peças de roupas em água fervente para a retirada dos pequenos parasitas. Vale lembrar que não é todo e qualquer carrapato que transmite a febre maculosa. Se o paciente não manifesta sintomas, após ter encontrado um carrapato no corpo, não justifica a ida ao médico.
Por outro lado, o infectologista alerta: “caso você apresente uma inflamação local, febre, falta de ar, dor ou manchas no corpo, esses são indicativos para procurar um profissional de saúde e relatar a exposição ao parasita. E o mesmo vale para casos em que o carrapato não foi localizado, mas o paciente apresentou os sintomas, após estar em áreas de risco”. O período de incubação da doença é de dois a 14 dias. Por isso, é essencial considerar as exposições ocorridas nos últimos 15 dias antecedentes ao início de sintomas.
Sintomas e tratamento
Muitas vezes, os principais sintomas são confundidos com as manifestações de outras doenças, como a dengue; afinal, febre de início súbito, dores de cabeça e muscular, mal-estar, náuseas, vômitos e manchas avermelhadas na pele são indicativos genéricos que podem ser associados a qualquer enfermidade. Assim, é essencial que o paciente forneça informações sobre a exposição a carrapatos ou a áreas consideradas de risco.
O quadro clínico é variável, apresentando casos leves a fatais. Quando não tratada, a doença pode gerar complicações, com manifestações hemorrágicas, neurológicas, pulmonares e renais. Por isso, é importante identificar o quanto antes, pois, com o início imediato do tratamento com antibióticos específicos, menor será o índice de letalidade.
“Sempre que houver suspeita, o tratamento deve ser iniciado. O antibiótico está disponível na rede pública e deve ser administrado duas vezes ao dia durante uma ou duas semanas”, garante Rodrigo. Estudos recentes promovidos pelo Centro de Controle e Prevenção de Doenças Americano (CDC) concluíram que, quando o medicamento é administrado durante um curto período de tempo para crianças, não há malefícios. “No passado, achava-se que o remédio poderia escurecer os dentes de crianças, atualmente já se sabe que não tem nada disso”, informa.
Vale lembrar que para fechar o diagnóstico de febre maculosa, o paciente não precisa ter manifestado todos os sintomas. Para evitar a contaminação, é preciso combater o parasita por meio do adequado manejo ambiental. Ao evitar o carrapato, evita-se a proliferação da doença.
Notificação compulsória
Todo caso suspeito de febre maculosa requer investigação e notificação compulsória. Esta deve ser feita pelo profissional de saúde no Sistema de Informação de Agravos de Notificação (Sinan), do Ministério da Saúde, por meio da Ficha de Investigação de Febre Maculosa. Essa é uma das medidas adotadas para controlar os surtos da doença.