Tradicionalmente realizado em julho, o Festival Internacional de Música Colonial Brasileira e Música Antiga, que chega a sua 34ª edição, será superlativo: este ano o evento contará com a parceria do maior conservatório da América Latina, o Conservatório de Tatuí (SP), para a montagem da primeira ópera brasileira, e participações de músicos excepcionais, como uma das maiores flautistas do mundo, Diana Baroni; o maior cravista do Brasil, o juiz-forano Bruno Procópio; o mais tradicional grupo de música colonial brasileira, Musica Brasilis; e a mais importante cantora de repertório barroco do Brasil, soprano Marília Vargas.
Serão 12 dias de concertos noturnos – em julho e na segunda quinzena de agosto –, além de masterclasses com os músicos convidados da programação, que é integralmente gratuita. No campo da educação musical, o destaque é a oficina da aclamada professora e artista Margareth Darezzo, em Juiz de Fora pela primeira vez. “Margareth Darezzo é uma das principais referências em musicalização infantil no país, com vários livros e CDs lançados. As crianças amam as suas canções, que são artisticamente e pedagogicamente muito bem elaboradas”, ressalta o diretor do Centro Cultural Pró-Música, Marcus Medeiros.
O evento promovido pela Pró-reitoria de Cultura da Universidade Federal de Juiz de Fora renova ainda a parceria com os músicos Rosana Orsini e Marco Brescia, que desde 2017 vêm colaborando com o festival juiz-forano – desta vez, além de se apresentar e ministrar uma masterclass de ópera, Rosana Orsini (soprano) assina também a direção artística ao lado de Marcus Medeiros.
Antecedendo a semana do Festival, o Cine-Theatro Central sedia três concertos nos próximos dias 13, 19 e 20 de julho. O primeiro deles é a Cantata Gualaxo do Norte, com o Duo Rio de Ouro, integrado por Andrea Adour (voz) e Cesar Buscacio (piano), que se apresentam na quinta-feira, dia 13. Seguem-se os concertos Trilhas Sonoras, com a Orquestra Sinfônica Pró-Música, no dia 19, e As Canções de Kurt Weill, no dia 20, com o grupo formado por Tâmara Lorenzeto (mezzo soprano), Marcus Medeiros (piano), Rogério Nascimento (baixo elétrico), Francis Moura (trompete) e Marcelo Lobato (percussão).
Essas apresentações foram pensadas como um prelúdio para a temporada do Festival que será no período de 23 a 30 de julho, quando acontece uma série de concertos noturnos no Museu de Arte Murilo Mendes, Theatro Paschoal Carlos Magno, Capela da Academia do Comércio, Igreja do Rosário e Cine-Theatro Central. Mas a programação não se encerra aí: o Festival continuará ressoando em agosto, com dois concertos finais no Central.
Sonoridades históricas
A Cantata Gualaxo do Norte reúne 12 peças musicais que recapitulam a trajetória das sonoridades históricas do entorno do Rio Gualaxo do Norte, em Mariana (MG), dramaticamente atingido pelo rompimento da Barragem do Fundão em novembro de 2015. A produção é parte do projeto de pesquisa Sonoridades Históricas de Minas Colonial e Imperial, que resultou no livro homônimo, de autoria de Andrea Adour, Cesar Buscacio e Virgínia Buarque, que terá lançamento na noite do concerto.
A pesquisa foi contemplada pela Chamada Pública Fapemig 09/2018, destinada ao financiamento de projetos voltados ao desenvolvimento e recuperação das áreas impactadas pela queda da barragem. Em novembro de 2020, o financiamento foi liberado pela parceria firmada entre a Fapemig e a Fundação Renova (criada para operacionalizar os ressarcimentos e a reparação dos danos). O projeto também recebeu financiamento da Faperj para a produção do livro referente à primeira etapa da pesquisa.
O curso do rio Gualaxo do Norte já era conhecido desde os primeiros tempos da colonização da região, ao final do século XVII, devido à extração de ouro que logo veio a ser realizada em seu leito e nas montanhas ao redor. Quando a estrutura de contenção de rejeitos de minérios de propriedade da mineradora Samarco ruiu, milhares de toneladas de lama contaminada foram derramadas no rio.
Além do desastre ambiental, foram soterradas as comunidades de Bento Rodrigues, Paracatu de Baixo e Gesteira, causando a morte de 19 pessoas e desalojando várias centenas. A proposta da pesquisa foi manifestar a resistência, por parte das comunidades afetadas, tanto na reivindicação de seus direitos, quanto em sua abertura a novas experiências “a partir das memórias sonoras do que por elas foi vivido e sonhado”, como afirmam os realizadores.
As músicas para a Cantata foram selecionadas a partir do acervo de seis mil partituras da coleção de Hermelindo Castelo Branco, hoje sob a guarda do Instituto Piano Brasileiro. Dentre as peças selecionadas, encontram-se cantigas populares anônimas, como O Bem-Te-Vi, uma canção indígena e textos musicados de Mário de Andrade, Manuel Bandeira e Olavo Bilac, entre outros. Responsáveis pela seleção, os professores Cesar Buscacio e Andrea Adour afirmam que as obras dialogam com as sonoridades históricas integrantes das cartografias do Gualaxo Vivo, desenvolvidas na publicação Sonoridades históricas de Minas Colonial e Imperial, com patrocínio da Faperj.
O gênero musical “cantata” surgiu na passagem do período medieval para o moderno, como um tipo de composição vocal para uma ou várias vozes, com acompanhamento musical. Diferenciava-se, assim, das tocatas, que eram peças unicamente instrumentais. “As cantatas foram um gênero de música de grande difusão no apogeu da extração do ouro em Minas Gerais, sendo retomadas, no século XX, por alguns compositores que buscavam enlaçar manifestações do antigo e do moderno, a exemplo de Carl Off, com Carmina Burana”, afirma o Duo. “Na Cantata do Gualaxo do Norte, procedemos com essa mesma liberdade artística, entrecruzando contribuições dos saberes histórico, poético e musical”. As canções interpretadas na Cantata serão precedidas por narrativas de cunho histórico-literário, de autoria do compositor e libretista Mário Ferraro.
Nacionalismos
Nacionalismos
A semana principal do Festival será aberta no dia 23 de julho, no Museu de Arte Murilo Mendes (MAMM), com o concerto Nacionalismo em Música, que irá reunir a soprano Rosana Orsini e o violonista espanhol José Manuel Dapena. O programa da apresentação inclui obras dos compositores espanhóis Manuel de Falla e Enrique Granados e do brasileiro Heitor Villa-Lobos – este com A Floresta do Amazonas e Bachianas Brasileiras Nº 5, dando início ao tom mais nacional da edição: “Valorizar a música brasileira é uma das missões mais caras ao Pró-Música e ao Festival. Essa edição reflete isso, também como uma homenagem aos recém-completos 200 anos da Independência do Brasil de Portugal, em 2022”, comenta o diretor Marcus Medeiros.
No dia 24, o Festival chega ao Teatro Paschoal Carlos Magno com a apresentação de Camille Saint-Saëns e o Pianismo Romântico Brasileiro, com o pianista, organista, cravista e clavicordista ítalo-brasileiro Marco Brescia. No dia 25, o teatro recebe o concerto Confidência: Música de Mulheres Compositoras, que reúne Marília Vargas (soprano) e Luiza Aquino (piano) em uma seleção de peças de compositoras europeias e brasileiras. Ainda no Paschoal Carlos Magno acontece, no dia 26, o concerto A Música da Independência, com o grupo Musica Brasilis, formado por Rosana Lanzelote (pianoforte), Roberto Santamarina (violino), Lucas Bracher (violoncelo), além do ator Adam Lee como Dom Pedro I. A apresentação celebra a criação musical no Brasil da época, por meio da valorização da memória do imperador D. Pedro I como compositor.
No dia 27 de julho, a programação acontece na Capela da Academia do Comércio de Juiz de Fora, com o concerto Le Clavecin des Lumières, com o cravista Bruno Procópio. Na sequência, o Festival retorna ao Teatro Paschoal Carlos Magno, no dia 28, para a apresentação do Octeto Feminino do Brasil, grupo camerístico que une trompistas brasileiras de diferentes partes do país, para valorizar a conquista do lugar da mulher no campo da música de concerto brasileira. No programa, obras de Waldir Azevedo, Villa-Lobos, Camargo Guarnieri e Tom Jobim, entre outros.
No dia 29 de julho, a Igreja do Rosário sedia o concerto Dois Mares: Música Entre Dois Mundos, com o grupo espanhol de música antiga 1500, e participações de Diana Baroni (voz e traverso), Rafael Guel (violões, flautas e percussão) e Marco Brescia (cravo), além de Luane Voigan (voz). Fechando a semana principal de concertos do Festival, o Cine-Theatro Central volta a ser palco do evento em 30 de julho com A Noite de São João, a primeira ópera brasileira, com música de Elias Álvares Lobo e libreto do escritor José de Alencar. A montagem é uma realização do Festival, em co-produção com o Conservatório de Tatuí, e contará com a Orquestra Sinfônica do Conservatório e o Coro Madrigale, além do elenco da ópera.
Humor e canções do rádio
A programação da edição retorna em agosto para finalização do evento com duas apresentações especiais no Cine-Theatro Central: o concerto Die Opernprobe (O ensaio de Ópera), com a Orquestra Sinfônica da UFRJ, que será realizado no dia 26 de agosto. Com música e libreto do compositor alemão Albert Lortzing (1801-1851), pouco executado no Brasil, o concerto introduz o público juiz-forano no singspiel, um gênero teatral que alterna diálogos falados e trechos cantados. A obra, que será cantada e dialogada em português, é uma comédia sobre o próprio universo operístico.
A última atração musical do 34º Festival é o concerto Chão de Estrelas, que acontece no dia 28 de agosto, reunindo no palco do Central o tenor Giovanni Tristacci e o pianista Marcus Medeiros. A apresentação resulta do projeto desenvolvido pelo tenor, que convidou destacados compositores brasileiros para “traduzir” uma canção da era de ouro das rádios para o universo da canção de câmara brasileira – em especial na composição da parte do piano. “São obras escritas a nosso pedido, que foram tocadas apenas uma vez, em 2016, no Theatro Municipal de São Paulo”, ressalta Medeiros. Estão no programa do concerto canções como As Rosas não Falam, de Cartola, A Noite de Meu Bem, de Dolores Duran, e Chão de Estrelas, de Orestes Barbosa e Sílvio Caldas, que empresa o nome à apresentação.
Como já é tradição do Festival, os concertos do evento (à exceção da apresentação do dia 13) serão precedidos de palestra do professor do curso de Música da UFJF, Rodolfo Valverde, uma hora antes, proporcionando ao público introdução e contextualização do programa de cada apresentação.
Veja a programação completa do evento.
Oficinas
Nesta edição do Festival, as oficinas serão no formato de masterclass, ou seja, aulas com mestres em suas especialidades, profissionais consagrados por seu conhecimento e experiência na área. Serão oferecidas masterclasses de educação musical infantil, com Margareth Darezzo; de ópera, com Rosana Orsini; de piano, com Marco Brescia; de violão, com José Manuel Dapena; de canto lírico, com Flávia Albano; de violino barroco, com Roberto Santamarina; e de cravo, com Bruno Procópio. As aulas serão realizadas de 22 a 28 de julho.
Gratuitas, as inscrições estão abertas e podem ser feitas on-line, por meio do link https://forms.gle/rvQ7wy2XaZ2Qs33h7.
34º Festival Internacional de Música Colonial Brasileira e Música Antiga
Cantata Gualaxo do Norte – Duo Rio de Ouro
Dia 13/07, às 20h, no Cine-Theatro Central (Praça João Pessoa, s/n – Centro, Juiz de Fora, MG)
Entrada franca (Os convites serão distribuídos no Centro Cultural Pró-Música no dia da apresentação, das 8h às 18h. Máximo de quatro convites por pessoa)
* Todos os concertos serão precedidos de palestras ministradas pelo Prof. Rodolfo Valverde (UFJF), uma hora antes, nos mesmos locais das apresentações.
Outras informações:
Pró-reitoria de Cultura – (32) 2102-3964