O curta-metragem “Punica granatum”, produzido por estudantes do curso de Bacharelado em Cinema e Audiovisual do Instituto de Artes e Design (IAD) da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) foi selecionado para o festival internacional Lift-Off Sessions March 2023. A mostra promovida pelo estúdio britânico Pinewood Studios é realizada on-line, por meio do site Vimeo, até o dia 10 de abril. O curta é exibido na categoria “Global Short Film”.
A temática principal do filme é a relação gasta de um casal, que já não tem mais diálogo entre si. De acordo com a diretora, Letícia Tanaka, o objetivo com o filme de cena única não é contar uma história, mas sim, sensibilizar o público para que ele possa fazer uma reflexão. O casal se encontra no ambiente privado de sua casa, ambos estão em sofrimento. O motivo, não explicitado, é o mesmo. A cena é escrita por Vinícius Oliveira e interpretada pelos atores Hellen Amaral e Michell Costa.
“A maneira como eles lidam com o ocorrido e a falta de entendimento entre os dois criam uma atmosfera tão sufocante, que o próprio silêncio parece ensurdecedor. A ideia é fazer com que o público sinta as emoções muito bem construídas visual e sonoramente pela equipe do filme e com a atuação impactante dos atores”, revela Letícia, graduada no curso de Bacharelado Interdisciplinar em Artes e Design, em 2018, e no Bacharelado em Cinema e Audiovisual, em 2021.
A diretora salienta que apesar de a situação retratada no curta ser ficcional e de o filme se passar em outra época, há uma semelhança com a realidade atual, na “relação entre homens, mulheres, sociedade, suas vozes, seus sentimentos e os segredos ocultos por dentro de quatro paredes”.
Novelas de época foram referência artística
O curta foi gravado em 2019 no Estúdio de Cinema Almeida Fleming, localizado no IAD, como parte de atividade de disciplina ministrada pela professora Alessandra Brum. Ao notar a dramaticidade e a formalidade nas falas dos personagens escritos por Vinícius Oliveira, a diretora sugeriu que a ação se passasse no século passado, inspirada pelo melodrama presente nas novelas de época – referência que adquiriu ao assistir a esses conteúdos em seu ambiente familiar. Para a personagem feminina do curta, Letícia teve como referência a protagonista da minissérie brasileira “Maysa – Quando fala o coração” (Globo, 2009), pois encontrou semelhanças entre as personagens: seguiam com personalidades fortes, mesmo enfrentando grandes sofrimentos no âmbito privado.
“Criamos um cenário e figurinos dos anos 1950-1960 e levamos um drama teatral para a cena. Sabíamos que era um desafio construir uma sala de jantar de um casal tradicional do século passado em pouco tempo e com pouco recurso, mas para minha feliz surpresa, todos toparam o desafio”, relembra.
Segundo a diretora, a fotografia do curta-metragem, a equipe estudou enquadramentos e iluminação que gerassem a sensação de isolamento e solidão no espectador. As características dramáticas da luz do teatro foram adaptadas para o cinema. O som também foi desenhado de forma a levar o espectador até a atmosfera do ambiente e ao interior dos sentimentos dos personagens.
A fase atual é da distribuição da obra, trabalho realizado pelo produtor executivo do curta, Matheus Jeronymo. A seleção para o festival internacional após um momento de dificuldade para o setor audiovisual (e cultural, como um todo) gera uma sensação de “felicidade com esperança”.
“O momento em que eu estava cursando cinema, assim como meus colegas, foi muito difícil. A gente estava sob um governo que desmontou a cultura, o audiovisual brasileiro e a universidade pública. Logo depois veio a pandemia. O esforço valeu a pena”, afirma Jeronymo, que se graduou no Bacharelado em Cinema e Audiovisual no começo deste mês.
Para o egresso da UFJF, o resultado positivo do trabalho é uma realização da equipe do curta e da Universidade. “É uma vitória da universidade pública, da UFJF em si, que graças ao curso a gente pode produzir o curta em uma disciplina e nem imaginávamos que um dia o filme poderia estar em um festival internacional”, destaca.
Após uma pausa, o projeto foi retomado em 2022, quando o filme foi editado e finalizado pela diretora. Nesse período de interrupção, Letícia Tanaka realizou intercâmbio acadêmico na Universidade da Beira Interior, em Portugal. A experiência foi realizada por meio do Programa de Intercâmbio Internacional de Graduação da UFJF (Piigrad).
Vencedores do festival poderão apresentar filme na Inglaterra
A lista de vencedores do Lift-Off Sessions March 2023 será divulgada depois do término do festival. Os vencedores são chamados para o Lift-Off Season Awards, que será realizado durante o verão no hemisfério norte, ainda sem data definida. Os ganhadores poderão exibir o filme presencialmente na sede do Pinewood Studios, na Inglaterra, além de se apresentar para futuros projetos.
O curta “Punica granatum” está no Programa 4 do festival. Para acessar, é preciso pagar uma taxa de US$ 20 à plataforma Vimeo. Com exceção dos atores, todo o restante da equipe é formado por estudantes do curso de Bacharelado em Cinema e Audiovisual do IAD/UFJF.
Confira o trailer do curta.