Com a proposta de desconstrução da visão pejorativa que permeia as cantigas dos terreiros de Umbanda, o artista plástico, Cipriano, leva à galeria Retratos-Relâmpago, do Museu de Arte Murilo Mendes (Mamm/UFJF), uma série de 47 obras concebidas para a exposição “Pontos cantados, pontos riscados: um pensamento-desenho afro”, em cartaz a partir da próxima quinta-feira, 23. Com abertura às 19h30 e entrada franca, a visitação à mostra se estende até 4 de junho, de terça a sábado, das 9h às 18h, e domingo, das 13h às 18h.
Trata-se da primeira mostra individual do artista, que traz ao público uma reflexão sobre a “gira”, que, na umbanda, representa a reunião de vários espíritos incorporados em médiuns. A ideia de Cipriano é instigar o espectador, celebrando a maneira de cantar e pintar a vida, descolonizar a mente e promover a arte afrodescendente, a fim de escrever uma história que revisita os antepassados por intermédio da criação artística como conhecimento e direito humano.
Os trabalhos são produzidos com materiais como o pó xadrez preto, a cal, o carvão vegetal e a pemba, que carregam forte simbolismo nos terreiros de macumba. Os desenhos envolvem técnicas mistas realizadas sobre papel Paraná; monotipia em papel Paraná, em tecido algodão, em papel Canson e em papel pardo; tecido e lençol.
Ocupar e movimentar o espaço
A expectativa de Cipriano com a exposição é a de “macumbar”. As obras, segundo o autor, “apresentam saberes e conhecimentos trazidos pelos pretos africanos e os antepassados que o formaram como ser vivente em movimento”. O artista comenta que deseja ocupar e afetar o espaço, mas também quer ser afetado pelas experiências de africanidades.
“O mundo é sensível, é sentido – afeto. O movimento e a materialidade presentes no desenho, na arte de desenhar, possuem conceitos e informações específicas que nos remetem ao tempo e ao espaço. É a capacidade humana de transformar a natureza”, declara.
Contextualizando ainda mais a exposição, Paulo Alvarez, do Mamm, destaca que este ano fazem 20 anos da Lei 10.639/03, que tornou obrigatório o ensino da cultura e da história afro-brasileira nas escolas públicas e privadas. O objetivo é resgatar junto aos estudantes dos ensinos fundamental e médio a contribuição de africanos e afro-brasileiros nas mais diversas áreas. “Portanto, esta exposição referenda a data, além de reforçar o resultado de uma pesquisa desenvolvida por um mestrando da UFJF”.
Alvarez analisa que o Mamm é o lugar propício para apresentar “Pontos cantados, pontos riscados: um pensamento-desenho afro”, uma vez que, além de trabalhar com a coleção do patrono da casa, o poeta Murilo Mendes, trata-se de um museu universitário, que deve, mais do que nunca, abrir espaço para essas discussões.
Poética ubuntu
Nascido em Petrópolis, Rio de Janeiro, em 1981, Pedro Ivo Cipriano é um artista é referenciado por nomes como Rubem Valentim e Glenn Ligon. Utilizando-se de elementos gramaticais e dos cultos afro-brasileiros para nomear seus trabalhos artísticos, traz em sua poética uma mistura de arte afrodescendente e gesto expressivo em pensamento ubuntu na sociedade brasileira.
Mestrando em Educação na Universidade Federal de Juiz de Fora, pós-graduado em Metodologia do Ensino de Artes pelo Centro Universitário Internacional (Uninter), licenciado em Letras pela Universidade Católica de Petrópolis (UCP), mergulhou no universo das artes plásticas, se intitulando um Macumbeiro Pictórico. Membro do Museu da Memória Negra de Petrópolis, é também integrante do Mirada – Grupo de Estudo e Pesquisa em Visualidades, Interculturalidade e Formação Docente da UFJF.
Outras informações: (32) 2102-3582 (recepção do Mamm) /
2102-3964 (Procult)