Para encerrar as atividades do Grupo Divulgação neste ano, está em cartaz a exposição “22: O tempo da memória”, na Galeria de Arte do Forum da Cultura da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF). A mostra concebida em três atos relembra nomes fundamentais da dramaturgia nacional e universal: Oswald de Andrade, Jorge Andrade e Molière, além de contar com uma retrospectiva do trabalho realizado pela companhia em 2022.
O visitante poderá conferir cartazes e fotografias de peças dos três autores encenadas pelo Divulgação nestes 56 anos de trajetória – interrompida apenas por conta do isolamento social advindo com a pandemia da Covid-19. O grupo retomou os trabalhos presenciais no começo de 2022. Por isso, a mostra também é uma ocasião para comemorar.
“Celebrar é sempre preciso, principalmente, quando pensamos que 2022 foi um ano especial para a história do Grupo Divulgação. Um ano muito difícil com um país dividido, mas que assinala o retorno do grupo aos palcos. Nos teatros Paschoal Carlos Magno e Forum da Cultura marcamos nossa presença”, destaca o teatrólogo e coordenador do grupo, José Luiz Ribeiro.
Oswald, o marqueteiro
No primeiro ato da exposição, o foco é o paulista Oswald de Andrade. Ícone do Modernismo, sua obra foi celebrada, em março, com o espetáculo “22: A Semana”, em referência ao centenário da Semana de Arte Moderna de 1922. O lado “marqueteiro Oswald”, como define Ribeiro no texto de abertura da exposição, foi tratado de forma bem-humorada pelo Divulgação
Oswald de Andrade também esteve presente com o espetáculo “A Morta Insepulta”, versão livre de José Luiz Ribeiro sobre “A Morta”. A remontagem marcou as comemorações dos 50 anos do Forum da Cultura, inaugurado em 1972. Na ocasião, o Divulgação abriu a casa com a encenação do texto original do dramaturgo paulista. Outros textos de Andrade já montados pelo GD são “O Rei da Vela”, em 1982, e “O Homem e o Cavalo”, em 1995.
Jorge Andrade, centenário
Outro centenário importante comemorado em 2022 foi o de nascimento do dramaturgo paulista Jorge Andrade, objeto do segundo ato da mostra. Paulista de Barretos, filho de fazendeiro, Andrade briga com o pai e vai para São Paulo onde assiste “O Anjo de Pedra”, de Tennessee Williams, com a atriz Cacilda Becker. Esse encontro é fundamental para a história do teatro brasileiro. “Muda o rumo de sua vida e faz nascer um dos mais brilhantes dramaturgos brasileiros”, afirma José Luiz Ribeiro.
Jorge Andrade é o autor da dramaturgia nacional mais encenado pelo Divulgação: são seis espetáculos em diferentes épocas do grupo e do Brasil, em que as temáticas do escritor (a herança cafeeira e a vida nas cidades grandes) se fizeram presentes. De Andrade, o GD encenou: “Pedreira das Almas” (1977), “Rasto Atrás” (1989), “Vereda da Salvação” (1992), “Os Ossos do Barão” (1999) e “Senhora na Boca do Lixo” (2002).
“‘Pedreira das Almas’ teve uma montagem muito bem-sucedida. Sua cenografia marcou o teatro mineiro. Ainda voltaremos a rever a obra de Jorge Andrade. É um sonho”, enaltece José Luiz Ribeiro.
Molière, o riso como proposta
Jean-Baptiste Poquelin, mais conhecido pelo pseudônimo Molière, é o tema do terceiro ato da exposição. Homem integral de teatro – ator, autor, diretor – é considerado o maior dramaturgo francês de seu tempo. Nascido há exatos 400 anos, em 1622, Molière vinha de uma família burguesa. Morreu aos 51 anos após passar mal no palco, enquanto interpretava o personagem Argan, de sua peça “O Doente Imaginário”.
O primeiro texto do francês encenado pelo Divulgação foi “Escola de Mulheres”, apresentado na Casa d’Itália em 1970. “Em uma tradução de Millôr Fernandes, foi um espetáculo premiadíssimo”, conta Ribeiro. Seguiu-se “O Burguês Fidalgo”, em 1991. Sobre este espetáculo, José Luiz Ribeiro avalia: “Vimos sua correspondência com os tempos. Criticar, rindo de homens e costumes foi a nossa métrica. Molière sempre nos ensinou a fazer do teatro uma arma.”
Em 2013, foi a vez de o GD montar “O Doente Imaginário”, em celebração aos 50 anos de teatro de José Luiz Ribeiro. Na ocasião, o teatrólogo interpretou Argan, o personagem-título. Ao longo de 56 anos de história, o grupo também montou de Molière, “Sganarello”, com direção de Lucas do Amaral, além de “As Preciosas Rídiculas”, com o Núcleo de Adolescentes. A história do dramaturgo francês foi contada em “Lição de Molière”, texto assinado por Ribeiro.
2022: ano da retomada
No retorno aos palcos após o isolamento causado pela pandemia, além de “A Morta Insepulta”, o Núcleo Universitário encenou outros dois espetáculos: o infantil “O Ratim Conquistador”, mais assistido do segmento na 19ª Campanha de Popularização Teatro & Dança de Juiz de Fora e “S.O.S Brasil”, espetáculo em que o riso serviu de fio condutor para uma reflexão sobre os acontecimentos político-culturais de 2022 no país.
O Núcleo de Adolescentes encenou “O Quinteto”, sobre um conjunto de meninas que vivem em um orfanato às voltas com uma tentativa de descobrir suas origens e entre os preparativos para a performance em um concurso musical. Como conclusão dos cursos de iniciação ao teatro, foram apresentados “22: A Semana”, em março, e “Voto Vendido é Voto Traído”, em setembro. Todos os espetáculos contaram com autoria e direção de José Luiz Ribeiro.
O Forum da Cultura da UFJF fica na Rua Santo Antônio, 1.112, Centro, Juiz de Fora. As visitas à mostra podem ser feitas de segunda a sexta-feira, das 10h às 19h. A entrada é franca.
Outras informações: (32) 2102-6306 – Forum da Cultura