Quatro artistas, com suas diferentes trajetórias individuais, estilos, técnicas e expressões artísticas, uniram forças para apresentar a diversidade de sua produção na mostra Quadrilátero, que ocupa a galeria Espaço Reitoria, no Campus, a partir de quinta-feira, dia 8 de dezembro. Inspirado no conceito da figura geométrica – um polígono de quatro lados cujos ângulos apontam para regiões diferentes –, o título da exposição procura representar a visão de cada um de seus integrantes. “Mesmo que nossas carreiras estejam em pontos diferentes quanto à evolução, estamos juntos, nos apoiando, buscando exercer a arte de forma plena e nos articulando. Afinal, o que nos une é a própria arte”, diz o texto de apresentação da mostra.
Formado por Flávia Guimarães, Ramón Brandão, Tarsila Palmieri e Rocher Monteiro, o grupo proclama a liberdade de expressar a arte sem rótulos e restrições, ideal, segundo eles, favorecido atualmente pela dinâmica dos meios de comunicação e da internet, que difundem informação e novas tendências e estilos, contribuindo assim para fomentar o imaginário artístico. Em Quadrilátero, esse impulso criativo se expressa em obras figurativas ou abstratas produzidas em técnicas tão diversas quanto acrílicas sobre tela ou papel reciclado, aquarelas ou estruturas topográficas em E.V.A. (material emborrachado) e papel.
Os artistas e suas obras
Natural de Valença, interior do Rio de Janeiro, e radicada em Juiz de Fora, a jovem Flávia Guimarães comparece com uma série de aquarelas em homenagem aos estados brasileiros, em que procura representar a diversidade da paisagem natural e urbana do país através do registro de monumentos, marcos e símbolos característicos, como o Corcovado, no Rio de Janeiro, o Pantanal de Mato Grosso, o jardim botânico de Curitiba e os arcos da orla de Aracaju, em Sergipe. Apaixonada pela técnica da aquarela, a artista, que é estudante de Farmácia na UFJF, cria as suas próprias tintas e paleta de cores através de pigmentos em pó e processos que se assemelham à manipulação farmacêutica de produtos semi-sólidos, procedimento artesanal que confere às suas pinturas cores únicas, não disponíveis no mercado.
Atuante no cenário artístico da cidade desde meados da década de 1980, o juiz-forano Ramón Brandão é reconhecido especialmente pela temática de ferros velhos, arquitetura antiga, brechós e lugares abandonados, explorados como ícones da solidão e do consumismo na sociedade atual, e representados no estilo moderno da escola realista norte-americana.
Em Quadrilátero, o artista apresenta obras em acrílico sobre papel reciclado, focalizando velhos automóveis abandonados e destruídos em ferros velhos. “Minha arte pode ser definida como uma apreensão da realidade perdida nas coisas abandonadas e descartadas pela civilização moderna, no que é denominado obsolescência planejada, ou simplesmente naquilo que perdeu seu significado original. […] Desses lugares e objetos emana o silencio ruidoso daquilo que ainda existe, mas não por completo. São pinturas, desenhos, aquarelas e dioramas que tentam captar o derradeiro momento entre a redenção e a destruição total”, define Ramón, que já participou de individuais e coletivas em centros como Rio de Janeiro, Belo Horizonte, São Paulo e no exterior, além de atuar como professor de artes, ilustrador, cenógrafo, historiador e escritor.
Radicada em Juiz de Fora há 30 anos, Tarsila Palmieri, natural de Santos Dumont, se envolveu com arte desde a infância, incentivada pela mãe e a avó, interesse que se aprofundou na escola e na juventude. A artista afirma que seu processo criativo parte de temas que a sensibilizam ou questionam. Em Quadrilátero, Tarsila apresenta a série Telas Urbanas, constituída de obras tridimensionais e totalmente brancas, com apelo minimalista e geométrico. A artista se baseia em técnicas de construção de maquetes topográficas e utiliza topografias reais de partes de Juiz de Fora, em escala livre, para provocar uma reflexão sobre a exploração do terreno da cidade como “uma tela em branco a ser explorada sem restrição”. Segundo ela, o trabalho também representa “um protesto na busca de olhares sobre melhores condições de moradia, áreas de risco e desmoronamentos, redução de desmatamentos, natureza e paz, que a cada dia se faz mais distante, com tanto a ser reparado no planeta”.
Completando o quarteto da exposição, Rocher Monteiro também iniciou seu contato com as artes na infância, por influência da mãe, e, interessado em pintura e desenho, já aos 11 anos pintou sua primeira obra retratando o cotidiano de trabalhadores da zona rural, tema que se desdobrou em uma sequência de trabalhos sobre fazendas de café, casario e paisagem mineiros. Para a mostra, o artista, admirador das vanguardas europeias e do modernismo brasileiro, traz acrílicas sobre tela, inspiradas na estética e na temática modernistas, com sua valorização da cultura nacional, porém numa abordagem mais contemporânea. Rocher Monteiro foi curador da Galeria Arte e Cultura e vice-representante da Cadeira de Artes Plásticas do Conselho Municipal de Cultura do Município de Valença, sua cidade natal, e participou de vários concursos de pinturas e exposições no Rio, São Paulo, Santa Catarina, Porto Alegre e em países como Alemanha, Japão, Estados Unidos, França e Finlândia.
Outras informações: Pró-Reitoria de Cultura – (32) 2102-3964