A ciência que estuda os seres que viveram no planeta Terra em um passado remoto, a Paleontologia, é uma das áreas que mais despertam o fascínio das pessoas, desde a mais tenra infância. Por meio de vestígios encontrados, normalmente entre rochas, a função dos paleontólogos é investigar tudo o que envolve a existência desses habitantes tão curiosos do nosso planeta – como a anatomia, os hábitos de vida, como interagiam entre si e com o ambiente, e de que forma morreram.
Foi o caso do estudante da graduação em Ciências Biológicas da UFJF, André de Oliveira Fonseca, que desde os 3 anos é encantado por todos os tipos de dinossauros. Inspirado pela perspectiva de lidar mais de perto com os seres que viveram aqui e nos ajudam a contar a história da humanidade, resolveu fazer um estágio na Universidade Federal de Santa Maria (UFSM). “Mandei um e-mail para esse grupo, que já sabia ser um laboratório de referência na área de Paleontologia no Brasil, pedindo para fazer um estágio lá. Quando recebi o aceite, não pensei duas vezes”, explica.
“A experiência compreendeu algumas atividades práticas e incluía ir para campo, para os sítios fossilíferos da região e escavar à procura de algum material. Foi em um dia desses que achamos o material que foi nomeado Stenoscelida aurantiacus, perna completa de um proterochampsídeo”, conta. O achado foi considerado de grande relevância para a área de conhecimento, tanto que já rendeu um artigo no Journal of Systematic Palaeontology, publicação de alto impacto científico, que teve André Fonseca como um dos autores.
O estudo descreveu, a partir do fóssil, uma nova espécie de réptil que conviveu com os primeiros dinossauros. O relato do novo proterochampsídeo foi possível em função do membro posterior achado estar completo e bem preservado. O nome Stenoscelida vem do grego e significa perna delgada; já aurantiacus é derivado do latim e significa laranja, fazendo referência à coloração alaranjada dos leitos rochosos de onde o fóssil foi escavado. Fonseca foi integrado à rotina do centro de pesquisa, inclusive às atividades da área de pesquisa e coleta de materiais.
“Tive sorte de estar em campo bem no dia em que encontramos o material. Ajudei a retirar do solo, limpar e trazer para o laboratório. O material é levado para o laboratório para facilitar uma limpeza detalhada, ou seja, o processo de tirar toda a terra de cima do fóssil, não foi feita por mim, por ser um procedimento que requer bastante experiência e eu estava lá só há uns dois meses”, esclarece. Além do processo de campo, o estudante colaborou também com a redação do artigo em si.
Sobre a possibilidade de ser uma inspiração para outros estudantes ampliarem suas perspectivas de acesso ao conhecimento, André conta que também conseguiu por influência de outro colega. “Quando fiquei sabendo que esse amigo planejou fazer algo parecido, só que em outra área, me empolguei e comecei a estudar onde e como fazer. Sabia desse laboratório, li materiais e trabalhos feitos por eles, enviei o e-mail pedindo uma oportunidade, explicando minha situação e porque queria estagiar lá. Assim, consegui passar quatro meses trabalhando com eles”, completa.
Um ponto abordado por Fonseca é que a peculiaridade da área em que ele atua tem características que dificultam a pesquisa, mas quando superadas tendem a resultar em importantes trabalhos. “Trabalhar com paleontologia tem uma dificuldade intrínseca que é ficar refém de estar perto da localidade das coletas de novos materiais. Porém, quando conseguimos coletar algo mais completinho, como foi nesse caso, provavelmente será algo significante, por ter poucas amostras”. A perspectiva é que o aluno termine a graduação em janeiro de 2023 e já iniciou o processo de seleção para mestrado na própria UFSM. “Estou fazendo seleção de mestrado para o PPG em Biodiversidade Animal. Pretendo trocar de material (Stenoscelida), mas continuar trabalhando em paleontologia. Minha proposta para o mestrado é estudar outro fóssil da coleção deles”, finaliza.