O espetáculo “As mulheres de Carlos Gomes” chega ao Cine-Theatro Central na terça-feira, 22 de novembro, como resultado da edição 2021/2022 do Programa de Bolsas de Iniciação Artística (Pibiart), da Pró-reitoria de Cultura da UFJF. Desenvolvido pelos estudantes Thalita Mileny e Matheus Farias, o projeto “Nhá Biana – a ópera por trás do homem” nasceu com o propósito de investigar o possível impacto da morte da mãe do compositor brasileiro em sua obra operística. O professor Rodolfo Valverde, orientador dos bolsistas ao lado da docente Taís Vieira, explica que Fabiana Maria Cardoso Gomes, conhecida como Nhá Biana, foi assassinada quando Carlos Gomes tinha oito anos de idade e nunca se soube o real motivo, nem há registros sobre quem foi o assassino.

“A ideia inicial era determinar se haveria alguma correlação entre esse fato e o destino trágico sofrido pela maioria absoluta das heroínas das óperas compostas por Carlos Gomes, daí o nome do projeto. Entretanto, como eu mesmo já previa, nada pôde ser estabelecido, mas o tema inicial se converteu em uma análise abrangente da figura feminina através das lentes do Romantismo, expressão artística por excelência do século XIX e perfeitamente representado através da obra de Carlos Gomes, o maior compositor brasileiro do período com uma ampla projeção internacional”, ressalta Valverde.

O concerto final do projeto, intitulado “As Mulheres de Carlos Gomes”, apresenta árias e cenas das principais óperas do compositor, interpretadas por alunos e ex-alunos do curso de Canto do Instituto de Artes e Design da UFJF, enfatizando o destino trágico de suas protagonistas em uma contextualização atemporal, universal e crítica do papel da mulher na sociedade e na história. “A atualidade e a relevância do tema certamente abrirá as portas para a compreensão do público de que a ópera não é uma grande arte do passado e para poucos, mas que fala a todos, eterna, vibrante e absolutamente atual”, diz.

Rodolfo Valverde acredita que a atualidade do tema mostra que a ópera é para todos

Considerado como um dos maiores trunfos artísticos da Renascença, a ópera teve inspiração no antigo teatro grego, com uma mescla de música e artes cênicas, entre outros elementos culturais, como cenários e figurinos, transformando-se em uma arte completa de grande apelo junto às audiências. Inicialmente destinada às elites, o gênero vem sendo desmistificado e ganhando espaço popular, graças também a iniciativas como a do espetáculo a ser apresentado no Central.

O professor assinala ainda a importância do projeto ao levantar temas relevantes como a violência contra a mulher. O feminicídio no Brasil e a frequência com que continuam a acontecer abusos e assédios morais e sexuais ao longo do tempo são alguns dos prismas do trabalho realizado, sempre tendo como ponto de partida o repertório operístico de Carlos Gomes. “A partir das obras dramáticas do compositor e maestro, abordamos esses temas sob uma perspectiva atual e ao mesmo tempo universal”, destaca.

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