Além de ser um medo comum (80% dos brasileiros temem perder total ou parcialmente a visão, por exemplo), os procedimentos cirúrgicos e os tratamentos para casos de comprometimento dos olhos são complexos. Um desses casos é desafiador ainda na etapa do diagnóstico: trata-se da neurite óptica, uma inflamação causadora de dor ocular e perda total ou parcial da visão, que não tem um consenso em sua classificação ou critérios diagnósticos precisos na literatura médica – isto é, até a divulgação de um estudo que conta com a participação do pesquisador Leonardo Provetti Cunha, da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF). Ele foi publicado pela revista internacional The Lancet, um dos periódicos científicos mais respeitados e prestigiados do mundo.
Ao facilitar a identificação da neurite óptica, os resultados da pesquisa impactam diretamente no tratamento adequado de pacientes com esclerose múltipla, distúrbios do espectro da neuromielite óptica (NMOSD), entre outras doenças. “A importância deste artigo foi criar e validar um novo sistema de classificação da neurite óptica de forma que auxilie os médicos no reconhecimento desta condição. Essa inflamação é a causa mais comum de perda visual súbita por acometimento do nervo óptico, especialmente em jovens, podendo levar à perda importante da visão”, elucida Cunha.
Sistema inédito
O artigo publicado descreve um novo sistema de classificação da neurite óptica, apresentando critérios baseados em características clínicas e exames complementares que permitem diagnósticos mais precisos. Segundo Cunha, esses exames podem utilizar imagens do cérebro, da órbita e da retina ocular. “Ainda contamos com a pesquisa de anticorpos no sangue ou no líquor, que é o líquido que envolve o cérebro junto com suas membranas.”
Os critérios apresentados no estudo têm potencial para, além de tornar os diagnósticos mais precisos, também reduzir erros e fornecer informações importantes para compreender o curso da neurite óptica, ajudando médicos a avaliar a necessidade de tratamentos de longo ou curto prazo. A partir das informações traçadas pelos pesquisadores, esse novo sistema de classificação da doença permite, ainda, a identificação de subgrupos mais homogêneos da doença, sempre levando em conta as diferentes realidades locais e regionais do acesso à saúde dos pacientes.
Rede de pesquisa
Leonardo Provetti Cunha é um dos pesquisadores que assinam o artigo, ao lado de cientistas de universidades parceiras do exterior, como a University College London (Inglaterra), Universidade de Sydney (Austrália) e University of Bern (Suíça). Ele pontua que “a importância da participação de pesquisadores e de outras instituições ao redor do mundo traz maior credibilidade e qualidade ao artigo, permitindo que eles possam trazer a sua experiência e da sua equipe, além de compartilhar possíveis particularidades das populações que possuem em muitas vezes realidades étnicas, econômicas e sociais distintas”.
Próximos passos
Após o reconhecimento internacional e a publicação do trabalho, Cunha afirma que pretende seguir no campo abordado no estudo. “Temos um robusta linha de pesquisa que busca a descoberta de novos biomarcadores, que são sinais da doença de extrema importância para o diagnóstico, e ainda investiga novos tratamentos em doenças da retina e do nervo óptico que podem levar à perda visual – tais como retinopatia diabética, degeneração da mácula, doença de Alzheimer, doença de Parkinson, dentre outras”, adianta. “Também temos projetos de pesquisa em andamento que contam com outras parcerias em instituições nacionais e internacionais renomadas, como a Universidade de São Paulo (USP) e a de Rhode Island, nos Estados Unidos.”
Outras informações
Confira o artigo na íntegra: Diagnosis and classification of optic neuritis