Em 21 de setembro, é celebrado o Dia Nacional de Luta da Pessoa com Deficiência, instituído por iniciativa de movimentos sociais no ano de 1982 e oficializado através da Lei 11.133, de 14 de julho de 2005. A data marca a importância da demarcação dos direitos adquiridos pela população com algum tipo de deficiência, que, segundo o Censo de 2010 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), é composta por mais de 45 milhões de brasileiros.
Para reafirmar as lutas travadas diariamente por essas pessoas, o Núcleo de Apoio à Inclusão (NAI) da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) organiza o Encontro de Reconhecimento do Dia Nacional da Luta da Pessoa com Deficiência, nesta quarta, das 10h às 11h30, na Ágora no campus sede, espaço localizado ao lado do Jardim Sensorial, próximo ao prédio da Reitoria da UFJF. O evento reúne estudantes com deficiência, profissionais que trabalham no NAI, bolsistas e colaboradores, bem como representantes de Diretórios e Centros Acadêmicos (DAs e CAs) e do Diretório Central dos Estudantes (DCE).
Segundo a coordenadora do NAI, Nádia Faria, esse será um momento de se encontrar pessoalmente com os discentes atendidos pelo Núcleo e uma oportunidade de refletir sobre as conquistas e desafios da inclusão na UFJF. “Resolvemos fazer o encontro para marcar esta data. Reconhecemos que o Dia Nacional da Luta da Pessoa com Deficiência precisa ser discutido e reconhecido, bem como a batalha diária dos estudantes que estão dentro da nossa Universidade. Muitos deles, inclusive, nem sabem da existência do nosso Núcleo. Então essa é também uma oportunidade de nos aproximarmos desses alunos e alunas.”
Direitos fundamentais
O NAI hoje atende entre 70 e 75 estudantes com deficiência. Para isso, conta com uma equipe de 15 bolsistas que os acompanham em atividades na UFJF, dentro ou fora de sala de aula. Um dos alunos que recebe a atenção do Núcleo é Lucas França, de 24 anos, que cursa bacharelado em Letras – Espanhol. Ele conta que tem retinose pigmentar, uma doença que surge quando as estruturas fotorreceptoras do olho (cones e os bastonetes) deixam de captar luz, prejudicando a formação da imagem pela retina, o que acarreta no que se denomina baixa visão.
O estudante de Letras explica que, por conta de sua deficiência, demora cerca de 40 minutos para ler uma página de livro, por exemplo. E que são os bolsistas do NAI que o auxiliam nessas leituras. “Não fosse o NAI e seus monitores, minha vida acadêmica seria mais difícil. Por isso, um conselho que eu dou para aqueles que estão entrando agora na Universidade é procurar o Núcleo.”
Nádia reforça, no entanto, que esse atendimento recebido por Lucas e por outros estudantes não pode jamais ser entendido como um pedido de favor ou caridade. “Acredito que a grande luta das pessoas com deficiência, atualmente, é garantir o direito à acessibilidade e adaptações na sua vida acadêmica, sem ter que ficar provando o tempo todo que isso é um direito. Eles estão resguardados pela legislação. Por isso, dentro da Universidade ou fora dela, promover inclusão e acessibilidade é algo fundamental”.
Entre as ações de acessibilidade que precisam ser garantidas está a construção de rampas para cadeirantes e pessoas com deficiência visual. “O acesso a muitos espaços é algo bastante limitado. No caminho para a UFJF, no bairro São Pedro, vários comerciantes enchem as calçadas de mesas, cadeiras e placas que se tornam obstáculos para nós e impedem ou atrapalham a nossa passagem. Realmente, as pessoas não pensam que, em uma calçada, passam diariamente diversos cadeirantes ou cidadãos com deficiência visual”, aponta França.
Adaptação de conteúdo
A coordenadora do NAI ainda comenta que são bastante comuns pedidos de alunos e alunas para que o Núcleo interceda no contato com os docentes para a adaptação de certos conteúdos, como a ampliação de provas, algo importante para aqueles e aquelas que têm baixa visão. “O objetivo é atuar para que esses estudantes se sintam fortalecidos e que consigam caminhar sozinhos, exercendo todos os seus direitos”, afirma Nádia.
Promover a inclusão é fomentar a autonomia dos estudantes, para que eles possam desenvolver seus trabalhos, ter mais oportunidades e seguir seus caminhos sem obstáculos. É no que acredita a estudante do curso de Arquitetura e Urbanismo, Ana Lua Oliveira Alves, de 27 anos, que ingressou na UFJF em 2018. Ela tem deficiência auditiva e ressalta que a adaptação de conteúdos é algo que precisa ser cada vez mais trabalhado pelo corpo docente da Universidade. “Preciso, por exemplo, de materiais que tenham mais imagens, com mais detalhes, para que eu consiga visualizar o que está sendo explicado. Sou acompanhada por intérpretes de libras em minhas atividades, mas existem certos materiais, como os de cálculos, que são mais complexos de serem traduzidos”, explica.
Para promover a formação pedagógica para docentes que atuarão com discentes surdos ao longo deste semestre que se inicia, o NAI realizou na tarde desta terça, 20, um encontro com professores, coordenadores de curso e diretores das unidades acadêmicas. “A importância da participação dos professores nessa formação é porque os surdos não têm o português como primeira língua. Eles utilizam a Linguagem Brasileira de Sinais. Então, temos discutido muito as formas de aprendizado desses alunos e alunas. É preciso ter os intérpretes em sala de aula, e ter o entendimento sobre o tempo diferenciado dos alunos e dos próprios intérpretes. Precisamos aproximar os docentes da educação surda”, ressalta Nádia.
Para Ana Lua, contar com o apoio dos professores é fundamental, visto que estar no nono período de um curso em uma universidade pública não é tarefa fácil. No depoimento que ela pretende dar no Encontro de Reconhecimento do Dia Nacional da Luta da Pessoa com Deficiência, a aluna gostaria de oferecer uma mensagem de que é preciso persistir: “Diria para os alunos com deficiência terem muita força. Não é fácil estar aqui. Ainda existe muito preconceito, as pessoas não nos dão a devida atenção. Porém, se forem fortes, tiverem foco e objetivo e souberem dos nossos direitos, eles irão vencer”.
Para serem vinculados ao NAI, os estudantes podem entrar em contato com o Núcleo pelo e-mail nucleo.nai@ufjf.br, por telefone e Whatssap (2102-3944) ou pelo Instagram (@naiufjf). O atendimento ainda é realizado de forma presencial. A sala do NAI fica localizada no saguão da Reitoria da UFJF.