O pesquisador Eugenio Damaceno Hottz é um dos especialistas agraciados pela edição de 2022 do prêmio internacional Global Research Award, oferecido pela American Society of Hematology (ASH). A homenagem é concedida para cientistas cujo trabalho se destaca mundialmente para, dessa forma, aumentar o alcance de projetos e avanços científicos na área de Hematologia, bem como fortalecer a colaboração global entre pesquisadores. Para isso, a ASH também direciona para cada um dos premiados o fomento de 150 mil dólares para financiar, por três anos, as pesquisas desenvolvidas por cada um e suas respectivas equipes.
Hottz, professor vinculado ao Departamento de Bioquímica do Instituto de Ciências Biológicas (ICB) da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), concedeu uma entrevista à equipe de Divulgação Científica da Diretoria de Imagem Institucional da UFJF. A seguir, o pesquisador explica, de forma acessível, do que se trata seu campo de pesquisa e quais retornos ele possibilita para a sociedade, assim como também cita a importância que o Global Research Award da ASH representa para ele e a UFJF.
O que você considera que fez sua produção científica se destacar para a American Society of Hematology, resultando na sua escolha para o prêmio?
Penso que o ponto de destaque fundamental para a premiação foi o projeto dedicado a investigar como ocorre a comunicação entre as plaquetas e os linfócitos, bem como os componentes da coagulação e da imunologia trabalham em conjunto na resposta contra infecções virais graves – se destacando aí a dengue e a Covid-19. Esse é um campo novo do conhecimento que estuda um ponto de “encruzilhada” entre a coagulação e a imunologia. Esse campo novo vem sendo chamado de tomboinflamação ou imunotrombose. Acredito que a ASH também levou em consideração a vasta experiência do nosso grupo no estudo desse campo em infecções virais.
De forma resumida, como podemos explicar para a sociedade, de forma acessível, qual é a importância das pesquisas conduzidas por você e por seu grupo de estudo?
Nosso projeto investiga como as plaquetas, que são as principais células da coagulação sanguínea, participam da regulação da resposta imune em infecções virais graves, como a própria Covid-19 e a dengue.
O foco principal da nossa pesquisa é a comunicação das plaquetas com os linfócitos, que são células do nosso sistema imune chamadas de glóbulos brancos. Os linfócitos desempenham diversas funções na resposta contra o agente infeccioso, como produção de anticorpos e eliminação de células infectadas, e são as células responsáveis pela geração de memória de defesa do nosso corpo, favorecendo a resposta à uma reinfecção. Nós vamos investigar como a comunicação das plaquetas com os linfócitos participa dessas respostas de eliminação dos reservatórios virais, da produção de anticorpos e até mesmo da geração de memória.
Por exemplo: quando pegamos uma infecção, essas células do nosso sangue não estão separadas umas das outras: elas estão todas no mesmo ambiente, dentro dos vasos sanguíneos. Mas elas, em geral, são estudadas separadamente. Essa separação didática entre as células e outros elementos da coagulação e do sistema imune é totalmente platônica, ela foi gerada na construção das disciplinas de hematologia e imunologia. O que nós fazemos no Laboratório de Imunotrombose é olhar para essas células e sistemas juntas. Nós queremos entender como eles operam em conjunto na resposta contra as infecções. Dessa forma, nós poderemos compreender como o nosso corpo responde às infecções de forma integral.
E, ao entender como a doença funciona, como os vírus causam a doença e como nosso corpo responde à infecção, é que nós possibilitamos o surgimento de novas estratégias terapêuticas e a melhoria do manejo clínico das infecções virais graves.
De que forma os recursos financeiros provindos do prêmio serão alocados? Você já tem planos ou previsões?
Recentemente, fundei na UFJF o Laboratório de Imunotrombose, voltado para desenvolver projetos de pesquisa justamente nesse campo do conhecimento que envolve a investigação dessa sobreposição da coagulação com a imunologia. O prêmio da Sociedade Americana de Hematologia vai me permitir equipar um laboratório com tecnologia para desenvolver esse novo campo de pesquisa na UFJF.
O que significa receber essa premiação (tanto para a sua carreira acadêmica quanto para a própria comunidade científica da UFJF)?
Para mim é uma satisfação enorme e uma oportunidade incrível para a minha carreira. O Global Research Award faz parte do programa de desenvolvimento de carreiras da Sociedade Americana de Hematologia e foi criado com o objetivo de financiar e apoiar jovens cientistas com potencial de se tornarem líderes científicos internacionais no campo da hematologia, contribuindo diretamente para o desenvolvimento de suas carreiras independentes. O prêmio é igualmente significativo para a comunidade científica da UFJF, pois destaca a existência de um grupo de pesquisa de liderança em hematologia na nossa comunidade, com desenvolvimento de projetos de pesquisa de impacto internacional.
Outras informações:
American Society of Hematology