Em seus 172 anos, Juiz de Fora coleciona histórias de encontros e reencontros com a cidade, pessoas que nasceram aqui juntam-se àquelas que escolheram a cidade para estudar ou trabalhar – movimento em grande parte proporcionado pela presença da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF). Renovam-se, semestralmente, os rostos dos jovens que começam a trilhar seu futuro a partir do ingresso na instituição.
Os laços criados no município de 600 mil habitantes não ficam só para a vida, mas contribuem para o desenvolvimento da região. “A Universidade e, consequentemente, a cidade me permitiram viver várias oportunidades que eu não imaginava, tanto que na família da minha mãe, sou o primeiro graduado e o primeiro médico”, resume Thiago Silva, natural de Itaperuna (RJ), que exemplifica a história de muitos ex-alunos da UFJF.
Aprovado no curso de Medicina da UFJF, por meio das cotas raciais, ele nunca havia visitado a cidade antes da matrícula. Aos poucos, a vida foi o surpreendendo e, em meio a graduação e a uma série de coincidências, conheceu a atual esposa, Aline Nicolette.
“Por meio das redes sociais, ela acabou vendo uma foto em que eu estava de jaleco e pintado de palhaço, pois fazia parte de um projeto de extensão da Faculdade de Medicina, chamado Hospital do Ursinho, voltado para o público infantil”, explica o médico. “Despretensiosamente, começamos a conversar. Inicialmente não deu certo, mas voltamos a sair. No terceiro encontro, após o último filme da saga Crepúsculo, assumimos o namoro. Tudo o que aconteceu era improvável. Não fazia parte do meu planejamento vir para Juiz de Fora, conhecer a Aline e permanecer na cidade já há 12 anos”, relembra.
Atualmente, Silva faz residência médica em Cardiologia no Hospital Universitário (HU), atua no Sistema Único de Saúde (SUS) e ainda tem tempo para aproveitar a vida e o que a cidade tem de melhor. “Sou muito grato a esse município que me recebeu tão bem.”
Outra história de romance iniciada em Juiz de Fora também tem como pano de fundo o ingresso da então aluna Helena Cardoso Ribeiro na UFJF. Natural de Paraisópolis (MG), ela cursou Ciências Sociais, depois mestrado e doutorado na instituição. “Foi em Juiz de Fora que conheci meu esposo e a cidade se tornou a minha segunda casa. Mesmo tendo morado em outras cidades ao sair daqui, ainda assim, aqui continua sendo a minha segunda casa pelo acolhimento, pela questão afetiva por tudo que vivi na graduação e na pós-graduação.”
Helena passou por Lisboa durante a pós-graduação; deu aulas na Universidade Estadual de Minas Gerais (UEMG), na unidade de Carangola; foi, ainda, para Governador Valadares, Lavras e São Paulo. Agora em Juiz de Fora, o casal de técnico-administrativos em educação (TAEs) apostou na qualidade de vida do município para firmar raízes. “Escolhi criar a minha filha aqui. Juiz de Fora nos oferece infraestrutura, ao mesmo tempo que tem aura de interior, bem característica de Minas Gerais. Ainda é possível encontrar conhecidos nas ruas, conversar com elas, algo que em São Paulo, por exemplo, é quase impossível, a não ser que estejamos sempre nos mesmos núcleos”, finaliza Helena.
Encanto pela cultura
O professor Carlos Fernando Cunha também não teve dificuldades em adotar a aura do interior de Juiz de Fora, mesmo vindo de uma cidade grande como o Rio de Janeiro. Passou como titular da Faculdade de Educação Física e Desportos (Faefid) em 1998 e, além das aulas, conseguiu desenvolver aqui sua paixão: o samba.
Cunha é músico, cantor e compositor. Sempre ligado ao mundo samba, é ritmista da Escola de Samba Vila Isabel, uma das mais tradicionais do carnaval carioca, desde o início da década de 90. E, ao chegar em Juiz de Fora, teve uma grata surpresa ao notar não só a qualidade mas também a variedade dos estilos de samba presentes na cidade, ao conhecer sambistas como Flavinho da Juventude, Mamão, Roger Resende, Sandra Portella.
Ter esse reconhecimento (cidadão honorário) foi algo que, com certeza, vou levar pra minha vida inteira. Essa é a minha nova certidão de nascimento.
“Fui estreitando cada vez mais os laços com esses ícones da música juiz-forana. Fui desenvolvendo diferentes trabalhos com samba aqui na cidade, especialmente por meio do ‘Ponto do Samba’, projeto de extensão da UFJF no qual desenvolvemos um resgate da memória do samba, com a realização de eventos, seminários e gravações de discos. Tudo isso em nome dessa paixão que é o samba na cidade.”
Em abril deste ano, a paixão e os trabalhos de Carlos Fernando Cunha na difusão da cultura deram-lhe o título de cidadão honorário da cidade. Em cerimônia realizada pela Câmara Municipal de Juiz de Fora, ele recebeu a honraria das mãos da vereadora Laiz Perrut. “Ter esse reconhecimento foi algo que, com certeza, vou levar pra minha vida inteira. Essa é a minha nova certidão de nascimento”, exalta Cunha, que segue movimentando a Praça Armando Toschi Ministrinho, no bairro Jardim Glória, com suas rodas de samba dominicais nas quais só tocam composições de artistas juiz-foranos com o objetivo de difundir a arte local.
O encantamento pelo repertório cultural da cidade também foi determinante para que a doutoranda em Comunicação, Aurora Miranda, adotasse Juiz de Fora. Entre as principais memórias ao chegar na cidade, a natural de Fortaleza (CE) conta que foi uma grata surpresa dar de cara com a estrutura arquitetônica do coração da cidade, especialmente, com o Cine-Theatro Central.
Ela também rememora a oportunidade de ter defendido a dissertação na UFJF, com a presença da filha e do genro e na participação de dois curtas-metragens que fez a partir do convite de estudantes de Cinema da UFJF, o ‘Parcialmente Nublado’, de Gabriel Souza e Ivan Santaella, e o documentário ‘Ninharias’. “Adoro Juiz de Fora! Sempre fui muito bem acolhida e é um lugar muito propício a quem quer estudar. Perceber que a cidade vive e cresce em torno de uma Universidade, a qual estou ligada acadêmica e emocionalmente, é uma sensação muito maravilhosa.”
Histórias de quem veio de longe
Juiz de Fora também foi a cidade escolhida por Patrick Kasonga, nascido em Kinshasa, na República Democrática do Congo. Devido aos problemas políticos em seu país, ele precisou se refugiar. A única oportunidade ocorreu no Brasil, onde ele chegou em 2003, na cidade de São Paulo.
No ano seguinte, durante um evento do Centro Internacional de Civilizações Bantu (Ciciba), ele ouviu falar, pela primeira vez, na cidade de Juiz de Fora. “Alguém me disse: você se parece com meu tio. Eu perguntei: de onde ele é?. E ele respondeu: de Juiz de Fora.” Os anos passaram e, em 2007, quando Kasonga decidiu que era hora de voltar a estudar, ficou sabendo de um convênio que a Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) tinha junto à Agência da ONU para Refugiados (Acnur), que tinha por objetivo oferecer vagas nos cursos de graduação para pessoas em situação de refugiados políticos.
E assim começa a história do congolês com a cidade de Juiz de Fora, onde mora desde 2009, no bairro São Pedro. Recebendo auxílio da UFJF para se manter na Universidade, ele conseguiu se formar na Faculdade de Letras (Fale). “Terminei a graduação e comecei a trabalhar como professor em Juiz de Fora e região. Depois, ainda voltei à UFJF para fazer o mestrado.”
A Universidade é um tipo de escada, que permite ver o horizonte.
Da família, não é só Kasonga que frequentou o campus da Universidade. Seu filho, Jonathan, que chegou ao Brasil com apenas cinco anos de idade, se formou no curso de Licenciatura em História e, hoje, continua os estudos no bacharelado. Uma relação com a cidade que se torna cada vez mais estreita para o também professor da Aliança Francesa. “Acabei me estabelecendo aqui. Juiz de Fora é uma cidade tranquila, boa para criar os filhos. E nunca se fala da cidade sem falar da UFJF. A Universidade é um tipo de escada, que permite ver o horizonte. Os dois títulos que tenho me capacitaram para competir no mercado. E tudo isso foi graças à Juiz de Fora e à UFJF.”
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