Na condição de presidente da Andifes, reitor Marcus David entregou proposta das universidades ao pré-candidato (Foto: Carolina de Paula)

“Eu queria saber qual é o sonho do jovem brasileiro hoje, e o que o Estado tem feito para ajudar a tornar esse sonho realidade”. Em pronunciamento durante encontro com reitores realizado na quarta-feira, 11, no Museu de Arte Murilo Mendes (Mamm), o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva reafirmou seus compromissos com as universidades brasileiras.

Na condição de pré-candidato, ele recebeu as Propostas das Universidades Brasileiras aos Candidatos e às Candidatas à Presidência da República em 2022”. O documento foi assinado e entregue pelo reitor Marcus David, presidente da Andifes, Associação dos Dirigentes das Instituições Federais de Ensino.

Ao todo 29 reitores de universidades participaram do evento, que contou ainda com a presença de parlamentares e autoridades da Zona da Mata, membros do Consu e da comunidade acadêmica, e da prefeita Margarida Salomão, ex-reitora da UFJF. Os tópicos principais do documento da Andifes foram abordados em pronunciamentos dos reitores.

Reitora da UFMG Sanda Regina Almeida destacou a importância de uma política externa em diálogo com as universidades (Foto: Carolina de Paula)

A reitora da UFMG, professora Sandra Regina Goulart Almeida, salientou a importância de o Brasil ter uma política externa que dialogue com o papel de protagonismo de suas universidades ao longo da história. Destacou a importância de uma associação entre instituições de ensino da América do Sul, e defendeu que o país participe desse grupo e retome as parcerias com os BRICS, laços perdidos nos últimos anos.

“Essa visibilidade e esse protagonismo do Brasil dependem das nossas universidades, que têm feito ao longo dos anos um papel muito importante nessa internacionalização que nós entendemos ser solidária e que se baseia em pilares sustentáveis de participação”. Em sua análise, a reitora da UFMG ainda lembrou a importância daquele encontro ocorrer em um museu, o que reforça o papel das universidades para a promoção da Cultura.

Talento científico ameaçado

O reitor da Universidade Federal do Pará, Emanuel Tourinho, explicitou o papel das universidades públicas no desenvolvimento científico e econômico; 60% da produção de conhecimento é feito nas instituições federais. “Esse talento científico que existe nas universidades está sendo colocado de lado pela falta de investimento”. Tourinho alertou que os sucessivos cortes ocorrem não apenas nos orçamentos nas IES, mas também nas verbas das agências de fomento, o que tem levado muitos jovens talentos a deixar o país ou desistir da carreira científica.

Reitor da UFPA Emanuel Tourinho defendeu investimento da ciência e programas de fomentou para jovens (Foto: Carolina de Paula)

“É preciso voltar a valorizar a carreira de pesquisador, é preciso valorizar a dedicação à ciência no Brasil, é preciso estimular os jovens a aqui permanecer para constituir um país de cidadãs e cidadãos”. Tourinho ainda defendeu a importância das universidades amazônicas para a promoção do desenvolvimento sustentável naquela região e no país como um todo.

A reitora da UFRJ, Denise Pires de Carvalho, sintetizou a proposta do documento de indicar caminhos para o futuro do conhecimento e dos jovens no país, por meio das universidades. Lembrou a importância de políticas realizadas na primeira década dos anos 2000 para ampliar o acesso ao ensino superior público, com o Programa de Reestruturação das Universidades Federais que ampliou o número de vagas.

Reitora da UFRJ Denise Carvalho falou sobre a necessidade de ampliação do acesso, sugerindo um segundo Reuni (Foto: Carolina de Paula)

“Mas nós não podemos falar de futuro sem levar em consideração o presente e o passado. No presente ainda há menos de um quarto dos jovens de 18 a 24 anos nas universidades públicas, portanto a maioria dos jovens ainda não tem a oportunidade de ingressar no ensino superior. Precisamos sim do Reuni 2, um programa que foi abandonado nos últimos anos”. A reitora abordou a evasão por falta de condições de permanência, e acrescentou que os países desenvolvidos mostram que é possível ter mais de 50% da população com condições de acesso e permanência nas universidades, gerando conhecimento, renda e emprego, o que permitiria ao Brasil se tornar verdadeiramente independente. Defendeu a manutenção da política de cotas, com condições que a viabilizem, como uma forma de enfrentar uma dívida histórica do país.

Financiamento

O reitor Marcos David, também presidente da Andifes, agradeceu ao ex-presidente Lula que aceitou discutir uma política para a Educação Superior e de Ciência e Tecnologia. O reitor da UFJF destacou a importância dos temas tratados pelos demais reitores e abordou a questão do financiamento.

“O que nós estamos sofrendo nas universidades públicas federais desde 2016 é muito grave em termos de financiamento das nossas instituições. O orçamento discricionário, aquilo que é utilizado na manutenção das nossas instituições, que estamos praticando agora em 2022 é inferior a metade do que foi executado em 2015”.

Como presidente da Andifes, Marcus David discursou sobre as limitações em decorrência do arrocho orçamentário enfrentado pelas universidades (Foto: Carolina de Paula)

Marcus David acrescentou que cortes tão significativos têm resultado em consequências graves. “Nós estamos ameaçando a qualidade da nossa formação, porque quando precisamos reduzir bolsas de iniciação científica, de extensão e de programas de ensino, nós comprometemos a formação dos nossos estudantes. Nós estamos sucateando laboratórios e equipamentos fundamentais. Nós temos sido incapazes de financiar as políticas de permanência de estudantes que vêm de segmentos menos favorecidos e estamos sofrendo uma trágica evasão”.

Como presidente da Andifes, Marcus David ainda alertou que a situação de arrocho orçamentário vivenciado pelas universidades não têm razões apenas econômicas, mas está ancorada em uma concepção de nação onde não existe espaço para uma grande rede de universidades públicas com acesso democratizado para todos os segmentos sociais. Estes com o direito ao livre pensar contribuiriam para a transformação social do país.

As universidades não estão recebendo a atenção que deveriam – Marcus David

“É por essa concepção de universidade não ter lugar nessa concepção de Estado que está sendo praticada hoje que talvez esteja a maior causa da crise de financiamento das universidades. As universidades não estão recebendo a atenção que deveriam”.

Marcus David salientou que a síntese do documento entregue em nome da Andifes é de um projeto de governo em que caiba uma rede de universidades públicas comprometidas com o desenvolvimento do país, com a geração de renda e com o conhecimento para todas e todos. “Quando nós entregamos esse documento, entregamos com muita esperança, porque uma análise histórica do que já foi feito nos permite acreditar que é essa concepção de Estado e de Universidade que terá espaço no seu governo. A Andifes faz a entrega desse documento em defesa das Universidades e de um projeto de nação justo, democrático e civilizado”.

Prefeita de Juiz de Fora, ex-reitora da UFJF, Margarida Salomão referenciou o poeta Murilo Mendes para defender o papel das universidades como agentes de mudança (Foto: Carolina de Paula)

A prefeita de Juiz de Fora e ex-reitora da UFJF Margarida Salomão lembrou o lema da Universidade Federal de Juiz de Fora, “Lumina spargere”, para defender a importância das instituições federais de ensino público de trazer luz e conhecimento, especialmente em tempos sombrios. Segundo Margarida, professora emérita da UFJF, a instituição nasceu duas vezes: em 1960, data de constituição oficial, e com o Reuni, quando ela praticamente dobrou de tamanho.

Ao abordar a importância do poeta Murilo Mendes, que dá nome ao MAMM, Margarida recorreu a uma de suas frases como forma de homenagem. “Eu não quero ser meu sobrevivente, eu quero ser meu contemporâneo. Para o Brasil ser contemporâneo de si mesmo, ele precisa de uma universidade forte de uma universidade pública, reconhecida, da Universidade Federal com o tamanho que ela tem”.

Uma frase que eu disse na primeira reunião do meu governo é que a palavra gasto não cabia para Educação – Lula

Em sua fala o ex-presidente Lula lembrou o atraso do país na criação de sua primeira universidade, inclusive em relação aos outros países da América Latina, entre eles o Peru. “Uma frase que eu disse na primeira reunião do meu governo é que a palavra gasto não cabia para Educação. Era preciso recuperar o atraso secular que o Brasil tinha sido submetido”.

Em vista, Lula teve ainda a oportunidade de conhecer o Memorial da República (Foto: Carolina de Paula)

Afirmou que recebia o documento nessa perspectiva, e que os reitores e comunidade acadêmica precisam pensar também para fora das universidades, já que o mundo que nós conhecíamos mudou. “Nós vamos precisar de vocês para dar a resposta à sociedade de que tipo de emprego nós vamos gerar para a juventude hoje. Eu vou desafiar a Universidade a pensar nisso”.

Em sua visita a Juiz de Fora, Lula ainda visitou o Memorial da República Presidente Itamar Franco, também um equipamento cultural da UFJF, e participou de uma reunião com lideranças cadastradas no ginásio do Sport Clube.