Pesquisadores da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), em parceria com professores da Universidade Federal de São João del-Rei (UFSJ), publicaram dois artigos em periódicos internacionais – um deles sendo classificado como trabalho de destaque pela equipe editorial –, nos quais analisam dados relacionados ao combate à pandemia de Covid-19, como velocidade da vacinação, efetividade das medidas de restrição e o impacto de novas variantes no cenário epidemiológico de diferentes países. Os estudos foram realizados a partir de modelagens matemáticas-computacionais e utilizam dados coletados por autoridades de saúde.
Estudos avaliam que, no Brasil, a imunização em massa contra a Covid-19 foi responsável por salvar cerca de 300 mil vidas
O primeiro artigo, que analisa os impactos da variante Delta em três países distintos (Alemanha, Brasil e Israel), foi publicado pela revista Journal of Computational Science. Já o segundo trabalho, que investiga os efeitos de vacinação, transmissão, letalidade e reinfecção da variante Ômicron nos cenários epidemiológicos do Brasil, da África do Sul e da Alemanha, foi publicado pelo periódico BioTech e categorizado como artigo de destaque (feature paper) pela equipe editorial do mesmo – essa classificação é concedida para pesquisas com potencial significativo de impactar o campo científico.
Reinfecção e cobertura vacinal no contexto da variante Ômicron
Em muitos países, o contágio desenfreado da variante Ômicron significou um ressurgimento da pandemia depois de meses de quedas no número de casos e mortes. Sendo assim, o professor do Departamento de Ciência da Computação e um dos autores das pesquisas, Rodrigo Weber, aponta que países que possuíam baixas coberturas vacinais (como a África do Sul, por exemplo, com aproximadamente 30% da população completamente vacinada em fevereiro de 2022) sofreram um impacto muito maior no número de casos e mortes pela doença.
Nos países analisados, não vacinados têm três a quatro vezes mais chances de óbito pela doença do que aqueles que se vacinaram
O estudo também apontou que as pessoas não vacinadas nos países analisados têm três a quatro vezes mais chances de óbito pela doença do que aqueles que se vacinaram. Para que as modelagens realizadas chegassem próximo aos resultados encontrados na vida real, foi necessário que os pesquisadores realizassem pequenos ajustes no modelo matemático utilizado nas projeções. Ao considerarem o número de possíveis indivíduos que poderiam ser infectados novamente, foi possível chegar a números que corresponderam com os divulgados pelas autoridades nacionais de saúde. De acordo com os pesquisadores, esse é um demonstrativo de como o modelo desenvolvido é uma ferramenta de importância para os órgãos governamentais e as autoridades responsáveis.
Relação entre aumento da taxa de transmissão e a perda natural de imunidade
Weber explica que, diante das análises realizadas no estudo que avaliou as consequências da variante Delta, foi possível observar uma relação importante entre a perda natural de imunidade e o aumento de infecções na população. “Durante nossos estudos, observamos que a taxa de transmissão aumentou muito com a variante Delta em Israel. Como o país foi um dos primeiros a ter 50% de sua população completamente vacinada, em março de 2021 – e tendo também em vista o fato de que perdemos metade dos nossos anticorpos a cada três meses –, percebemos essa relação entre o momento que cada país atingiu metade de sua população totalmente vacinada e a intensidade do impacto causado pela variante Delta”, indica.
Observou-se uma relação importante entre a perda natural de imunidade e o aumento de infecções na população
Desta forma, como grande parte da população israelense estava com o esquema vacinal completo há algum tempo, esses indivíduos estavam mais desprotegidos na época da onda de casos provocada pela variante Delta. No caso do Brasil, o país atingiu metade de sua população vacinada no mesmo momento de expansão da variante no mundo, em outubro de 2021 – o que é um dos principais fatores para explicar a menor taxa de transmissão no país no mesmo período em que Israel enfrentava o pico dos casos. Outro fator que elucida a ausência de um crescimento vertiginoso no cenário brasileiro da variante Delta se deve à alta transmissibilidade da Gama, a variante predominante antes da chegada da Delta. O trabalho também foi capaz de avaliar que, no Brasil, a imunização em massa contra a Covid-19 foi responsável por salvar aproximadamente 300 mil vidas.
Importância das adaptações nos modelos de modelagem computacional
As previsões específicas para cada país somente foram possíveis devido à adaptações de alguns parâmetros específicos para a Covid-19 na utilização de um modelo clássico de modelagem epidemiológica, conhecido como SIRD. “Matematicamente, os modelos são os mesmos, mas os parâmetros que caracterizam cada país são estimados usando dados reais. Aí sim desenvolvemos um modelo específico para cada localidade com seus parâmetros distintos, o que nos permite fazer essas comparações entre os países e os parâmetros, além de confrontar o modelo com a realidade em si”, indica Rodrigo Weber.
Participaram dos estudos, ao lado de Weber, os pesquisadores Bárbara Quintela, Bernardo Rocha, Carolina Xavier, Marcelo Lobosco, Rafael Oliveira, Ruy Reis e Vinícius Vieira.
Pesquisas estão alinhadas aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da ONU
A Coordenação de Divulgação Científica da Diretoria de Imagem Institucional, em parceria com a Pró-Reitoria de Pós-Graduação e Pesquisa (Propp), está promovendo uma estratégia de fortalecimento das ações de pesquisa da Universidade, mostrando que estão alinhadas a um ou mais dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da Organização das Nações Unidas (ONU). Os ODS são um apelo global à ação para acabar com a pobreza, proteger o meio ambiente e o clima e garantir que as pessoas, em todos os lugares, possam desfrutar de paz e de prosperidade.
As pesquisas citadas nesta matéria estão alinhadas com o ODS 3 (Saúde e Bem-Estar).
Outras informações:
Timing the race of vaccination, new variants, and relaxing restrictions during COVID-19 pandemic