Exposição reúne 30 obras de 11 artistas  (Foto: Divulgação)

A identidade é uma construção individual e coletiva, afetada profundamente pelo ontem e pelo hoje. O colonialismo do passado e do presente no Brasil é determinante para a formação da identidade brasileira. “Tomar da carne verbo”, exposição virtual e imersiva que o Memorial da República Presidente Itamar Franco inaugura na próxima sexta-feira, dia 8, discute a decolonialidade através de 30 obras de 11 jovens artistas.

Das concepções subjetivas e íntimas às discussões globais acerca das desconstruções dos padrões e perspectivas impostas aos subalternizados, a mostra desenvolve um discurso em defesa dos rompimentos, das pequenas e das grandes revoluções.

Segunda realização da galeria exclusivamente virtual do Memorial, “Tomar da carne verbo” reafirma o interesse da instituição em manter um dinamismo no ambiente virtual mesmo após a retomada das atividades presenciais. “Nós reinventamos rapidamente nossa maneira de chegar ao público durante o período em que estivemos fechados e repensamos como deve ser nossa reflexão neste espaço. A tendência mundial que vemos é de museus com uma programação híbrida, que englobe ações virtuais e presenciais”, pontua a supervisora do Memorial, Daniella Lisieux.

Para além do discurso oficial

Obra “Nos passos da dança”  (Foto: Divulgação)

Segundo a curadora da exposição, Laura Kasemiro, o Memorial também é espaço para o debate dos alicerces e componentes que se fizeram presentes na construção da República, assim como seus desdobramentos na contemporaneidade. “A partir daí, faz-se a importância de articularmos as temáticas da política, da cultura, da história e da arte em narrativas plurais e, dessa forma, trabalhar em prol de um verdadeiro resgate de memórias que transcendam o discurso oficial, e os estudos decoloniais não poderiam melhor representar esse resgate”, explica Laura, que ainda assina a identidade visual da mostra.

“Buscamos envolver artistas de diferentes tendências, atuando com suportes distintos, da pintura à vídeo-performance, para demonstrar a multiplicidade dessa produção atual e a variedade de possibilidades para o exercício de um discurso”, acrescenta o co-curador da mostra, Mauro Morais. “Lado a lado temos a arte digital de Renata Dorea e a colagem de Ana Berenice. No encontro de obras, à primeira vista tão distintas, identificamos uma potência, um elo. O trabalho da curadoria foi o de gerar fricções.”

Afirmação e validação

“Tomar da carne verbo” também reúne extensa lista de dicas de produtos culturais que ampliam o debate decolonial. E além de Renata e Ana, integram a exposição Augusto Henrique; Dábila Cazarotto; Débora Fioravante; Di França; Ivo Lazarevitch; Paula Duarte; Ramon Vilaça; Terra Assunção; e Walla Capelobo. Em comum, o fato de todos serem jovens vozes da arte contemporânea.

Enquanto o acreano Di França reflete sobre a formação da identidade negra, a juiz-forana Paula Duarte tece críticas ao tratamento dado ao corpo da mulher negra na sociedade hoje. O título da mostra, por sua vez, é extraído de um poema da escritora e professora juiz-forana Laura Assis, de seu livro “Depois de rasgar os mapas”. 

“O primeiro conceito que ocorreu foi pensar a decolonialidade como uma ação geradora, que trabalha ao mesmo tempo pelo resgate e pela criação”, aponta Laura, reforçando a sugestão presente no título. “Esse resgate é o retorno que fazemos à memória e aos saberes que herdamos, voltando ao passado, às raízes de nossa construção identitária, mas também às cicatrizes deixadas por séculos de dominação e apagamento”, diz, para em seguida concluir: “Como mulher negra, a decolonialidade é para mim, principalmente, uma forma de afirmação e validação. Decolonializar é o que todos os sujeitos plurais abarcados pelo termo fazemos ao existir e resistir.”

Outras informações: Museu da República Presidente Itamar Franco

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