Núcleo de Estudos em Violência e Ansiedade Social (Nevas/UFJF), do Programa de Pós-Graduação em Psicologia da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), está realizando uma pesquisa sobre o preconceito relacionado à idade sofrido por idosos. O projeto busca promover a consciência quanto ao ageismo e chamar atenção para sua recorrência no cotidiano, passando muitas vezes despercebido e velado em forma de piadas e brincadeiras.
Responsável pela pesquisa, Iracema Abranches explica que o idadismo – como também é denominado o preconceito etário – gera danos à saúde pública, uma vez que os oprimidos tendem a adoecer, física e mentalmente. “O prejuízo social envolve tanto o isolamento, quanto problemas relacionados ao convívio familiar e grupos externos. Já o prejuízo individual abrange desde a sensação de inutilidade, à perda da identidade como pessoa ativa na sociedade”, acrescenta.
O projeto pretende destacar este preconceito como uma forma de violência nas relações interpessoais, sendo cada pessoa influenciada pelos valores institucionais, públicos e sociais, que podem ser a origem dessas atitudes. “A intenção é promover a consciência, chamar atenção para o preconceito etário presente, inclusive, em piadas, brincadeiras do dia a dia. São sentimentos cotidianos que nem percebemos, mas atingem de forma cruel quem é alvo dele”, diz Iracema. A pesquisa será desenvolvida em ambiente de trabalho, que é um dos principais locais de convívio, onde a capacidade produtiva, a sensação de inutilidade e as relações de poder podem se transformar em espaços para o desenvolvimento de preconceito etário.
A pesquisa
O projeto de pesquisa tem caráter exploratório e correlacional, com abordagens quantitativa e qualitativa na coleta e análise de dados. Seu escopo visa investigar a relação entre a violência no trabalho e a autopercepção, quanto à capacidade e quanto ao assédio moral no ambiente laboral. A violência no trabalho é avaliada pelo ageísmo.
A população a ser entrevistada é composta por servidores públicos Técnico-Administrativos em Educação (TAEs) da UFJF e por funcionários administrativos de três Instituições de Ensino Superior (IES) da rede privada no estado de Minas Gerais. A amostra desta pesquisa será calculada através da aplicação da técnica de amostragem aleatória estratificada, e a proporção de homens e mulheres da amostra será definida com base na proporção observada na população de Juiz de Fora.
O âmbito quantitativo será conduzido por meio do tratamento estatístico dos resultados obtidos a partir da aplicação de escalas de amostra, como a Escala de Ageísmo no Contexto Organizacional (Eaco), o Índice de Capacidade para o Trabalho (ICT) e a Escala Laboral de Assédio Moral (Elam). Já a pesquisa qualitativa será feita com a análise das entrevistas em profundidade por meio da técnica de análise de conteúdo.
Além de Iracema e seu orientador de doutorado, o pesquisador da UFJF Lélio Moura Lourenço, fazem parte da equipe os graduandos de Psicologia Fernanda Bicalho, Isabella de Paula, João Victor Lima, Larissa Alves, Lucas Santos, Ricardo Leite e Samuel Campos.
O ageísmo em dados conceituais
De acordo com revisões da literatura realizadas durante a pesquisa de doutorado de Iracema, verificou-se que o ageísmo teve um aumento significativo na pandemia de Covid-19. As produções indicam, entre outros fatores, que alguns protocolos de internação na pandemia são profundamente preconceituosos, pois consideram somente a idade como critério para internação hospitalar em pandemias e outras urgências. Além disso, sugerem também que o ageismo hostil – sua forma mais agressiva e explícita, marcada por discursos de ódio ou rejeição social e individual aos mais velhos – foi propagado pelas redes sociais e em veículos tradicionais de comunicação, além de denunciarem que o preconceito etário está presente em diferentes culturas, em maior ou menor grau.
A Organização Mundial da Saúde (OMS) definiu duas ações importantes em 2021 para o combate ao ageísmo, a fim de aumentar as políticas públicas que atendam essa parcela da população. A primeira delas é a Década do Envelhecimento Saudável: de 2021 a 2030, uma iniciativa para promover a qualidade de vida dos idosos a partir de quatro áreas de ação: abolir estereótipos e preconceitos com relação à idade e ao envelhecimento, garantir com que as comunidades promovam as capacidades das pessoas idosas, entregar serviços de cuidados de atenção primária à saúde e propiciar o acesso a cuidados de longo prazo aos idosos que necessitem.
Outro material importante sobre o tema é o Relatório Mundial da Saúde 2021: Combate Mundial ao Ageismo, também iniciativa da OMS. Nele, é possível encontrar quais são os impactos do idadismo e possíveis estratégias para reduzi-lo, como políticas e leis, intervenções educacionais e de contato entre gerações.
Pesquisa está alinhada aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da ONU
A Coordenação de Divulgação Científica da Diretoria de Imagem Institucional, em parceria com a Pró-Reitoria de Pós-Graduação e Pesquisa (Propp), está promovendo uma estratégia de fortalecimento das ações de pesquisa da Universidade, mostrando que estão alinhadas a um ou mais dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da Organização das Nações Unidas (ONU). Os ODS são um apelo global à ação para acabar com a pobreza, proteger o meio ambiente e o clima e garantir que as pessoas, em todos os lugares, possam desfrutar de paz e de prosperidade.
A pesquisa citada nesta matéria está alinhada com os ODS 3 (saúde e bem-estar), 8 (trabalho decente e crescimento econômico) e 10 (redução das desigualdades). Confira a lista completa no site da ONU.
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