O professor da Faculdade de Letras da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), André Monteiro, exibe nesta quinta-feira, 24, o filme ‘Carlos, nossa loucura é nossa vitória’. A sessão acontece no Anfiteatro João Carriço (prédio da Funalfa) em dois horários: 19h e 20h, com entrada gratuita.
A produção é fruto do projeto “Nossa Loucura é Nossa Vitória”, aprovado no Edital Pau-Brasil (FUNALFA/Lei Murilo Mendes), com recursos da Prefeitura de Juiz de Fora. O projeto contou ainda com edição de um minilivro e realização de uma performance/intervenção urbana.
O projeto teve como mote o poema “Carlos”, escrito por André Monteiro nos anos 90, reescrito e publicado em seu livro “Cheguei atrasado no campeonato de suicídio” (2014) e, ainda posteriormente musicado e interpretado pelo autor no álbum “OU Sim: música, poesia e outras esquinas”, lançado em 2019.
O poema/canção de Monteiro dialoga, diretamente, com o “Poema de Sete Faces”, de Carlos Drummond de Andrade, escrito no calor modernista dos anos 20 e publicado, em 1930, no livro “Alguma Poesia”. Uma das forças que movem o “Poema de Sete Faces” é a máscara do “Gauche”: a ideia, presente em várias poéticas modernas e modernistas, do poeta como uma “figura desafinada” e “torta” em relação às convenções de “normalidade” e “utilidade” do mundo moderno. O poema “Carlos” (clara referência ao primeiro nome do poeta itabirano) busca atualizar, de modo explícito, a temática: “Carlos, nossa loucura é nossa vitória/ e ela não tarda mais que aurora/ nesse todo dia besta de toda hora”.
O propósito do atual projeto foi dar uma nova roupagem ao poema “Carlos”, ampliando suas possibilidades de linguagem, suporte e recepção. Levou-se o poema às ruas, transformando-o em performance/intervenção urbana. O poeta/performer, em dissonância com o ritmo atarefado e acelerado do “mercado comum da vida humana” e vestido com figurino especialmente elaborado para seu ato, caminhou pelo centro de Juiz de Fora nos dias 24 e 25 de janeiro de 2022 lendo/declamando o poema “Carlos” e interagindo, de modo incidental, com as pessoas que atravessavam seu caminho. O percurso teve como eixos a Rua Halfeld e a Av. Getúlio Vargas. Durante o percurso, o poeta distribuiu uma plaquete (minilivro) do poema “Carlos” aos passantes interessados em adquiri-la. Foi realizado um registro audiovisual de tal performance que resultou na edição de uma experiência de cinepoesia com cerca de 30 minutos de duração.
Em consonância com o propósito do Edital Pau-Brasil, a performance buscou diálogo com o espírito da Semana de Arte Moderna de 22, compreendendo-a como um “estado de invenção” que, ainda hoje, é capaz de produzir diferenças e ampliar possibilidades de vida pelas brechas de nossas conjunturas dominantes.
De modo mais específico, desejou-se atualizar uma das principais propostas das estéticas modernistas: a tentativa de unir arte e vida. Ou seja, incorporar o cotidiano à esfera da arte, deslocando a arte de seu lugar “sagrado” (intocável) e miscigenando temas considerados “elevados” e abstratos à prosa da vida comum. Tratou-se de entregar a poesia à travessia das ruas da cidade e, ao mesmo tempo, instaurar a “loucura” da arte (sua dimensão “inútil”, lúdica e provocadora) à lógica utilitarista, atarefada, apresada e mercadologizada de nossa “vida besta”.
O projeto é, de muitos modos, um desdobramento de pesquisas acadêmicas e artísticas que André Monteiro vem realizando nos últimos anos a respeito do Modernismo Antropofágico, criado por Oswald de Andrade e outros artistas no calor dos anos 20, e temas afins. Como professor da UFJF, desenvolve, desde 2010, junto ao Programa de Pós Graduação Estudos Literários, o projeto “Escritas da subjetividade e resistência: o que se passa entre a filosofia da diferença e a antropofagia?”. Como Bolsista de Produtividade do CNPq, suas pesquisas são marcadas, principalmente, pela investigação dos seguintes temas: modernismo antropofágico, poesia contemporânea, arte e vida no mundo contemporâneo, escrita e produção de subjetividade.
Segundo Monteiro, a ideia é pensar a antropofagia, não apenas como uma estética inscrita no modernismo histórico da cultura brasileira. Mas, também, concebê-la e encará-la como produção de subjetividade. “Sendo uma postura que assume um discurso aberto ao diálogo com o outro, com o conhecimento do outro, com o que lhe é estranho – a antropofagia é também uma subjetividade plural, miscigenada e inconclusa. Podemos pensar que a antropofagia inaugura uma lógica da alteridade não mais compreendida como uma relação binária entre duas identidades fixas, mas como um motor contínuo de “devoração” da vida, o que vale tanto para um corpo particular de um homem específico, quanto para o corpo coletivo de uma cultura. Um corpo antropofágico, compreendido a partir de proporções maiores ou menores, está sempre fora de si, aberto a um estado de composição para além de uma moral identitária pré-estabelecida”, explica o professor.
Ficha técnica do Filme Carlos, Nossa Loucura é Nossa Vitória:
Direção, Roteiro e Performance: André Monteiro
Montagem e Assistência de Direção: Patrícia Almeida
Fotografia e Câmera: Tomyo Costa Ito
Criação e Produção de Figurino: Letícia Nogueira Fonseca
Confecção: Marta da Silva Albuquerque
Aderecista (asas do anjo):Fernando Custódio Valério
Colaboração e Assistência de Produção de Figurino: Dudu Arbex
Operadores de áudio: DJ Poty e André Ribeiro
Arte do Cartaz e diagramação da Plaquete: Felipe Monteiro
Produção: Patrícia Almeida e André Monteiro
Trilha sonora: “Quadrilha de Punks” (Composta e interpretada por Los Românticos Experience)
“Sambinha do Anjo Torto” (Composta e cantada por Markito)
Projeção de estreia: Marcelo Gama
Baseado na Plaquete Carlos.