Apontando o conceito de liberdade religiosa como fundamento das demais liberdades individuais, o professor do Departamento de Filosofia da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), Humberto Schubert Coelho, publicou o livro “História da liberdade religiosa: Da Reforma ao Iluminismo”.
Segundo o autor, a obra ajuda a preencher a grande lacuna no debate acadêmico brasileiro sobre a interação entre filosofia e teologia na modernidade. Os interessados podem adquirir o livro, no valor de R$ 65, no site da Livraria Vozes.
O trabalho surgiu após a pesquisa do professor para a tese de doutorado, que tratou de temas como livre-arbítrio. Na pesquisa, o filósofo especialista em pensamento crítico e liberdade, desfaz o mito de que a liberdade moderna surge da discussão política, mostrando que foram as discussões filosóficas sobre religião que fomentaram a nova percepção de liberdade individual, base da democracia.
“Ao longo do trajeto, percebi que a história da Reforma e a história do Iluminismo estavam conectadas de uma forma muito profunda, e que essa relação era insuficientemente tratada pela literatura. Me propus, então, a escrever uma história completa da liberdade moderna baseada na liberdade religiosa. Essa bandeira começou a ser levantada na Idade Média por figuras contestadoras, como São Francisco, Dante Alighieri, Joana D’Arc, Guilherme de Ockham, John Wycliffe e Jan Huss, consolidando-se apenas mais recentemente, nos nossos dias. Sempre gostei da história da filosofia, da história da religião e da história da política, e o livro é uma tentativa de fundir essas três histórias segundo o ponto axial da liberdade.”
Segundo o professor, para a comunidade acadêmica, o livro ajuda a pormenorizar e detalhar questões muitas vezes abordadas de modo rápido, como o papel específico de filósofos e teólogos no debate sobre a liberdade religiosa. Além disso, aponta a necessidade de se levar a discussão para o plano radical da metafísica, que dá base para se pensar cada conceito como real e válido. “Por ser muito amplo, o texto também ajuda a conectar e contextualizar temas quase sempre muito isolados em pesquisas acadêmicas. Embora essa delimitação seja essencial para o trato especializado, perde-se a visão do todo, da evolução dos conceitos.”
Questão ainda atual
A liberdade religiosa no país segue sendo ameaçada. Frequentemente, crimes motivados por intolerância religiosa são noticiados pelo Brasil. Analisando o panorama nacional, Coelho explica que não há ganhos permanentes na vida coletiva, embora seja também justo lembrar que é impossível retrogradarmos para estágios anteriores. “A consciência coletiva, como a individual, não volta no tempo. Sempre avança, mas pode recalcitrar, perverter-se ou adoecer. É, portanto, absolutamente fundamental que estudemos e discutamos questões como a liberdade, a igualdade, a inclusão, a justiça, pois é o frescor desse debate que aviva essas ideias. As provas que temos da degeneração de certos ideais na esfera prática, social ou política, é o maior atestado da relevância da filosofia para a sociedade.”
Embora a obra seja voltada aos estudantes de graduação e pós-graduação das áreas de Ciências Humanas e Ciências Sociais Aplicadas, o autor acredita que, para a comunidade em geral, o livro é uma ferramenta para combater preconceitos e visões simplistas da história da liberdade em suas dimensões filosóficas.
“Quando finalizamos um livro sobre a liberdade, e sobre a evolução da religiosidade, ficamos impregnados com forte sentimento de esperança. O que as pessoas enfrentaram séculos atrás, os desafios e barreiras que podiam incluir tortura e até morte, e que esses idealistas superaram, pagando altos preços, lembram-nos de que, para o ser humano, não existe o impossível. Tornar o mundo um pouquinho melhor está sempre ao alcance de cada geração”, conclui Coelho.